Um entra e outro fica suspenso. A cúpula do Mercosul aceitou a Venezuela como membro pleno sete anos depois do pedido feito pelo presidente Hugo Chávez e decidiu manter o Paraguai suspenso do grupo enquanto o presidente Federico Franco, que assumiu o governo após a deposição de Fernando Lugo, governar o país.
As duas medidas foram anunciadas ontem ao fim da reunião do bloco realizada em Mendoza, na Argentina.
O Paraguai era o único dos quatro membros da cúpula que não havia aprovado a entrada da Venezuela Brasil, Argentina e Uruguai a aceitaram , alegando que o governo de Chávez não cumpre todas as cláusulas democráticas.
Agora, a entrada da Venezuela será oficializada no dia 31 de julho, no Rio de Janeiro, em encontro extraordinário dos chefes de Estado sul-americanos.
Chávez
Chávez, que não estava em Mendoza, falou à emissora Telesur e demonstrou satisfação com a notícia, afirmando que o seu país passa a fazer parte de um dos grupos mais fortes do mundo, que representa um "escudo contra o imperialismo". Poder esse que vai aumentar com a participação venezuelana. "Temos uma das reservas mais importantes de petróleo, gás e água do mundo", disse.
De acusador a acusado, o Paraguai tem sido criticado pela forma como conduziu o processo de 30 horas que levou ao impeachment de Fernando Lugo na semana passada. Assunção foi suspensa do Mercosul no último domingo e, com a decisão de ontem, continuará assim por mais dez meses, até a próxima eleição, no dia 21 de abril do ano que vem.
"Meu país crê que houve uma ruptura de ordem democrática na República do Paraguai. Não há no mundo um juízo político ou de qualquer outra natureza que leve apenas duas horas", disse Cristina Kirchner, a presidente da Argentina, ao dar início ao encontro dos chefes de Estado.
"Temos um compromisso democrático fundamental e devemos respeitar a manifestação dos interesses legítimos de nossos povos", ressalvou a presidente Dilma Rousseff, que assumiu a presidência temporária do Mercosul pelos próximos seis meses.
Mais tarde, a União dos Países Sul-Americanos (Unasul) respaldou a decisão do Mercosul.
Novo presidente paraguaio diz que país fica livre para buscar acordos
O presidente do Paraguai, Federico Franco, que assumiu o governo após a deposição de Fernando Lugo pelo Congresso, disse ontem que, com a suspensão, o país estará livre para buscar acordos e relações com outros países.
"Ao ser suspenso, o Paraguai está liberado para tomar decisões. Vamos analisar os custos e benefícios. Vamos fazer o que for mais conveniente para os interesses do Paraguai", afirmou o presidente ao ser questionado sobre a possibilidade de estabelecer acordos comerciais diretos com Estados Unidos, China e outros blocos comerciais.
O governo de Franco classificou a suspensão de ilegal.
O presidente da União In dustrial Paraguaia, Eduardo Felippo, propôs a realização de um plebiscito para decidir sobre a saída do Paraguai do Mercosul, após o anúncio da entrada da Venezuela no bloco. "Consideramos que não são cumpridos os estatutos e o regulamento do Mercosul. Não podem permitir o acesso de nenhum Estado sem que o Paraguai o aceite", disse.
Para o presidente deposto Fernando Lugo, os chefes de Estado do Mercosul resolveram castigar a classe política do Paraguai por ter quebrado a ordem democrática.
Entrevista"Economicamente é interessante o ingresso dos venezuelanos"
Rodolfo Stancki
A entrada da Venezuela no Mercosul foi possível porque Brasil, Argentina e Uruguai consideram o governo venezuelano democrático. Essa análise é da professora de Direito Internacional das Faculdades Integradas do Brasil, Larissa Ramina.
Algumas medidas do governo de Hugo Chávez são classificadas como antidemocráticas. Aceitar a Venezuela e suspender o Paraguai no Mercosul não é uma contradição?
Essa análise é complexa porque precisamos definir se consideramos a Venezuela como antidemocrática. Na visão dos governos do Mercosul como o de Dilma [Rousseff, no Brasil] e de Cristina [Kirchner, da Argentina] , Chávez lidera um país progressista e não antidemocrático.
O Mercosul ganha ou perde com a entrada da Venezuela?
A Venezuela é uma grande economia exportadora de petróleo. Em termos econômicos, isso interessa muito. Quanto mais países economicamente interessantes [no Mercosul], melhor. Mas é preciso certa margem de manobra para fazer com que os países não se envolvam nesses imbróglios que, muitas vezes, o presidente Hugo Chávez leva a Venezuela a se complicar.
São países que pertencem a outras entidades de integração. Temos aí entre oito e nove projetos de integração regional na América Latina e não é fácil conciliar. São negociações bastante complexas. Também tem a questão de que, se o Mercosul fechar acordos com outros países, deixamos de lado a integração do cone sul e entramos em uma integração continental.