Discussões sobre o aperfeiçoamento de questões católicas dominaram o terceiro dia de debates do Sínodo dos Bispos sobre a família, encontro que está sendo realizado desde o último domingo e que segue até 25 de outubro no Vaticano. Embora não fossem centrais, temas como o acolhimento aos homossexuais e divorciados estiveram em pauta.
“Tem sido um ambiente favorável de diálogo [...] Todos os bispos que quiserem podem intervir no plenário e nós, assessores, podemos intervir nos círculos para darmos nossas sugestões”, analisa o frei brasileiro Antonio Moser, moralista convocado para o encontro com o objetivo de assessorar os círculos menores – os participantes se reuniram em 13 destes círculos, divididos por grupos linguísticos, nesta etapa da assembleia.
“Percebe-se a vontade de fazer certas modificações e acréscimos no sentido de melhorar o que já está aí. Por exemplo: em relação à antropologia, à concepção de sexualidade, ao reforço da catequese. Não aquela catequese de crianças, que já está estruturada, mas a desse período intermediário em que o adolescente está se desenvolvendo e em que, um certo dia, terá de definir a sua vida. Uma pastoral do acompanhamento daqueles que foram batizados”, ressalta.
Apesar de não considerar a questão dos homossexuais e dos casais de segunda união os temas predominantes, Moser fez questão de detalhar que tipo de atenção os padres sinodais têm dado a esses temas, que, segundo ele, implicam determinados desafios pastorais. “Eu não ousaria dizer que o grande desafio seria o dos homoafetivos, porque sempre houve esse desafio em relação à maneira de acolhê-los. Como o papa observou no seu retorno da Jornada Mundial da Juventude, ‘quem sou eu para julgar um homossexual que teme a Deus?’. Por outro lado, ele disse que é contra o lobby gay, que significa levantar a bandeira e forçar a barra nessa direção”, avalia.
Sobre os divorciados em segunda união, Moser destaca que “o que a Igreja quer é realmente acolher aqueles que querem caminhar, e é um caminhar progressivo”. “Se isso vai levá-los ao sacramento da confissão e da eucaristia, isso será um processo, não pode ser decretado. Além disso, tem de ser tudo muito bem analisado, pois cada caso é um caso. Há uma história por trás, o que houve, como foi o casamento, por que se casaram, por que se separaram. Para mim, é muito importante analisar como está sendo tratada e trabalhada a família anterior”, disse.
Linguagem cuidadosa
O relator de um dos círculos de língua inglesa, Charles Chaput, arcebispo de Filadélfia (EUA), participou da coletiva de imprensa desta quarta-feira (7) com outros dois padres sinodais, os bispos Salvador Piñeiro, peruano, e Laurent Ulrich, francês.
O arcebispo americano falou sobre a preocupação dos bispos em relação ao uso de uma linguagem adequada, capaz de “não ferir as pessoas”, mas acrescentou que isso não pode interferir na fidelidade à doutrina. Em relação aos homossexuais, ele confirmou que na terça-feira o tema entrou na pauta de discussões, mas ainda não é o assunto central dos debates. “Estou certo de que o tema da homossexualidade será ainda objeto de reflexão e espero que encontremos palavras que acolham e não firam”, ressaltou.
Chaput também informou que em seu circulo menor, de língua inglesa, questionou-se se o Instrumentum laboris (documento de trabalho do Sínodo) reflete, de fato, o pensamento de toda a Igreja. “Precisamos de diálogo entre a Igreja universal e a local. Não é apropriado que as conferências episcopais tentem decidir questões de doutrina”, salientou.