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A ditadura de Nicolás Maduro está incomodada com o socialista José Luis Rodríguez Zapatero, ex-presidente do governo da Espanha (2004-2011), pelo seu silêncio sobre a eleição presidencial realizada na Venezuela em 28 de julho.
Diante das acusações internacionais de fraude no resultado oficial, que proclamou Maduro vencedor, o regime chavista vem se queixando de que o ex-mandatário de esquerda, que atuou como observador no pleito, ainda não se manifestou para ratificar a “lisura” do processo, como fez em eleições anteriores na Venezuela.
A informação foi publicada no início desta semana pelo jornal El Debate, que ouviu fontes da ditadura venezuelana. Segundo o periódico, após a eleição, Zapatero se reuniu com líderes do regime chavista, que lhe pediram algum gesto ou declaração de apoio à fraude eleitoral.
Ainda de acordo com o El Debate, desta vez Zapatero se recusou, “argumentando aos seus interlocutores que não estava disposto a comprometer o seu prestígio democrático”. “A ditadura venezuelana interpretou este silêncio como um gesto de ingratidão, uma traição, e a raiva contra o político espanhol é enorme”, acrescentou o jornal.
Zapatero ainda não fez nenhum pronunciamento oficial sobre a eleição de julho. Segundo a agência EFE, nesta quinta, a Comissão de Assuntos Externos do Parlamento Europeu concordou em convidar Zapatero para comparecer no próximo dia 30 a uma audiência para falar sobre o pleito na Venezuela.
Em agosto, o sindicato conservador espanhol Mãos Limpas apresentou uma denúncia no Tribunal Penal Internacional (TPI) contra Zapatero, acusando-o de crimes contra a humanidade devido à sua relação com Maduro.
A comunicação enviada ao TPI cita a repressão de Maduro contra manifestantes e oposicionistas que contestam a fraude na eleição presidencial de julho e argumenta que o ex-presidente socialista espanhol, “apontado como aliado do regime, foi acusado de pressionar a oposição e de agir a favor de Maduro na cena internacional”.
“Rodríguez Zapatero, apesar dos relatórios internacionais sobre a crise na Venezuela, foi acusado de receber benefícios do regime, como a exploração de uma mina de ouro e contratos de petróleo, o que gerou controvérsia e denúncias públicas, até mesmo dentro do seu próprio partido na Espanha, [conduta] que contrasta com a postura crítica de outros líderes socialistas, como o ex-presidente Felipe González [1982-1996]”, disse o Mãos Limpas.
A mina de ouro mencionada pelo Mãos Limpas foi relatada pelo ex-chefe da Inteligência Militar da ditadura da Venezuela Hugo “El Pollo” Carvajal, numa denúncia à Justiça espanhola em outubro de 2021. À época, Zapatero disse que a acusação era “surrealista”.