Senadores republicanos saíram de uma reunião a portas fechadas nesta terça-feira (5) sobre o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi e essencialmente acusaram o governo Trump de enganar o país sobre o caso – e até de encobrirem a Arábia Saudita.
Em comentários após uma reunião com a diretora da CIA (agência de inteligência americana), Gina Haspel, o presidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado, Bob Corker, republicano, e o senador Lindsey Graham, republicano, sugeriram que não há nenhuma maneira plausível de que o príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman não tenha ordenado o assassinato de Khashoggi, e disseram que a evidência é irrefutável.
Khashoggi, que era colunista do Washington Post, foi morto no consulado saudita em Istambul, na Turquia, em 2 de outubro, em um crime que, segundo a CIA, foi ordenado pelo príncipe Bin Salman para calar o jornalista, crítico do regime.
Leia mais: Príncipe da Arábia Saudita ordenou o assassinato de jornalista, conclui CIA
Isso é completamente contrário à narrativa apresentada pelo presidente Donald Trump e seu secretário de Estado, Mike Pompeo. Trump disse que é impossível saber se o príncipe herdeiro realmente esteve por trás do assassinato – apesar da CIA chegar a essa conclusão com “alta confiança” – enquanto Pompeo disse na semana passada que não havia “relatos diretos” que o implicassem.
Graham disse terça-feira que você teria que ser “voluntariamente cego” para não saber que Mohammed foi o responsável – uma clara repreensão do argumento de Trump de que o caso todo esteja em algum tipo de zona indefinida.
Leia mais: Trump questiona conclusão da CIA sobre culpa de príncipe no assassinato de jornalista
Graham também foi questionado sobre os comentários de Pompeo e os comentários do secretário da Defesa, Jim Mattis, de que não havia uma “smoking gun” (prova do crime). O senador disse que havia de fato uma “smoking saw” – uma referência ao cortador de ossos que teria sido usado para desmembrar Khashoggi depois de morto – e que Pompeo estava sendo um “bom soldado” ao seguir a linha do governo. Então, isso é basicamente dizer que Pompeo ajudou o esforço “intencional” de Trump para obscurecer a verdade.
“Se eles estivessem em uma administração democrata”, disse Graham a respeito de Pompeo e Mattis, “eu estaria em cima deles por estarem no bolso da Arábia Saudita”.
Corker também estava convencido, dizendo: “Se o príncipe herdeiro se apresentasse em frente a um júri, ele seria condenado em 30 minutos” – outra clara repreensão à afirmação de Trump e as sugestões de Pompeo e Mattis de que o caso seria uma incógnita.
Corker também sugeriu que o briefing da semana passada, que contou com Pompeo e Mattis, mas não com Haspel, foi totalmente enganoso. Quando perguntado se havia uma diferença na mensagem sobre a culpabilidade de Mohammed, Corker comparou-a à “diferença entre a escuridão e o sol”.
Leia mais: O caso Khashoggi é uma queda de braço internacional
Para ser claro, esses senadores não estão apenas acusando o governo de perdeu o foco no caso Khashoggi; eles estão dizendo que se sentem enganados e que a administração obscureceu a verdade. Graham dizendo que questionaria os motivos de Pompeo e Mattis se essa fosse uma administração democrata é uma afirmação particularmente notável – e de alguém que é um aliado frequente de Trump atualmente. Corker tem sido mais crítico a Trump, mas a sua insinuação de que ele acha que o briefing da semana passada não teria sido totalmente correto, também é significativo para um republicano.
Questionar Trump não é inédito para os republicanos no Congresso; o fato de estarem indo a Pompeo e até a Mattis, talvez a figura mais bipartidária da administração, mostra o grau de preocupação com a falta de consequências. Esses senadores estão mostrando que não vão desistir sem uma luta – uma luta que poderia prejudicar tanto o legado de Pompeo quanto o de Mattis.