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O ator americano Sylvester Stallone, no evento em que fez piadas de mau gosto sobre o Brasil | Reuters
O ator americano Sylvester Stallone, no evento em que fez piadas de mau gosto sobre o Brasil| Foto: Reuters
  • Capa do livro Os Brasileiros, do brasilianista Joseph A. Page

O ator americano Sylvester Stallone aprendeu a lição na última semana: respeito é bom, e o Brasil gosta. Piadinhas de mau gosto não são bem recebidas pela população do país, que se ofende e exige retratação. Depois de fazer comentários irônicos de que filmar no Brasil era bom porque ele podia explodir tudo e as pessoas ainda agradeciam e ofereciam um macaco de presente, o astro de filmes de ação foi atacado na internet e precisou pedir desculpas logo um dia depois. Antes dele, o comediante Robin Williams e desenhos animados de humor, como Os Simpsons e South Park, já tinham sido o foco da irritação brasileira com a exposição irônica na mídia americana.Sempre que problemas do Brasil viram piada no exterior, eles são repercutidos na mídia brasileira quase como questões diplomáticas. Mas um pesquisador brasilianista diz que quem mora no Brasil não deveria ficar ofendido com essa exposição irônica e depreciativa, e que isso, na verdade, demonstra uma maior relevância do país no cenário internacional. "Piadas mostram um interesse maior no país. Ter piadas sobre o Brasil significa que as pessoas estão pensando e falando sobre o país", explicou ao G1 Joseph A. Page, professor de direito e diretor do Centro para Avanço no Controle Legal nas Américas da Universidade Georgetown, em Washington DC.

Page morou por muitos anos no Brasil e conhece este sentimento de ofensa com a ironia externa. Ele é autor do livro "The Brazilians" (Os Brasileiros), lançado nos anos 1990, em que narra sua relação pessoal com o Brasil e tenta decifrar os aspectos da cultura para identificar o que caracteriza o povo deste país. Segundo ele, nada nesses comentários irônicos reflete preconceito com o Brasil, e eles podem ser vistos até mesmo como uma demonstração de conhecimento e respeito pelo país, já que nações irrelevantes para os Estados Unidos costumam ser ignoradas pela produção cultural dali.

Apesar de aceitar ser chamado de brasilianista, por escrever sobre o Brasil, Page diz que prefere se considerar não um acadêmico do assunto, mas um estrangeiro seduzido pelo povo e pelo país. A obra dele, lançada em 1995, trata da violência e do carnaval, da composição étnica da população, da política, da mídia, da religião e dos movimentos trabalhistas, apresentando tudo ao leitor americano pouco familiarizado com o Brasil.

Mesmo essas pessoas que não conhecem bem o país, diz Page, podem ter uma visão simplista e estereotipada, mas nunca negativa. "Acho que nunca houve nenhum preconceito contra o Brasil" nos Estados Unidos, disse. "Não sei nem de que forma isso poderia se manifestar. As pessoas sempre são muito atraídas pelos brasileiros e pelo país", explicou.

Desconhecimento

Segundo Page, as pessoas no mundo inteiro estão levando o Brasil mais a sério, mas o conhecimento real sobre o país entre o público em geral ainda é limitado. "O estereotipo ainda é o mesmo, de futebol, carnaval, festa, mas acho que o mais forte é a praia mesmo, pois as pessoas não entendem nem o que é o carnaval", disse.

O pesquisador argumenta que esse tipo de desconhecimento em relação ao país é uma frustração sua de longo prazo, já que ele sempre trabalhou para divulgar a cultura e a realidade brasileiras. Segundo ele, o Brasil tem aparecido com mais frequência na mídia dos Estados Unidos, o que faz com que as pessoas saibam mais sobre a existência do Brasil, mas a cobertura é superficial e não explora as nuances do país. "O carnaval brasileiro nunca ganha uma cobertura aprofundada, é ridículo e impressionante", disse.

"Os estereótipos são duros de matar", disse. "As coisas mudam, o país é visto de forma mais séria, mas os estereótipos não deixam de existir."

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