A presidente do Comitê de Inteligência do Senado dos EUA, Dianne Feinstein (Partido Democrata, Califórnia) divulgou ontem partes de um relatório de 6,3 mil páginas sobre o programa de detenções e interrogatórios implementado pela CIA (Agência Central de Inteligência) depois dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. O relatório diz que o programa foi "muito mais brutal" do que havia sido divulgado e que a CIA deu informações erradas ao Legislativo e ao público sobre sua execução.
"Este documento examina a detenção secreta de pelo menos 119 indivíduos e o uso de técnicas coercivas de interrogatório, que em alguns casos equivaliam a tortura", disse a senadora ao apresentar o relatório. A investigação do Comitê de Inteligência do Senado durou cinco anos. A Casa Branca e a própria CIA eram contra sua divulgação, ainda que parcial, e o Corpo de Fuzileiros Navais e as embaixadas dos EUA em todo o mundo foram colocadas ontem em alerta de segurança.
O sumário apresentado por Feinstein, de 500 páginas, traz 20 conclusões, entre elas as de que o programa era "profundamente falho", que a CIA chegou a perder conhecimento do paradeiro de alguns suspeitos e que pelo menos um prisioneiro foi submetido ao "waterboarding" (afogamento simulado) até perder a consciência, o que não constava em nenhum relatório divulgado anteriormente.
Na sede da CIA em Langley (Virgínia), o diretor da agência John Brennan, reconheceu erros, mas contestou a acusação de que o programa foi ineficaz. "Nem sempre mantivemos os altos padrões que estabelecemos para nós mesmos e que o povo americano espera de nós Aprendemos com aqueles erros", disse Brenner.
Em sua resposta oficial ao relatório do Senado, que foi submetido em junho de 2013, a CIA disse que "a soma total de informações fornecidas por detidos sob custódia da CIA fizeram avançar substancialmente a compreensão estratégica e tática da agência sobre o inimigo, de maneiras que continuam a informar os esforços antiterrorismo até hoje". Mas o relatório diz que o tratamento brutal dos detidos não levou a informações importantes que chegassem a impedir um único ato terrorista.
Omissão
A investigação feita pelos senadores também determinou que em 2003 altos funcionários da Casa Branca decidiram não dar informações a integrantes do primeiro escalão do governo. De acordo com um advogado da CIA citado nos documentos, aquela decisão aparentemente era um esforço para evitar o envio das informações ao então secretário de Estado, o ex-general Colin Powell. "A CIA forneceu informações erradas para a Casa Branca, o Congresso, o Departamento de Justiça, o inspetor-geral da própria CIA e o público americano", diz o documento.
Depois da divulgação do relatório, o presidente Obama disse que seus detalhes são "perturbadores". "Essas técnicas causaram um dano significativo à posição dos EUA no mundo e tornaram mais difícil defender nossos interesses com parceiros e aliados. É por isso que continuarei a usar minha autoridade como presidente para assegurar que nunca recorreremos a esses métodos novamente", afirmou em comunicado divulgado pela Casa Branca.
A existência do programa de detenções e interrogatórios foi tornada pública em 2005, por uma reportagem do Washington Post; o governo Bush só reconheceu sua existência em 2006.
Detenções e interrogatórios
Desenvolvido por dois psicólogos, o programa de detenções e interrogatórios da CIA foi baseado em um treinamento da Escola de Sobrevivência, Evasão, Resistência e Escapada da Força Aérea (Sere) para ensinar os militares norte-americanos a resistirem a torturas em caso de captura.