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Os iraquianos mostraram enfurecidos nesta quarta-feira com a pena de três anos de reclusão imposta a Lynndie England, a soldado americana que tornou-se símbolo do escândalo de abuso de presos em Abu Ghraib, ao posar para fotos rindo de detentos nus e puxando um preso por uma coleira, na penitenciária de Abu Ghraib.

Nas ruas de Bagdá, a sentença foi considerada leve e se cogita o quanto seria maior se ela fosse condenada por abusos contra americanos.

- Os Estados Unidos deveriam se envergonhar. Isso é a melhor prova de que os americanos têm dois pesos e duas medidas - disse Akram Abdel Amir, motorista de ônibus aposentado de Bagdá.

- Há iraquianos presos sem acusação, apenas com base em suspeitas. Mas quando se trata de americanos, a questão é totalmente diferente.

Lynndie England, de 22 anos, foi sentenciada na terça-feira por uma corte militar dos EUA, um dia depois da divulgação do veredicto de culpada. Ex-funcionária de uma granja na Virgínia Ocidental, ela poderia ser condenada a nove anos de reclusão. Além da pena, ela foi expulsa do Exército com desonra.

O ex-namorado e pai do filho de England, Charles Graner, também já foi condenado pelo episódio, a exemplo de vários outros colegas, e cumpre pena de 10 anos.

- Se o abuso tivesse sido cometido contra americanos, tenho certeza de que a sentença seria muito mais dura. A sentença não é nada em comparação com o que ela fez - disse o bagdali Muntasse Abdel Moneim, de 30 anos.

A promotoria pedira 4 a 6 anos de prisão para a militar. England foi considerada culpada de seis acusações, na segunda-feira.

O abuso em Abu Ghraib, ricamente ilustrado com fotos que suscitaram escândalo em todo o mundo, agravou o ressentimento iraquiano contra a ocupação americana.

Em seu depoimento, England disse que lamentava suas ações e continuava sendo uma patriota.

Mas os iraquianos lembram-se dela como a soldado que puxava um preso como se fosse um cão - animal vilipendiado pelos muçulmanos - e apontava rindo para os órgãos genitais de outros.

- Tudo isso é um teatro. Os americanos querem fingir que defendem os direitos humanos e são uma nação civilizada - disse o conferencista universitário Munir Abdel Sahib. - Acredito que England não teria cometido esses crimes sem ordens de cima.

Em seu depoimento ao tribunal, England atribuiu seu envolvimento a Gardner, que encabeçou os abusos. Ele é casado com outra mulher e se declarou culpado dos incidentes em Abu Ghraib.

- Não há justiça nessa sentença, porque as fotos eram muito vergonhosas. Ela teria de pegar mais anos de cadeia e tem de ficar presa no Iraque - disse o engenheiro aposentado Najaat Al Azawi, de 55 anos.

O quitandeiro Hussein Ali considerou positivo o fato de ela ter sido julgada, mas afirmou que não houve justiça.

- Isso significa que os americanos podem de tudo no Iraque. Trê anos não bastam para o que ela fez.

As forças dos EUA mantêm cerca de 11,8 mil prisioneiros em vários locais do Iraque, inclusive 4 mil em Abu Ghraib.

Famílias, grupos de direitos humanos e até alguns ministros iraquianos, inclusive o da Justiça, reclamam que muitos compatriotas estão detidos equivocadamente, durante muito tempo, sem o devido processo.

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