Mogadiscio Triunfantes tropas do governo interino somali marcharam ontem pelas ruas de Mogadiscio, após as milícias União das Cortes Islâmicas abandonarem a capital, capturada em junho. O líder das milícias, xeque Sharif Ahmed, disse que a retirada foi tática, para evitar o derramamento de sangue, e acrescentou que está determinado a expulsar as forças etíopes, que têm apoiado o governo somali. Segundo Ahmed, Mogadiscio voltou a ser tomada pelo caos.
O primeiro-ministro somali, Mohamed Ali Gedi, confirmou a entrada de suas tropas em Mogadiscio após um encontro com líderes de clãs na vizinha cidade de Afgoye. Mas ele não esclareceu se as forças etíopes também entraram na capital.
A maioria dos somalis não gosta dos etíopes, os vizinhos cristãos com quem o país viveu vários conflitos. A Etiópia, assim como os EUA, acusam as milícias islâmicas de terem ligações com a rede Al Qaeda.
"Agora estamos coordenando nossas forças para tomar o controle de Mogadiscio", disse Gedi, que foi saudado em Afgoye por dezenas de líderes tradicionais e centenas de soldados do governo e da vizinha Etiópia, que há cerca de dez dias vêm combatendo as milícias islâmicas. Os líderes de clãs que se reuniram com Gedi prometeram ajudar a recolher as armas dos milicianos restantes na capital.
A retirada das milícias islâmicas na madrugada de ontem foi seguida por saques cometidos por membros de clãs, trazendo à memória o caos que tomava conta de Mogadiscio antes da chegada da União das Cortes Islâmicas, que impuseram a sharia (lei islâmica) nas cidades capturadas. Pelo menos cinco pessoas morreram ontem durante os saques ou nos tiroteios, que podiam ser ouvidos em várias partes da capital.
Muitos saudaram a chegada das tropas do governo, mas a maioria da população estava aterrorizada com a fuga dos que, segundo os moradores, haviam conseguido levar a segurança a Mogadiscio. "Vivemos em paz durante os últimos seis meses. Creio que o inferno começará agora e os assassinatos serão retomados", disse Hassim Jeele Hassan, morador de Mogasdiscio.
O primeiro-ministro etíope, Meles Zenawi, afirmou ontem que os combates registrados na Somália nos últimos dias causaram entre 2 e 3 mil mortes nas fileiras islâmicas. Em entrevista, Zenawi não forneceu números sobre as baixas no Exército da Etiópia.
Praticamente desde o início da guerra civil na Somália, em 1991, até junho deste ano, Mogadiscio era governada por grupos rivais de senhores da guerra que chantageavam e aterrorizavam a população.
O governo e seus aliados etíopes prometeram trazer a ordem a Mogadiscio. Mas, agora, os clãs podem voltar aos combates e rejeitar a autoridade do governo.