Pressionado pela Promotoria, que na noite da última quinta-feira havia exigido a suspensão da sua imunidade legal, o presidente Christian Wulff tornou-se ontem o segundo chefe de Estado alemão a renunciar nos últimos dois anos.
Wulff, de 52 anos, escolhido pela chanceler federal Angela Merkel em 2010 o mais jovem presidente da História da Alemanha foi forçado a deixar o cargo depois da divulgação do último de uma série de casos de corrupção e tráfico de influência, que vem mantendo o país em clima de suspense há dois meses. Seu antecessor, Horst Koehler, deixou o cargo sob críticas por um comentário relacionando o envio de soldados ao Afeganistão à garantia dos interesses comerciais da Alemanha.
Entre os nomes cotados para a sua sucessão estão o de Joachim Gauck, ex-encarregado da agência de esclarecimento dos crimes do regime comunista no Leste alemão derrotado por Wulff em 2010, que era o candidato da oposição social-democrata; o do ex-ministro do Meio Ambiente, Klaus Töpfer; e também o da ministra do Trabalho, Ursula von der Leyen políticos que são apoiados também pela oposição social-democrata/verde.
A decisão sobre o candidato à sucessão de Wulff poderá ser tomada já no fim de semana, quando Angela Merkel, que ontem cancelou uma viagem à Itália, deverá se reunir com os líderes da coalizão de governo e, mais tarde, com os chefes dos principais partidos de oposição, para definir o sucessor. Ela já anunciou que vai consultar também a oposição antes de tomar sua decisão. Merkel, que apadrinhara Wulff em 2010 e também escolhera seu antecessor, Koehler, não pode correr o risco de errar mais uma vez.
Até a eleição do próximo presidente, a função deverá ser exercida pelo presidente do Conselho Federal, Horst Seehofer, governador da Baviera.
"A Alemanha precisa de um presidente que possa se dedicar totalmente aos desafios nacionais e internacionais", disse Wulff, 52 anos. "Os desdobramentos dos últimos dias e semanas mostraram que a confiança na minha capacidade de servir foi afetada. Por essa razão, não é mais possível que siga no meu papel de presidente."
As denúncias surgiram no fim de 2011, quando o tabloide Bild publicou reportagem segundo a qual Wulff havia omitido um empréstimo de Ç500 mil euros obtido da mulher de um empresário quando ainda era governador do Estado da Baixa Saxônia.
A situação piorou quando ele ameaçou o editor do jornal com uma "guerra" caso publicasse a história. Desde então, outras revelações surgiram de que Wulff havia obtido de empresários favores ou vantagens indevidas. Na Alemanha, o cargo de presidente é cerimonial. Porém, a renúncia é um golpe para a chanceler (premiê) Angela Merkel, que havia apoiado a candidatura de Wulff, e precisa liderar a reação à crise europeia.
Para o jornalista Michael Spreng, ex-chefe de redação do jornal "Bild" e hoje conselheiro de mídia para políticos, Christian Wulff teve uma "queda vertiginosa" por ter confundido as relações oficiais entre políticos e representantes da economia com "amizades pessoais".