Place de la République está tomada por flores, velas e lápis| Foto: Marina Fabri

Consequências

Família franco-brasileira teme incitação à xenofobia

A família franco-brasileira Jouyaux acompanhou de perto as notícias sobre o caso. Aos 55 anos, a intérprete Simone mora em Paris há 26 anos, desde que se casou com o francês Didier. Os dois temem que os ataques incitem a xenofobia e isso resulte numa ascensão da extrema-direita, fazendo referência à Frente Nacional, partido da pré-candidata à presidência da França nas eleições de 2017 Marine Le Pen – na sexta-feira, ela postou no Twitter uma foto dela mesma acompanhada da frase "Keep calm and vote le Pen" (Mantenham a calma e votem em Le Pen) e causou certo desconforto nas redes sociais.

Ataques

A filha do casal, a francesa Maina Jouyaux, de 24 anos, é delegada de defesa da mulher da prefeitura de Bagnolet (ao lado de Vincennes, onde aconteceu o terceiro ataque) e teme a islamofobia. "Fiquei com medo durante os ataques, sim. Jamais tinha vivido algo assim antes. Mas o que mais me assusta é a possibilidade de esses ataques virarem um círculo de violência. Não quero que a França condene a comunidade islâmica por conta da ação de alguns indivíduos – e também não quero que o país seja visto como islamofóbico no cenário internacional", diz.

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Desde a última quarta-feira, quando teve início a série de ataques terroristas em Paris, a Place de la République está tomada, mesmo depois da morte dos três terroristas acusados dos atentados na cidade na última semana. O local está repleto de flores, velas, gente empunhando cartazes e lápis, uma referência aos quatro cartunistas do jornal Charlie Hebdo, que estão entre os doze mortos da manhã do dia 7. Mas não são exatamente manifestações – o clima, na verdade, é de velório.

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O silêncio só é rompido quando alguém puxa algum dos "gritos de guerra": "On n’a pas peur" (A gente não tem medo) e "Charlie n’est pas mort" (Charlie não está morto). As concentrações ocorreram na quarta e na quinta à noite (e há outra marcada para este domingo ao meio-dia no horário de Brasília, 15 horas na França), mas durante todo o dia a praça, que fica numa região central da cidade e é naturalmente movimentada, recebe gente que deixa suas canetas e lápis no chão junto com as demais.

Silêncio

Na catedral de Notre Dame, os franceses se reuniram na quinta-feira, também para prestar suas homenagens. "Ficamos 12 minutos em silêncio, ouvindo os sinos da igreja. Não tenho nem palavras, o clima é de muita tristeza", diz a relações públicas paulista Samantha Lodi, que está em Paris desde julho do ano passado para fazer um doutorado na Université de Rouen.

Enquanto isso, nos demais bairros da cidade, há pichações e cartazes por toda parte com a (já) famosa afirmação "Je suis Charlie" (Eu sou Charlie).

Dia a dia

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Na vida prática da cidade, pouca coisa mudou nos últimos dias – as aulas não foram suspensas (mas a maioria das universidades tinha seguranças nas portas para conferir a identificação dos alunos já a partir de quarta-feira, prática não usual no dia a dia), o comércio seguiu aberto e o movimento nos metrôs continuou o mesmo. Mas, à medida que os ataques (especialmente os dois que ocorreram próximos às estações de metrô Porte de Châtillon e Porte de Vincennes) se intensificaram, a tensão e a tristeza foi dando lugar ao medo.

"Na terça-feira, não tinha notado nada de diferente, mas aos poucos comecei a ver o número de soldados nas ruas aumentar aos poucos – achei que minhas aulas seriam canceladas, mas não. Mesmo assim fiquei tensa com a situação", diz a engenheira curitibana Larissa Beck Carvalho, que chegou em Paris há quatro meses para fazer um mestrado na École Nationale de Ponts et Chaussées.