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CIDADE DO VATICANO - Fora do Vaticano, o Papa Bento XVI parece uma figura tão pública quanto seu antecessor, João Paulo II, beijando bebês, apertando mãos e atraindo enormes multidões. Intramuros, porém, ele é talvez o Pontífice mais reservado em quase meio século.

Cerca de sete meses depois da sua eleição, o Papa alemão, de 78 anos, ainda não mostrou realmente suas cartas e deixa até mesmo seus colaboradores mais próximos em dúvida sobre que decisões tomará.

O Papa público brilha todas as quartas-feiras na praça de São Pedro. As pessoas gritam seu nome e aplaudem sua passagem. Ele eleva as mãos unidas acima da cabeça em sinal de vitória.

Segundo as estatísticas do Vaticano, Bento XVI atrai o dobro de gente às suas audiências gerais e às bênçãos dominicais do que Joao Paulo II conseguia no mesmo período em 2004.

Mas o Papa privado, de acordo com prelados próximos de Bento XVI, é outra coisa.

- O estilo dentro do Vaticano agora é totalmente diferente - disse um monsenhor, que pediu anonimato. - Ele está mantendo muitos de nós intrigados - acrescentou.

João Paulo II costumava convidar visitantes para as missas privadas de manhã cedo e depois tomava café da manhã com eles, discutindo várias questões da Igreja e do mundo. Enquanto sua saúde permitiu, fazia jantares famosos pela vivacidade cultural que exibia.

DEDICAÇÃO À LEITURA - Já Bento XVI recebe poucos visitantes nos seus aposentos além dos funcionários mais próximos. Por isso, raramente as pessoas sabem o que passa na sua cabeça ou que decisões está a ponto de tomar.

Tão reservado quanto era antes da eleição, Bento XVI passa grande parte do seu tempo livre noturno lendo. Ocasionalmente, relaxa tocando piano. Fontes dizem que, quando cardeais e outros chefes de departamentos do Vaticano o visitam, o Papa mais ouve do que fala.

- Posso garantir, não só sabemos zero, sabemos menos que zero - resumiu um importante prelado.

Assim, Bento XVI seja talvez o Pontífice mais reservado desde Pio XII, um italiano que morreu em 1958 e, aliás, era germanófilo.

O círculo íntimo do atual Papa conservador é comandado pelo monsenhor Georg Ganswein, um alemão de 49 anos cujo aspecto jovial às vezes o leva às capas das revistas mais badaladas da Itália.

O estilo de Ganswein também é diferente do de seu antecessor, o arcebispo polonês Stanislaw Dziwisz, secretário pessoal de João Paulo II durante muitas décadas e conhecido por sua eficiência.

Dziwisz constantemente promovia e protegia seu compatriota João Paulo II por meio de uma rede de contatos com jornalistas e políticos. Ele não hesitava em deixar que as pessoas soubessem o que se passava pela cabeça do Papa. Já Ganswein é tão reservado quanto seu chefe.

MUDANÇAS GRADUAIS - Praticamente toda semana a imprensa italiana noticia que Bento XVI vai fazer uma reviravolta na Cúria romana com um pacote de nomeações. Mas fontes dizem que isso deve acontecer gradualmente.

- Não vejo grandes mudanças no ar, ao menos não todas de uma só vez. Conforme as pessoas se aposentem elas serão substituídas - comentou um clérigo.

Uma importante mudança sendo cogitada há algum tempo é a de um sucessor para o cardeal Angelo Sodano como secretário de Estado.

Sodano, que completa 78 anos neste mês, ocupa desde 1991 o segundo cargo mais importante do Vaticano. Ele já está três anos além da idade normal de aposentadoria.

Mas Bento XVI até agora vem frustrando os analistas e mantém Sodano e vários outros nos seus cargos.

O Papa surpreendeu muitos no Vaticano quando, meses após sua eleição, nomeou o arcebispo americano William Levada, de São Francisco, para sucedê-lo no posto de chefe da doutrina.

- Ninguém seria capaz de prever isso - afirmou um prelado.

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