• Carregando...

Mais de 20 países, a maior parte deles na Europa, foram coniventes com a "rede mundial de espionagem" que envolveu prisões secretas da CIA e a transferência de supostos terroristas, afirmou um órgão europeu de defesa dos direitos humanos na quarta-feira. No relatório produzido pelo órgão, a rede é chamada de "teia de aranha".

Países do Oriente Médio e da região central da Ásia participaram da rede comandada pela CIA (agência de inteligência dos EUA), e os governos europeus estavam cientes ou também participaram da operação, afirmou em relatório a assembléia parlamentar do Conselho da Europa.

- Hoje está claro, apesar de ainda estarmos longe de termos descoberto toda a verdade, que as autoridades de vários países europeus participaram ativamente dessas atividades ilegais ao lado da CIA - afirmou o senador suíço Dick Marty, do Conselho da Europa. - Outros países ignoraram esses fatos voluntariamente ou não quiseram saber deles - disse, na conclusão do relatório de 65 páginas divulgado no site do organismo.

Apesar de o documento admitir não dispor de "provas formais" sobre a existência dos centros de detenção secretos comandados pela CIA, ele afirma que vários países foram coniventes com o sistema de vôos secretos e transferências secretas implantados pela CIA. Essas transferências são chamadas de "rendições".

As acusações incluem o seguinte:

* Polônia e Romênia permitiram a criação de centros de detenção em seus territórios

* Alemanha, Turquia, Espanha, Chipre e Azerbaijão serviram de "pontos de preparação" para os vôos envolvendo a transferência ilegal de detentos

* Irlanda, Grã-Bretanha, Portugal, Grécia e Itália serviram de "pontos de parada" para vôos envolvendo a transferência ilegal de detentos

* Suécia, Bósnia, Grã-Bretanha, a ex-República iugoslava da Macedônia, Alemanha e Turquia entregaram suspeitos aos EUA

* Cairo, Amã, Islamabad, Rabat, Cabul, a baía de Guantánamo, Tashkent, Argel e Bagdá serviram como pontos de transferência e de desova dos detentos

Difamação

O primeiro-ministro da Polônia, Kazimierz Marcinkiewicz, disse que o relatório era uma mentira. Muitos governos, porém, receberam-no sem se manifestar.

- Essas acusações são uma difamação. Elas não se baseiam em fato nenhum e isso é tudo o que sei e é tudo o que tenho a dizer - afirmou o premiê polonês a repórteres no Parlamento do país.

Apesar da falta de provas "contundentes", Marty disse haver "vários elementos coerentes e convergentes indicando que centros secretos de detenção existiram realmente e que transferências ilegais entre países ocorreram na Europa".

Informações sobre vôos fornecidas em janeiro e fevereiro pela Eurocontrol ajudaram a identificar a rede de vôos, os centros de detenção e os pontos de parada usados em meio ao sistema elaborado pelos norte-americanos.

Segundo Marty, dez casos envolvendo 17 pessoas haviam sido descobertos. Mas a autoridade observou que muitos dos 46 países-membros do Conselho da Europa haviam se negado a fornecer informações e que outros casos podem ser identificados.

Investigadores da União Européia (UE) disseram no mês passado acreditar que, desde os ataques de 11 de setembro de 2001, algo entre 30 e 50 pessoas tinham sido entregues pelos EUA para países onde elas corriam o risco de serem torturadas.

Apesar de o tratamento dispensado aos suspeitos "não parecer chegar aos limites da tortura, ele pode ser classificado de desumano e degradante", acrescentou o relatório.

O órgão europeu de defesa dos direitos humanos pode identificar e criticar países. No entanto, não tem poderes para adotar medidas jurídicas contra eles.

As acusações de abusos envolvendo a CIA, feitas primeiramente por jornais e grupos de defesa dos direitos humanos, alimentaram a preocupação na Europa sobre as táticas antiterror adotadas pelos Estados Unidos.

Vários governos europeus estão sendo investigados devido à suspeita de que, no melhor dos casos, fecharam os olhos para as atividades ilegais.

Os EUA dizem ter agido com o conhecimento de todos os governos envolvidos, reconhecem ter realizado a transferência secreta de alguns acusados de terrorismo e negam que isso seja ilegal.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]