Tanque do exército da Turquia na cidade de Sarmin, a 12 quilômetros da cidade de Idlib, na Síria, 20 de fevereiro de 2020| Foto: Omar HAJ KADOUR / AFP
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As recentes ofensivas do regime da Síria no noroeste do país acabaram criando um impasse entre a Rússia, que apoia a ditadura síria, e a Turquia, que apoia os rebeldes no país.

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Dois soldados turcos foram mortos e cinco ficaram feridos em ataques aéreos do governo da Síria na região de Idlib, noroeste do país, nesta quinta-feira (20). Mais de 50 militares sírios foram "neutralizados" na retaliação, segundo o ministério da Defesa turco, usando o termo que pode significar que os soldados morreram, se renderam ou foram capturados.

A Turquia diz ainda que destruiu cinco tanques, dois veículos blindados e outros equipamentos militares na retaliação.

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O Observatório de Direitos Humanos da Síria, que tem base no Reino Unido, afirmou que pelo menos 11 combatentes pró-governo e 14 no lado pró-Turquia foram mortos além dos dois soldados turcos.

Forças do ditador sírio Bashar Al-Asad fazem uma operação com apoio da Rússia para retomar o controle da região de Idlib, o último grande território sob controle de rebeldes sírios, que têm o apoio da Turquia.

A Rússia acusa a Turquia de oferecer apoio de artilharia aos rebeldes que combatem as forças do regime sírio e disse que os rebeldes invadiram posições de defesa sírias em Idlib nesta quinta-feira. A ação provocou ataques aéreos de Moscou, que afirmou que usou caças, a pedido da Síria, contra "terroristas" na região.

"Para impedir que grupos terroristas avancem no território sírio, aeronaves Su-24 da Força Aeroespacial da Rússia fizeram um ataque a pedido do comando sírio contra formações armadas que haviam penetrado na área. Isso ajudou as tropas sírias a repelir todos os ataques com sucesso", disse em nota o Centro de Reconciliação da Rússia para a Síria, segundo informou a agência russa Tass.

Nesse ataque, teriam sido destruídos um tanque, seis veículos de combate e cinco caminhonetes com armas de grande calibre, continua a nota.

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No começo do mês, 13 soldados turcos morreram em ataques da Síria, o que levou o presidente turco, Recep Erdogan, a prometer que a Turquia atacaria em qualquer lugar da Síria caso mais soldados turcos fossem mortos.

A Turquia já enviou tropas adicionais ao noroeste da Síria. Agora, existem cerca de 15 mil soldados turcos na região, segundo a Reuters, e mais comboios estão do outro lado da fronteira, no território turco.

Erdogan alertou que pode ser "questão de tempo" para que a Turquia lance uma operação militar para expulsar a ofensiva síria contra os rebeldes na região. "Estamos entrando nos últimos dias para que o regime para com as hostilidades em Idlib. Estamos fazendo nossos alertas finais", declarou o presidente turco na quarta-feira, segundo a Foreign Policy.

A Rússia se opôs na quarta-feira (19) a uma declaração do Conselho de Segurança da ONU que pediria um cessar-fogo na Síria, segundo a AFP.

Pedido de ajuda aos EUA

A Turquia pediu que os Estados Unidos enviassem dois sistemas Patriot de defesa antimísseis para a fronteira sul turca para se defender dos ataques da Síria e da Rússia, disse uma alta autoridade de Ancara, segundo noticiou a Bloomberg.

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"Os Estados Unidos já nos enviaram baterias de defesa áerea no passado", disse o ministro da Defesa turco, Hulusi Akar, à CNN da Turquia, em entrevista gravada na quinta-feira, antes dos ataques que mataram dois soldados turcos.

Akar disse ainda que consideraria apoio similar vindo de aliados europeus. O oficial disse que a Turquia poderia usar caças F-16 para atingir unidades leais a Assad em Idlib se os Patriots fossem colocados em Hatay, na fronteira turca, para oferecer proteção.

