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O primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, em discurso proferido na cúpula da Organização das Nações Unidas (ONU), virou a política israelense de cabeça para baixo e gerou ataques da direita e elogios da esquerda nesta sexta-feira, após reconhecer o direito dos palestinos a um Estado independente.

O discurso de Sharon na Assembléia Geral da ONU, proferido na quinta-feira e no qual defendeu que fossem feitas concessões para "pôr fim a este conflito sangrento", revelou-se mais conciliatório do que muitos esperavam. O premier é visto tradicionalmente como um intransigente político linha-dura.

Sharon repetiu sua declaração de que cabe aos palestinos mostrar que desejam a paz investindo contra os grupos extremistas depois da retirada israelense da Faixa de Gaza, concluída no começo desta semana após 38 anos de ocupação.

Benjamin Netanyahu, rival de Sharon dentro do partido Likud, acusou o premier de rejeitar suas raízes direitistas. Já o ministro israelense do Interior, Ophir Pines, do bloco trabalhista (centro-esquerda), disse que o dirigente tinha "ingressado incondicionalmente no campo da paz".

Os palestinos viram nas declarações uma estratégia de marketing de Sharon, escondendo a sua intenção de manter o controle sobre Jerusalém e sobre parte da Cisjordânia, de continuar expandindo os assentamentos e de adiar a retomada das negociações sobre o status final do governo palestino.

Poucos meses atrás, seria algo impensável ver o ex-general, de 77 anos, fazer um discurso diante da Assembléia Geral, órgão que muitos israelenses consideram ser um bastião do sentimento anti-Israel.

Mas a implementação do plano de "desengajamento" do conflito com os palestinos (a retirada da Faixa de Gaza) melhorou sua imagem e lhe rendeu aliados na comunidade internacional, que vêem na manobra militar um eventual catalizador para a retomada das negociações de paz.

"O homem que, nas últimas quatro décadas, intimidou, ameaçou, torpedeou, postergou, apontou o dedo em riste e fez retumbar sua voz, reiniciou o relógio ontem e se redefiniu", escreveu Ben Caspit, um colunista do diário israelense "Maariv".

Ainda assim, poucas das palavras de Sharon sugeriram medidas conciliatórias em relação aos palestinos no futuro próximo.

- Não vemos nada de positivo (no discurso do premier) - disse o ministro palestino do Planejamento, Ghassan Al Khatib.

O pronunciamento na ONU também foi alvo de críticas de seus oponentes direitistas, que o consideram um traidor por ter desocupado assentamentos que antes defendia. Para esses adversários, a retirada da Faixa de Gaza ignora os direitos bíblicos dos judeus sobre essas terras e gratifica a violência palestina.

- Em seu discurso, Sharon finalmente deixou claro que está se voltando para a esquerda e que continuará a fazer concessões - afirmou Netanyahu, que tenta tirar o premier da liderança do Likud para a próxima eleição geral. Para seu adversários internos, o discurso foi uma espécie de despedida da Likud, já que se afasta de sua cartilha.

Na ala esquerda, o ministro do Trabalho de Israel, Benjamin Ben-Eliezer, disse:

- O primeiro-ministro confirmou abertamente a política do Partido Trabalhista, segundo a qual, para se chegar à paz real, é necessário abrir mão do sonho da Grande Israel.

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