Manifestantes antigoverno carregam uma bandeira com o rosto do fundador da Turquia, Mustafa Kemal Ataturk| Foto: Murad Sezer/Reuters
Protegidos com máscaras, policiais caminham em direção a uma nuvem de gás lacrimogênio disparada contra manifestantes turcos

A violência entre manifestantes e a polícia se espalhou pelo segundo dia consecutivo em Istambul, após o primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, retirar os manifestantes da praça Taksim no sábado. Houve novos confrontos em Ancara e cinco sindicatos marcaram uma greve geral para hoje. Houve também violência entre apoiadores e opositores do governo.

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Erdogan subiu ao palco no domingo para discursar para quase 30 mil apoiadores do seu partido, o Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), e declarou vitória sobre os protestos. Erdogan afirmou que, ao ocuparem a praça, os manifestantes atacaram a liberdade da sociedade.

Ontem, os manifestantes construíram barreiras e se lançaram contra a polícia, que utilizou gás lacrimogêneo e canhões de água naqueles que tentavam alcançar a praça. Segundo a Anistia Internacional, mais de 200 manifestantes foram presos. Os confrontos continuaram em Ancara, onde a polícia tentou conter protestos contra a morte de um manifestante que levou um tiro na cabeça durante um confronto na semana passada.

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Ruptura

Houve, ainda, relatos de confrontos entre apoiadores e opositores do governo, em mais um sinal de que os conflitos estão atraindo setores da população civil. Além disso, cinco dos maiores sindicatos da Turquia – que representam um total de 680 mil trabalhadores – marcaram uma greve geral para esta segunda-feira, em solidariedade aos protestos.

"A ruptura que Erdogan criou na Turquia é muito interessante porque essa classe média bem educada está entrando em confronto com o governo pela primeira vez. Se essas tensões continuarem, a incerteza vai impactar negativamente o sistema político e a economia", disse Hakan Yilmaz, cientista político da Universidade de Bogazici, em Istambul.

Cinco pessoas morreram após 18 dias de protestos e mais de 5 mil ficaram feridas.

Médicos denunciam uso excessivo de gás

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A Associação de Médicos Turcos denunciou ontem que a polícia turca fez um uso "selvagem" de gás lacrimogêneo para reprimir os protestos antigovernamentais que abalam o país há quase três semanas.

"Desde o dia 31 de maio, a polícia tenta reprimir as manifestações pacíficas e legítimas com um uso selvagem de gás lacrimogêneo contra massas de civis desprotegidos", indicou em comunicado a associação, que, por sua vez, representa 80% dos médicos da Turquia.

"Pedimos ao governo que ponha fim imediatamente a esta violência bárbara e fazemos um pedido urgente à comunidade internacional para que atue contra a repressão brutal das exigências democráticas", completou o texto.

A instituição médica também denunciou que na noite de sábado, quando a polícia despejou com extrema contundência os manifestantes concentrados na Praça Taksin de Istambul e do parque Gezi (objeto dos protestos antigovernamentais), a assistência médica aos feridos foi dificultada e, até mesmo, suspensa pelos policiais.

Efeitos

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Durante a última semana, a associação indicou que conduziu uma pesquisa na internet para avaliar o efeito do gás lacrimogêneo nos manifestantes. Nesta, mais de 11 mil pessoas alegaram ter sofrido com os efeitos do gás, 65% deles com idade entre 20 e 29 anos. A instituição médica estima que 11% das pessoas entrevistadas foram expostas ao gás durante mais de 20 horas e, entre uma e oito horas, 53%.

Até sábado, 7% dos entrevistados, 788 pessoas, alegaram ter sofrido ferimentos pelo impacto de bomba de fumaça, frequentemente na cabeça, nos olhos, no tórax e no abdômen, em áreas que podem causar riscos fatais, assinalou a associação.

O próprio governador de Istambul, Hüseyin Avni Mutlu, admitiu ontem que a polícia deteve vários médicos durante os confrontos, embora tenha justificado a medida citando que os mesmos estavam "ajudando os manifestantes".