O pedido do governo turco é curioso, já que a Turquia decidiu no ano passado comprar o sistema de defesa antiaéreo russo S-400, mesmo sob pressão do governo dos EUA, que contestou a compra. A ação gerou um impasse entre Ancara e Washington - autoridades temiam que se a Turquia tivesse em mãos o sistema de defesa da Rússia e os caças F-35 americanos, que já tinham sido encomendados, os russos poderiam ter acesso à tecnologia americana e depois atingir os seus pontos fracos.

"Nenhum lugar é seguro"

Os recentes conflitos obrigaram cerca de 900 mil pessoas a deixarem suas casas nas províncias de Idlib e Aleppo, segundo a Organização das Nações Unidas. Esse é o maior deslocamento humano desde o início da guerra civil da Síria há quase nove anos.

Crianças sírias em acampamento improvisado para pessoas deslocadas que fugiram de bombardeios do regime da Síria em Idlib e Aleppo, 18 de fevereiro | Foto: Bakr ALKASEM / AFP
Homem sírio passa por prédios destruídos em Ihsim, sul de Idlib, 19 de fevereiro | Foto: Omar HAJ KADOUR / AFP
Crianças sírias em acampamento improvisado para pessoas deslocadas que fugiram de bombardeios do regime da Síria em Idlib e Aleppo, 18 de fevereiro | Foto: Bakr ALKASEM / AFP
Veículos transportam pessoas deslocadas internamente e seus pertences pela cidade de Atme, perto da fronteira com a Turquia, até a cidade de Afrin, para fugir de ofensiva da ditadura síria, 17 de fevereiro | Foto: Rami al SAYED / AFP
Mulher e criança na acampamento Washukanni para deslocados internos perto da cidade curda de Hasakeh, Síria, 17 de fevereiro | Foto: Delil SOULEIMAN / AFP
Veículo militar da Turquia passa por vila na província de Idlib em direção a Aleppo, 19 de fevereiro | Foto: Ahmad al-ATRASH / AFP
Menino sírio no acampamento de al-Ballut em Afrin, Síria, 20 de fevereiro | Foto: Rami al SAYED / AFP
Sírios deslocados chegam ao acampamento de Deir al-Ballut em Afrin, na fronteira com a Turquia, 19 de fevereiro | Rami al SAYED / AFP
Menina síria no acampamento de al-Ballut em Afrin, Síria, 20 de fevereiro | Foto: Rami al SAYED / AFP
Menino sírio em frente a um veículo militar da Turquia em Idlib, Síria, 20 de fevereiro | Foto: Bakr ALKASEM / AFP
Edifícios destruídos na cidade de Ihsim, ao sul de Idlib, 19 de fevereiro | Foto: Omar HAJ KADOUR / AFP
Menina síria viaja em caminhão ao acampamento de al-Ballut em Afrin, na fronteira com a Turquia, 19 de fevereiro | Foto: Rami al SAYED / AFP

As famílias estão fugindo dos bombardeios levando poucos pertences e enfrentando temperaturas congelantes. Mais da metade dos deslocados são crianças.

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Muitas pessoas acabam ficando presas em estradas, entre o conflito e a fronteira fechada da Turquia, sem encontrar um lugar para ficar, relatou a Reuters. O governo turco já alertou que não tem como lidar com mais refugiados.

Segundo a ONU, pelo menos 100 civis foram mortos em ataques aéreos e terrestres neste mês na região, incluindo 35 crianças. "Quase 50 mil pessoas estão abrigadas debaixo de árvores ou em outros espaços ao ar livre", disse Mark Lowcock, coordenador humanitário da ONU.

Lowcock afirmou que "nenhum lugar é seguro" e lamentou os relatos que tem ouvido diariamente de bebês e crianças que estão morrendo por causa do frio. "Imagine o sofrimento de um pai que escapou uma zona de guerra com sua criança, para depois ver essa criança congelar até a morte."