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Estados Unidos

Guerra, saúde frágil, desgaste: as semelhanças entre Biden e Lyndon Johnson, que desistiu em 1968

Lyndon Johnson presta o juramento no avião presidencial após o assassinato de John Kennedy, em novembro de 1963 (Foto: EFE/yv)

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Ao anunciar no domingo (21) que desistiu de buscar a reeleição, após semanas de pressão de colegas de partido, órgãos de imprensa progressistas e doadores de campanha, Joe Biden se tornou o primeiro presidente em exercício dos Estados Unidos desde o também democrata Lyndon Johnson, em 1968, a não tentar um novo mandato embora ainda tivesse a possibilidade de fazê-lo.

Os dois presidentes tinham alguns pontos em comum nas suas trajetórias, inclusive nas razões que os levaram a desistir de buscar a reeleição. Mas também há diferenças significativas. Confira abaixo:

Herança política

Tanto Johnson quanto Biden foram vices de dois presidentes importantes do Partido Democrata: John Kennedy e Barack Obama, respectivamente.

Uma diferença importante, entretanto, está nas circunstâncias em que chegaram à Casa Branca. Johnson se tornou presidente em 1963, após o assassinato de Kennedy, e depois foi eleito em 1964. Pela legislação americana, poderia tentar um novo mandato quatro anos depois, mas não quis.

Já Biden chegou à Casa Branca eleito como cabeça de chapa em 2020 – Obama havia completado seu mandato e sido substituído pelo republicano Donald Trump em janeiro de 2017. Mesmo havendo questionamentos sobre sua idade, Biden ganhou as primárias democratas de 2020 e depois venceria o magnata nova-iorquino na eleição de novembro.

Saúde frágil

A situação de saúde de Johnson causava preocupação no momento em que decidiu não concorrer novamente em 1968. Em 1967, ele havia passado por cirurgias para retirada da vesícula e de cálculos renais e enfrentado uma infecção respiratória grave e problemas cardíacos.

Porém, abriu mão da corrida eleitoral com uma idade bem abaixo da que Biden tem hoje: em março de 1968, tinha 59 anos (Johnson morreria em 1973), enquanto o atual presidente tem 81.

Biden tem já há alguns anos sua condição de saúde mental questionada, dúvidas que aumentaram após seu desempenho desastroso no debate com Trump no último dia 27.

Momento da desistência

Aqui, há uma grande diferença. Biden desistiu num momento em que as primárias democratas já haviam acabado – numa situação normal, a Convenção Nacional Democrata, que será realizada em agosto em Chicago, seria apenas uma formalidade para ele garantir a indicação do partido.

Entretanto, devido ao seu desempenho ruim no debate, havia uma grande incerteza sobre o que aconteceria no encontro. Agora, com grandes nomes do Partido Democrata apoiando Kamala Harris, vice de Biden, ela se tornou a favorita numa nova disputa interna que terá que ser resolvida às pressas.

Já Johnson anunciou em março de 1968 que não tentaria a reeleição, bem antes das eleições de novembro. Seu vice, Hubert Humphrey, acabou vencendo a indicação democrata, mas foi derrotado na eleição pelo republicano Richard Nixon.

Pressão pela guerra

Em 1968, Johnson era pressionado por setores mais à esquerda em razão da Guerra do Vietnã, assim como Biden é questionado hoje pelas mesmas vozes pelo apoio a Israel no conflito com o grupo terrorista Hamas.

Porém, nesse caso, os Estados Unidos apenas ajudam um aliado com envio de armas, ao contrário do conflito no Sudeste asiático, quando enviaram tropas diretamente para auxiliar o Vietnã do Sul.

Os problemas de saúde e os baixos índices de popularidade, em grande parte devido à guerra, levaram Johnson à desistência.

Além do conflito na Faixa de Gaza, Biden também é questionado pela guerra na Ucrânia, mas neste caso, pela oposição republicana, que critica os gastos com a ajuda a Kiev sem que haja perspectiva de um acordo de paz. A alta inflação ao longo do seu mandato e a crise migratória foram outros fatores de desgaste para o presidente democrata.

Adversário “ressuscitado”

Assim como em 1968, os democratas enfrentarão na eleição presidencial de novembro um candidato republicano que havia sido descartado, mas que acabou se recuperando e “ressuscitando” politicamente.

Richard Nixon havia sido vice-presidente dos Estados Unidos e foi o candidato do seu partido em 1960, mas perdeu para John Kennedy. Não foi o indicado em 1964, mas voltou em 1968, desta vez para vencer a disputa. Sua presidência acabou em vexame, entretanto, com a renúncia em 1974 (no segundo mandato), devido ao escândalo de Watergate.

Trump perdeu para Biden em 2020 e, com a invasão dos seus apoiadores ao Capitólio em 2021, seus processos judiciais e a derrota de candidatos apoiados por ele nas eleições de meio de mandato de 2022, parecia estar em baixa dentro do Partido Republicano.

Porém, insistiu na sua pré-campanha e venceu facilmente as primárias. Na semana passada, foi formalizado como o candidato do partido na convenção realizada em Milwaukee.

Mais coincidências

O republicano que se anima com a possibilidade de uma vitória de Trump em novembro devido a essas semelhanças com a situação antes da vitória de Nixon em 1968 pode se empolgar com outras três coincidências.

A Convenção Nacional Democrata do mês que vem será em Chicago, que também recebeu o evento do partido há 56 anos. Pouco mais de dois meses depois, o partido de Lyndon Johnson foi derrotado na eleição presidencial de 5 de novembro – mesma data da que será realizada este ano.

O terceiro ponto é que um terceiro candidato, Robert Kennedy Junior, tem chance de ter uma grande porcentagem de votos este ano, como ocorreu em 1968: naquela ocasião, o independente George Wallace teve 13,5%.

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