Não fosse o surgimento dos humanos modernos (Homo sapiens) há cerca de 200 mil anos, a diversidade de grandes mamíferos na Terra seria muito maior do que a vista hoje, e em algumas regiões equivalente à encontrada apenas nas savanas da África atualmente. A conclusão é de estudo de cientistas da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, que avaliou como a ação humana, da caça à destruição de habitats, afetou a evolução e distribuição destes animais pelo planeta, publicado nesta sexta-feira no periódico científico “Diversity and Distributions”.

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Segundo os pesquisadores, o fato de a maior diversidade de grandes mamíferos (com massa corporal acima de 10 quilos) estar na África hoje e não ter comparação em outras regiões da Terra não se deve a limitações climáticas ou ambientais. Num mundo sem humanos, dizem, a maior parte do Norte da Europa não teria apenas lobos, alces ou ursos, mas também animais como elefantes e rinocerontes.

Em um estudo anterior, os cientistas da Universidade de Aarhus liderados por Søren Faurby já tinham demonstrado que a extinção em massa da chamada megafauna durante a última Idade do Gelo (encerrada há cerca de 12 mil anos) e no milênio subsequente se deu em grande parte pela expansão dos humanos modernos pelo planeta, e não pelas alterações ambientais das mudanças climáticas de então. Assim, com base em estimativas da distribuição natural de cada espécie de grande mamífero de acordo com sua ecologia, biogeografia e os padrões ambientais naturais atuais, eles calcularam como seria sua diversidade e distribuição sem o impacto do aparecimento dos humanos modernos.

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“O Norte da Europa está longe de ser o único lugar em que os humanos reduziram a diversidade de mamíferos”, diz Jens-Christian Svenning, um dos pesquisadores responsáveis pelo estudo. “É um fenômeno global. E, na maioria dos locais, há um grande déficit na diversidade de mamíferos do que ela poderia ser naturalmente”.

No mapa atual da diversidade de mamíferos, a África é o único onde ela é alta. Mas no mapa produzido pelos cientistas dinamarqueses, ela seria tão grande também em boa parte do planeta, em particular nas Américas do Norte e do Sul, regiões hoje relativamente pobres em grandes mamíferos.

“A maioria dos safáris hoje acontecem na África, mas sob circunstâncias naturais, tantos ou até mais grandes animais sem dúvida existiriam em outros lugares, notadamente em partes do Novo Mundo (Américas) como no Texas e áreas vizinhas e em regiões em torno do Norte da Argentina e Sul do Brasil”, comenta Faurby. “A razão pela qual tantos safáris têm como destino a África não é que o continente seja anormalmente rico em espécies de mamíferos, e sim reflexo de que é um dos poucos locais onde a atividade humana não fez desaparecer a maior parte dos grandes animais”.

Assim, argumentam os pesquisadores, a existência de tantas espécies de grandes mamíferos na África não é devida a um clima ou ambiente mais propícios para isso, mas porque o continente é o único lugar onde eles não foram praticamente erradicados pelos humanos. Os dados do estudo, disponíveis para outros cientistas, também poderão ajudar outros pesquisadores e análises que visem determinar a biodiversidade em uma área específica e projetos de preservação. Um exemplo disso é a observação de que atualmente um grande número de espécies de mamíferos vive em regiões montanhosas. Normalmente isso interpretado como consequência de variações ambientais naturais, em que diferentes animais evoluíram em vales e outras em montanhas, mas esta tendência, na verdade, seria muito menor de acordo com o novo estudo.

“O atual alto nível de biodiversidade em regiões montanhosas é em parte devido ao fato de as montanhas terem se tornado um refúgio para espécies escaparem da caça e da destruição de seus habitats do que um padrão puramente natural”, argumenta Faurby. “Um exemplo disso na Europa é o urso pardo, que hoje virtualmente vive apenas em regiões montanhosas porque foi exterminado das áreas mais acessíveis e densamente povoadas das planícies”.

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