Criança segura um bebê no campo de refugiados de Idlib, na própria Síria| Foto: KHALIL ASHAWI/REUTERS

Muitos têm qualificação profissional e, na Síria, viviam uma situação confortável. Mas, longe de seu país de origem, encaram uma realidade de quem precisa recomeçar do zero. Apesar de abrir as portas para os refugiados, o Brasil não oferece programas específicos de ajuda financeira para eles.

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Sem renda, muitos dos refugiados têm recorrido a um programa originalmente criado para retirar brasileiros da miséria, o Bolsa Família, como revela reportagem da BBC publicada nesta quarta-feira (14).

De acordo com levantamento da rede de notícias britânica, 400 imigrantes sírios -- dos 2.097 atualmente no país -- estão inscritos no programa. Os dados são de julho e o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome não informou o valor recebido pelos refugiados. O benefício médio do programa é de R$ 167 mensais por família.

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Segundo a BBC, o número de sírios que recorrem ao Bolsa Família tem crescido desde 2013. Naquele ano, sete famílias com pelos menos um sírio contavam com o auxílio. Hoje são 163.

“Principalmente no período da chegada, os sírios têm renda zero. É preciso analisar o que está acontecendo”, disse Larissa Leite, da organização de direitos humanos Cáritas. Dificuldades com o aprendizado da língua portuguesa e a crise econômica são os principais impeditivos aos recém-chegados no Brasil.

“Possivelmente a gente ainda vai ter algum aumento. À medida que a documentação das famílias for ficando pronta, que o direito de residência for concedido, pode ser que mais famílias solicitem o benefício”, afirmou à BBC o secretário de Renda da Cidadania do ministério, Helmut Schwarzer.

Polêmica

Não há impedimento para que estrangeiros participem do Bolsa Família -- desde que, obviamente, estejam regularizados no país e atendam os parâmetros de participação (renda familiar de até R$ 77 por pessoas ou R$ 154 quando houver crianças e adolescentes).

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Apesar disso, a inclusão é uma medida que divide especialistas.

Ouvida pela reportagem, Sonia Rocha, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), disse que a participação dos refugiados “tira o foco” do problema e afirma que deveria haver “mecanismos próprios” para atender os refugiados. Sônia sustenta que a situação deles é temporária e não de quem precisa de um apoio no combate à miséria.

Por outro lado, a coordenadora do Centro de Estudos sobre Desigualdade e Desenvolvimento da Universidade Federal Fluminense, Celia Kerstenetzky, disse que “não há tempo racionalidade” e que a inclusão no programa é uma resposta imediata e necessária à crise humanitária.

O secretário de Renda do ministério, no entanto, apontou que pode haver mudanças nas perspectivas para o refugiado no médio e até curto prazo. Mas, enquanto os imigrantes continuarem na faixa de renda prevista para o Bolsa Família, “o benefício vai continuar sendo pago”.

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