O Senado americano realizou duas votações históricas nesta quinta-feira (13), para acabar com a participação dos EUA no esforço de guerra liderado pelos sauditas no Iêmen e para condenar o príncipe herdeiro saudita como responsável pelo assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, dando claras repreensões políticas à continuada parceria do presidente Donald Trump com o reino.
A votação unânime para considerar o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman responsável pelo assassinato de Khashoggi reflete como os senadores de ambos os partidos se cansaram da defesa continuada de Trump das negativas de Mohammed. Também coloca uma pressão significativa sobre os líderes na Câmara – onde a política do presidente para a Arábia Saudita é uma questão muito mais partidária – para permitir que os membros votem de forma semelhante condenando o príncipe herdeiro antes do final do ano.
Leia também: Dois lados da guerra no Iêmen concordam com cessar-fogo em cidade chave
Independentemente disso, os dois votos do Senado nesta quinta-feira prepararam o palco para debates estratégicos mais amplos sobre a política saudita no retorno do Congresso no próximo ano.
Pouco antes de o Senado ter votado para condenar Mohammed pelo assassinato de Khashoggi, os senadores votaram para encerrar a participação dos EUA na campanha liderada pelos sauditas no Iêmen, invocando a Resolução dos Poderes de Guerra – a primeira vez que uma câmara do Congresso faz isso. O resultado ficou em 56 a 41 votos.
Mais importante ainda, a maioria de 56 votos – um número que inclui sete republicanos – sugere que os críticos dos sauditas ainda terão uma maioria no ano que vem para desafiar Trump na política saudita. Republicanos e democratas disseram que planejam aplicar sanções contra autoridades sauditas envolvidas no assassinato de Khashoggi, impedir a transferência de armas não-defensivas até que as forças da Arábia saiam do Iêmen e outras medidas para conter um príncipe herdeiro que muitos legisladores consideram fora de controle.
Leia também: Cidade do Iêmen sofre com violência de disputas internas de milícias
“Hoje dizemos ao regime despótico na Arábia Saudita que não faremos parte de seu aventureirismo militar”, disse o senador Bernie Sanders (independente), que co-patrocinou a resolução do Iêmen com o senador Mike Lee (republicano). “Hoje, pela primeira vez, vamos avançar... e dizer ao presidente dos Estados Unidos e a qualquer presidente (...) que a responsabilidade constitucional de fazer a guerra está no Congresso dos Estados Unidos, não na Casa Branca”.
Os votos vieram apenas algumas horas depois que o secretário de Estado, Mike Pompeo, e o secretário da Defesa, Jim Mattis, tiveram uma sessão com deputados a portas fechadas.
Uma recente avaliação da CIA descobriu que Mohammed foi provavelmente responsável pelo assassinato de Khashoggi, um colunista colaborador do Washington Post, em um consulado saudita em Istambul no dia 2 de outubro.
“Eles têm que ser responsabilizados”, disse o deputado Eliot Engel (democrata), após o briefing, referindo-se a Mohammed e ao rei saudita Salman.
Mas ainda há republicanos na Câmara que defendem o príncipe herdeiro – e aqueles que pensam que, mesmo que ele deva ser repreendido por seu envolvimento na morte de Khashoggi, a punição deveria parar por aí.
“Nós reconhecemos que matar jornalistas é absolutamente perverso e desprezível, mas realinhar completamente nossos interesses no Oriente Médio como resultado disso, quando, por exemplo, os russos matam jornalistas... a Turquia aprisiona jornalistas?” O deputado Adam Kinzinger (republicano) disse. “Não é um mundo sem pecado lá fora”.
Leia também: Saudita morto, repórteres investigativos e jornal atacado são ‘pessoas do ano’ da Time
Isso contrasta com o Senado, onde vários republicanos têm encorajado uma ampla resposta à Arábia Saudita não apenas pelo assassinato de Khashoggi e à guerra no Iêmen, mas também ao bloqueio do reino no Qatar, à recente detenção do primeiro-ministro libanês Saad Hariri e à lista de violações dos direitos humanos que eles dizem ter comprometido a aliança EUA-Arábia Saudita.
Trump recusou-se a condenar Mohammed pelo assassinato de Khashoggi, um cidadão saudita. Pompeo ecoou a posição de Trump em entrevistas públicas e a portas fechadas, disseram legisladores.
“Tudo o que ouvimos hoje foram mais esquivas vergonhosas pela secretaria”, disse o deputado Lloyd Doggett (democrata), que apoia a abertura de uma resolução de Poderes de Guerra na Câmara para cortar o apoio dos EUA ao esforço de guerra saudita no Iêmen. Na quarta-feira, a Câmara dos Deputados votou com margem estreita para impedir que membros de base exigissem uma votação no plenário sobre uma resolução para o Iêmen.
Os líderes da Câmara também se reuniram com a diretora da CIA, Gina Haspel, na quarta-feira para ouvir os detalhes do assassinato de Khashoggi. Mas eles ofereceram poucos detalhes sobre o briefing – ou sobre que passo os democratas da Câmara tomariam, quando assumirem a maioria em janeiro, para buscar medidas mais punitivas contra a Arábia Saudita, além de realizar audiências.
Enquanto isso, no Senado, legisladores republicanos e democratas estão planejando capitalizar a votação no Iêmen com medidas adicionais no ano que vem – incluindo sanções a Mohammed e outros sauditas implicados no assassinato de Khashoggi, e uma ordem para suspender todas as transferências de armas não-defensivas para a Arábia Saudita até que cessem as hostilidades no Iêmen.
“O atual relacionamento com a Arábia Saudita não está funcionando para os Estados Unidos”, disse o senador Lindsey Graham (republicano) a repórteres sobre os próximos passos que os senadores planejavam tomar para abordar a política saudita. “Eu nunca vou deixar isso passar até que as coisas mudem na Arábia Saudita”.
Deixe sua opinião