Berlim Elas chegaram à maioridade junto com a nova Alemanha. Nasceram em 9 de novembro de 1989, o dia da queda do Muro de Berlim, uma data que mudou definitivamente os rumos políticos da Europa. Dezoito anos depois, a Alemanha é governada por uma mulher do Leste, Ângela Merkel, mas o país continua dividido.
Trata-se de uma linha divisória mental, que também reparte Berlim entre Leste e Oeste. Os 75 adolescentes (40 moças e 35 rapazes) que nasceram no dia da queda do Muro comemoraram juntos semana passada seu 18.º aniversário, numa festa que já criou tradição. Ela começou a ser realizada em 1990, quando os bebês completaram 1 ano, por iniciativa do comerciante Dietrich Pusch, que assumiu, por meio de uma associação, a função de padrinho das crianças. Esses adolescentes, que conhecem o Muro apenas através de filmes, parecem ter crescido ligados ao antigo sistema por ouvir dos pais frases como "nem tudo era ruim na RDA" (República Democrática Alemã, a Alemanha Oriental).
Em bairros tipicamente ocidentais de Berlim, como Zehlendorf ou Spandau, o "ossi" (gíria que vem de "ost", Leste, em alemão) sente-se como um estrangeiro. Já nos bairros tipicamente do Leste, como Hellersdorf ou Koepenick, são poucos os ocidentais que se aventuram.
Para Evelin Wittich, diretora da Fundação Rosa Luxemburgo, os problemas existentes hoje são resultado dos erros cometidos logo depois da queda do Muro, quando, segundo ela, os ocidentais chegaram ao leste "como os arrogantes melhoradores do mundo, destruindo empresas que eram boas e tinham capacidade de sobreviver no livre mercado".
Evelin, que tem 57 anos, diz-se hoje desiludida, embora não queira o Muro de volta. A fundação que dirige é ligada ao partido A Esquerda e tem ligações com o PT do Brasil, onde Evelin esteve no ano passado. A situação não é igual à brasileira, mas ela considera comparável.
No lugar do muro de concreto, diz, surgiu a fronteira social, que faz as camadas mais pobres da sociedade, sobretudo no Leste, sentirem-se como perdedoras da reunificação alemã.
Um estudo realizado pelo Instituto Forsa nesta semana revela que 21% dos alemães estão tão insatisfeitos que são favoráveis à construção de um novo muro. Setenta e quatro por cento não querem um retrocesso histórico, mas um porcentual igual dos habitantes do Leste vê-se como "alemães de segunda classe".
Uma onda de "ostalgia", gíria que significa nostalgia do Leste, toma conta da Alemanha 18 anos depois da queda do Muro de Berlim. O Parlamento federal acaba de decidir pela construção de um memorial da unidade.