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América do Sul

Sem o Paraguai, Mercosul aprova a entrada da Venezuela no bloco

Líderes sul-americanos presenteiam o governo venezuelano com uma pintura do retrato do presidente Hugo Chávez, durante encontro do Mercosul, em Mendoza | Juan Mabromata/AFP
Líderes sul-americanos presenteiam o governo venezuelano com uma pintura do retrato do presidente Hugo Chávez, durante encontro do Mercosul, em Mendoza (Foto: Juan Mabromata/AFP)
Defensores de Lugo durante protesto em Ciudad del Este |

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Defensores de Lugo durante protesto em Ciudad del Este

Um entra e outro fica suspenso. A cúpula do Mercosul aceitou a Venezuela como membro pleno – sete anos depois do pedido feito pelo presidente Hugo Chávez – e decidiu manter o Paraguai suspenso do grupo enquanto o presidente Federico Franco, que assumiu o governo após a deposição de Fernando Lugo, governar o país.

As duas medidas foram anunciadas ontem ao fim da reunião do bloco realizada em Mendoza, na Argentina.

O Paraguai era o único dos quatro membros da cúpula que não havia aprovado a entrada da Venezuela – Brasil, Argentina e Uruguai a aceitaram –, alegando que o governo de Chávez não cumpre todas as cláusulas democráticas.

Agora, a entrada da Vene­­zuela será oficializada no dia 31 de julho, no Rio de Janeiro, em encontro extraordinário dos chefes de Estado sul-americanos.

Chávez

Chávez, que não estava em Mendoza, falou à emissora Telesur e demonstrou satisfação com a notícia, afirmando que o seu país passa a fazer parte de um dos grupos mais fortes do mundo, que representa um "escudo contra o imperialismo". Poder esse que vai aumentar com a participação venezuelana. "Temos uma das reservas mais importantes de petróleo, gás e água do mundo", disse.

De acusador a acusado, o Paraguai tem sido criticado pela forma como conduziu o processo de 30 horas que levou ao impeachment de Fernando Lugo na semana passada. Assunção foi suspensa do Mercosul no último domingo e, com a decisão de ontem, continuará assim por mais dez meses, até a próxima eleição, no dia 21 de abril do ano que vem.

"Meu país crê que houve­­ uma ruptura de ordem demo­­crática na República do Para­­guai. Não há no mundo um juízo político ou de qualquer outra natureza que leve apenas duas horas", disse Cristina Kirchner, a presidente da Argentina, ao dar início ao encontro dos chefes de Estado.

"Temos um compromisso democrático fundamental e devemos respeitar a manifestação dos interesses legítimos de nossos povos", ressalvou a presidente Dilma Rousseff, que assumiu a presidência temporária do Mercosul pelos próximos seis meses.

Mais tarde, a União dos­­ Países Sul-Americanos (Una­­sul) respaldou a decisão do­­ Mer­­cosul.

Novo presidente paraguaio diz que país fica livre para buscar acordos

O presidente do Paraguai, Federico Franco, que assumiu o governo após a deposição de Fernando Lugo pelo Congresso, disse ontem que, com a suspensão, o país estará livre para buscar acordos e relações com outros países.

"Ao ser suspenso, o Para­­guai está liberado para tomar decisões. Vamos analisar os custos e benefícios. Vamos fazer o que for mais conveniente para os interesses do Paraguai", afirmou o presidente ao ser questionado sobre a possibilidade de estabelecer acordos comerciais diretos com Estados Uni­­dos, China e outros blo­­cos­­ comerciais.

O governo de Franco classificou a suspensão de ilegal.

O presidente da União In­­ dustrial Paraguaia, Eduardo Felippo, propôs a realização de um plebiscito para decidir sobre a saída do Paraguai do Mercosul, após o anúncio da entrada da Venezuela no bloco. "Consideramos que não são cumpridos os estatutos e o regulamento do Mercosul. Não podem permitir o acesso de nenhum Estado sem que o Paraguai o aceite", disse.

Para o presidente deposto Fernando Lugo, os chefes de Estado do Mercosul resolveram castigar a classe política do Paraguai por ter quebrado a ordem democrática.

Entrevista"Economicamente é interessante o ingresso dos venezuelanos"

Rodolfo Stancki

A entrada da Venezuela no Mercosul foi possível porque Brasil, Argentina e Uruguai consideram o governo venezuelano democrático. Essa análise é da professora de Direito Internacional das Faculdades Integradas do Brasil, Larissa Ramina.

Algumas medidas do governo de Hugo Chávez são classificadas como antidemocráticas. Aceitar a Venezuela e suspender o Paraguai no Mercosul não é uma contradição?

Essa análise é complexa porque precisamos definir se consideramos a Venezuela como antidemocrática. Na visão dos governos do Mercosul – como o de Dilma [Rousseff, no Brasil] e de Cristina [Kirchner, da Argentina] –, Chávez lidera um país progressista e não antidemocrático.

O Mercosul ganha ou perde com a entrada da Venezuela?

A Venezuela é uma grande economia exportadora de petróleo. Em termos econômicos, isso interessa muito. Quanto mais países economicamente interessantes [no Mercosul], melhor. Mas é preciso certa margem de manobra para fazer com que os países não se envolvam nesses imbróglios que, muitas vezes, o presidente Hugo Chávez leva a Venezuela a se complicar.

São países que pertencem a outras entidades de integração. Temos aí entre oito e nove projetos de integração regional na América Latina e não é fácil conciliar. São negociações bastante complexas. Também tem a questão de que, se o Mercosul fechar acordos com outros países, deixamos de lado a integração do cone sul e entramos em uma integração continental.

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