Em busca de reforços para conseguir a deposição do ditador venezuelano Nicolás Maduro, o líder da oposição, Juan Guaidó, tentou, nesta terça-feira (5), conseguir o apoio de sindicatos de funcionários públicos para a realização de greves para enfraquecer o regime autoritário. A pouca adesão ao encontro, no entanto, foi um sinal dramático do tamanho desafio que Guaidó enfrenta na tentativa de desalojar o governo esquerdista radical, que está resistindo tanto à pressão internacional quanto às manifestações nas ruas.
Guaidó contatou trabalhadores de 100 agremiações sindicais para o encontro, para tentar chamar um grupo expressivo de trabalhadores, mas apenas algumas centenas de pessoas participaram do ato – no total, o governo emprega 2 milhões de servidores. Muitos alegaram medo de retaliações do governo para não comparecer.
A reunião aconteceu um dia depois de Guaidó ter chegado à Venezuela, após uma viagem de dez dias ao exterior. Muitos venezuelanos temiam que ele fosse preso ao retornar, o que seria mais uma tentativa de acabar com um movimento contra o governo que havia ganhado força desde janeiro, conquistando apoio da Casa Branca e de dezenas de países.
Em vez disso, as autoridades permitiram que ele voltasse. Mas Maduro ainda controla o aparato estatal, inclusive os poderosos militares.
Juan Andrès Mejía, um deputado da oposição, disse que a estratégia de Guaidó era “isolar o regime”. Isso envolveu o alcance não apenas dos militares, mas de outras partes da base de Maduro, disse Mejía. Os sindicatos do setor público “fizeram parte da estratégia do regime de permanecer no poder”, disse ele, com funcionários pressionados a participar de marchas pró-governo.
Guaidó anunciou que os sindicatos passariam a realizar reuniões com seus membros a partir de quarta-feira para planejar quando e como iniciar as paralisações. “A pressão está apenas começando”, disse ele. “Todo sindicato vai agora lutar por seus direitos”. Guaidó também prometeu uma nova lei para evitar o abuso de trabalhadores do setor público.
Um líder sindical que estava na reunião, Besse Mouzo, explicou que o plano é fazer pequenas paralisações até chegar a uma greve geral. “Temos de começar convencendo as pessoas” a se juntarem a protestos menores, disse ela.
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Apoio
Apesar de a participação no encontro não ter sido expressiva, sindicalistas afirmaram que a maioria dos funcionários públicos apoia Guaidó.
“Não há muitos aqui”, reconheceu um sindicalista, que quis permanecer no anonimato por medo de retaliações. “Todos nós temos medo de ser demitidos” se demonstrarmos lealdade à oposição, disse ele, em justificativa do baixo número de participantes.
Lenin Briceno, 54 anos, funcionário aposentado do Banco Central venezuelano, disse que pelo menos 80% de seus ex-colegas apoiam Guaidó. Briceno afirmou ter enviado convites para centenas deles para participar do evento.
“A resposta foi que eu deveria tomar cuidado e que eles esperavam o sucesso do evento. Eu não recebi respostas sobre se as pessoas viriam. Eles estão com muito medo”, disse Briceno. “Agora que cheguei, não vejo nenhum deles”.
Uma profissional do Ministério das Relações Exteriores chorou ao lado de outras pessoas no pavilhão ao ar livre, no centro de Caracas. “Estou indignada por não podermos protestar”, disse ela. “Não temos nada a perder. Não temos mais seguro médico. Não somos bem pagos. O salário nem chega para comprar frango e queijo”.
“É arriscado para mim estar aqui”, continuou, porque teme perder o emprego. “Mas eu estou esperando por mudanças”.
Sob a batuta de Maduro, a economia da Venezuela se desintegrou, com a hiperinflação chegando a 1.000.000% e o fornecimento de alimentos e medicamentos diminuindo.
Guaidó declarou-se presidente interino há algumas semanas, afirmando que a reeleição de Maduro para um segundo mandato a partir de janeiro era inválida devido a irregularidades generalizadas na votação do ano passado. Guaidó, que vinha atuando como líder da Assembleia Nacional, já foi reconhecido como presidente por mais de 50 países, inclusive os Estados Unidos.
Em 22 de fevereiro, ele cruzou a fronteira para a vizinha Colômbia, violando uma proibição de viagens imposta pela Justiça, para participar de um concerto organizado pelo bilionário Richard Branson para arrecadar dinheiro para ajuda humanitária à Venezuela. No dia seguinte, ele liderou milhares de venezuelanos em uma tentativa de transportar comida e remédios doados para a Venezuela, um esforço que foi quase totalmente bloqueado por Maduro, que classificou a iniciativa como uma tentativa velada de invadir o país.
Maduro sugeriu que Guaidó poderia ser detido em seu retorno, mas, por enquanto, não fez nenhum comentário público sobre o retorno do líder da oposição. Em vez disso, ele postou um vídeo na terça-feira no Twitter comemorando o aniversário da morte de Hugo Chávez, o antecessor e mentor de Maduro em 2013, que liderou o que ele chamou de revolução socialista "nesta nação rica em petróleo".
Maduro acusou Guaidó de tentar dar um golpe, com o apoio dos EUA.
“Guaidó tem uma tarefa muito complicada pela frente”, disse Félix Seijas, professor na Universidade Central da Venezuela. “Enquanto as esperanças das pessoas aumentaram com a sua chegada, há poucas coisas que ele pode fazer para pressionar o governo”.
A oposição “precisa transmitir às pessoas que elas estão avançando, com passos firmes”, disse Seijas. “Do contrário, as pessoas poderiam desanimar”.