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Sasa, Israel – Ele cresceu no subúrbio norte de Londres e, por isso, sente falta de coisas como o chá com leite tipicamente britânico e o pub preferido. Esta semana Joe Wainer se juntou a uma unidade de elite do Exército de Israel e agora enfrenta a perspectiva de entrar em ação no terrritório palestino ocupado da Cisjordânia. Aos 19 anos, ele é um dos nove jovens britânicos que decidiu se alistar no programa de recrutamento de judeus estrangeiros, mantido pelas Forças de Defesa de Israel. Wainer diz que só percebeu o quanto sua vida mudou ao atirar pela primeira com um rifle M16, durante o treinamento. "Quando chega a hora da arma, é um grande choque", diz. "O cheiro de pólvora, a reação. É o que não se vê nos filmes."

Os grupo de nove britânicos – seis rapazes e três moças –, todos com dupla nacionalidade, são parte de uma onda de imigrantes que Israel tem recebido, principalmente de países ocidentais, como Grã-Bretanha, França e Estados Unidos, mas também, em menor escala, de nações da antiga União Soviética. Os recrutas britânicos, que chegaram a Israel em agosto, quando a guerra com o Hezbollah estava no auge, acreditam que o Estado Judeu precisa de uma demonstração de solidariedade.

O treinamento começou em setembro. O grupo passou uma temporada dormindo em barracas, aprendendo a obedecer comandos militares e fazendo intermináveis flexões. Um teste de dois dias, em que os recrutas tiveram de escalar colinas carregando sacos de areia, definiu quem podia ir para a linha de frente.

Wainer foi escolhido para a Nahal, uma importante unidade militar que atua na Cisjordânia. No mês passado, soldados da Nahal mataram três palestinos que, segundo o Exército, participavam de organizações terroristas. Embora alguns israelenses se recusem a servir em Gaza ou na Cisjordânia, Wainer não compartilha de seus questionamentos. "Se é uma tarefa que temos de enfrentar, vou cumpri-la", afirma. "O país está sempre sob fogo. Sem o Exército, não haveria Israel."

Por enquanto, o grupo britânico integrado no programa Garin Tsabar, que recruta os judeus mundo afora, vive em Sasa, um kibbutz próximo da fronteira com o Líbano. A colônia formada por casas simples de alvenaria se tornou uma base militar durante a guerra recente. "Lançamos mísseis daqui mesmo", conta Danny Young, 19 anos, outro dos recrutas britânicos, apontando no chão a marca do ponto de lançamento. "Também fomos atingidos por foguetes Katyushas, aqui bem perto."

À direita há a lembrança de uma outra guerra: o pico do Monte Hermon, parte das Colinas de Golã, que Israel anexou na Guerra do Yom Kippur, com a Síria, em 1973. Young, que cresceu em Sothgate, a norte de Londres, também sente falta dos amigos. Seu novo lar, diz, é uma lembrança constante das batalhas. Há veículos militares no pátio e o som incessante de uma indústria próxima, que produz carros blindados e coletes à prova de bala.

Às terças-feiras, um abrigo local é convertido em boate, onde a legião de estrangeiros pode beber, cantar e ouvir canções de Bob Marley.

Young, cujo avô lutou no Exército britânico durante a Segunda Guerra, está se preparando para servir como pára-quedista. Ele resolveu deixar o Reino Unido em busca da própria identidade, deixando para trás o emprego em uma garagem de ônibus em Essex onde, conta, era vítima de anti-semitismo. "Tinha colegas que faziam saudações nazistas e falavam do assunto fazendo piada. No começo não sabiam que eu era judeu, mas não me senti à vontade. Então, resolvi abandonar tudo."

Wainer, por sua vez, se apaixonou pelo sentimento comunitário que vê em Israel. "Há algo místico aqui. É o lar dos antigos judeus, onde tudo começou. É a terra de Abraão e de Moisés. Existe um sentimento de união que falta na Grã-Bretanha. Há muita divisão na sociedade britânica e os grupos estão sempre isolados", compara.

Sob a perspectiva geral, a contribuição britânica para a defesa de Israel é pequena. Mas ela dá estímulo moral ao resto da tropa. "Não é uma questão de número, é questão de intenção", diz Dafna Brenkel, militar israelense que monitora o grupo britânico. "É incrível ver gente de longe nos apoiando, mostrando amor por Israel, abrindo mão de seu conforto, sua casa e sua família."

Servir o Exército é um rito de passagem em Israel, mas também uma experiência que resulta em grandes amizades. Para os estrangeiros, é um caminho mais curto para a integração. "Quando você se alista ao Exército britânico, está só entrando em um grupo militar. É uma profissão. Aqui, não. É um estilo de vida", relata.

No tempo livre, eles costumam acompanhar, na tela do laptop, os episódios de Band of Brothers (série de tevê da HBO sobre a amizade dos soldados da companhia americana que invadiu a Normandia no dia 6 de junho de 1944, o famoso Dia D, durante a Segunda Guerra Mundial). Wainer diz que nunca passou, e espera não passar, pela experiência de ver a perna de um companheiro sendo amputada, como no seriado. Ainda assim, se identifica com que o vê na ficção. "Eles realmente são um grupo de irmãos. E é isso que somos aqui".

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