O senador Edward Kennedy, principal voz liberal no Congresso dos EUA, comparou nesta segunda-feira as enormes manifestações de imigrantes no país ao movimento dos negros pelos direitos civis há meio século. Em Washington, onde participou de manifestações em favor da aprovação da reforma da imigração, Kennedy disse estar confiante, apesar da divisão que o tema provoca no Congresso.
- Isso lembra o movimento pelos direitos civis - disse o democrata, eleito pela primeira vez para o Senado em 1962. - É igual em termos de intensidade e de sentimentos entre os grupos.
O parlamentar, de 74 anos, é considerado um defensor dos pobres e dos excluídos nos EUA. Agora, ele lidera a iniciativa bipartidária para reformular as leis de imigração de forma a reforçar a segurança das fronteiras e ao mesmo tempo permitir que grande parte dos cerca de 12 milhões de imigrantes ilegais obtenham cidadania.
Em troca, os beneficiados precisariam trabalhar, pagar impostos, aprender inglês e cumprir outras exigências.
Críticos da medida, entre os quais sindicatos que se opõem ao programa de trabalhadores temporários e conservadores preocupados com a permeabilidade das fronteiras, vêem no projeto uma forma de anistia que incentivaria ainda mais a imigração ilegal. Mas os defensores da proposta, entre os quais muitos patrões, consideram os imigrantes, sejam legais ou não, essenciais para a economia.
- Acho que teremos uma lei de imigração - disse Kennedy em seu gabinete no Senado. - A questão não vai embora.
O senador disse torcer para que o presidente George W. Bush - um republicano com o qual ele teve inúmeras desavenças no passado - continue defendendo a reforma da imigração, de modo a criar o programa de trabalhadores temporários.
- Ele vem sofrendo muita pressão dos membros do seu próprio partido - lembrou Kennedy, para quem Bush obteria uma grande vitória caso convencesse o Congresso a aprovar suas propostas. - É uma questão relevante do nosso tempo. (A aprovação) seria um grande feito para ele e para o nosso país.
Embora os EUA tenham se formado como uma nação de imigrantes, há crescente descontentamento nos últimos anos com o sistema, criticado de forma quase unânime por ter provocado um afluxo de estrangeiros clandestinos.
Houve ampla oposição, especialmente na comunidade latina, ao projeto aprovado na Câmara que transforma em criminosos quase todos os imigrantes ilegais, prevê a construção de uma cerca na fronteira EUA-México e pune norte-americanos que tentem ajudar trabalhadores ilegais.
Centenas de pessoas foram às ruas contra esse projeto nos últimos dias.
- Acho que os republicanos tocaram um nervo muito sensível ao falarem em criminalização dos sem-documentos - disse Kennedy.
Para muitos imigrantes ilegais, a criminalização aumenta "sua sensação de medo e incerteza", acrescentou.
- Eles querem ser parte do 'Sonho Americano' e ter seus filhos como parte desse sonho também.
Kennedy lembrou que há meio século seu irmão John, então presidente, declarou que os EUA eram "uma nação de imigrantes".
A negociação por um acordo no Senado fracassou na sexta-feira, em meio a disputas sobre possíveis emendas que poderiam, na prática, acabar com o projeto. Kennedy disse esperar que os problemas sejam resolvidos após o recesso parlamentar, no fim do mês.
- Há uma onda de apoio a esta proposta que efetivamente resolvemos de forma fortemente bipartidária - disse o senador.
No discurso que preparou para a manifestação de segunda-feira, ele evoca a memória de um dos principais líderes populares da história norte-americana, que ainda não encontrou um equivalente entre os imigrantes que protestam hoje em dia.
- Há mais de quatro décadas, perto daqui, Martin Luther King pedia à nação que deixasse a liberdade se fazer ouvir - disse Kennedy. - A liberdade se fez ouvir - e a liberdade pode se fazer ouvir outra vez. É hora de que os americanos ergam sua voz - com orgulho por nosso passado imigrante e orgulho por nosso futuro imigrante.
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