Imagem feita pela missão de observação da ONU mostra uma casa bombardeada na localidade de Treimsa| Foto: AFP Photo

"O exército utilizou transportes de tropas do tipo BMB, armas leves, lança-foguetes. Não recorreu a aviões, nem a tanques, nem a helicópteros e nem a artilharia."

Jihad Maqdisi (foto), porta-voz do Ministério de Relações Exteriores sírio, sobre o massacre de 220 pessoas na cidade de Treimsa, na quinta-feira passada.

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O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) declarou ontem estado de guerra civil na Síria. A definição delimita as leis do conflito.

Além de aparato de proteção a civis, ficam fixadas condições para futuros processos jurídicos por crimes de guerra aos que atacam civis desarmados. "O que importa é que agora as leis humanitárias se aplicam ao país, o que significa que civis e aqueles que não estão envolvidos no conflito devem ser protegidos", disse o porta-voz do CICV, em Genebra, Alexis Heeb ao jornal The Guardian.

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A decisão da Cruz Ver­me­lha é um marco nos 17 meses da revolta síria, em que protestos pacíficos deram lugar a crescente conflito armado.

O anúncio ocorreu horas após um oficial sírio ter negado que forças do governo cometeram massacre na cidade de Treimsa na última quinta. O regime do ditador Bashar al Assad rejeita afirmação da ONU de que o ataque foi realizado com helicópteros e artilharia pesada.

Equipes da ONU retornaram ontem a Treimsa, no segundo dia de investigações das mortes. Moradores do local (bastião de opositores de Assad) afirmam que cerca de 150 pessoas foram mortas em sete horas de bombardeios e tiroteios, seguidos de um grande ataque do Exército.

Segundo testemunhas, soldados revistaram as casas, levando alguns moradores. Ontem, monitores da ONU encontraram poças de sangue e balas no local.

Mas informaram que os alvos pareciam específicos: casas onde estariam escondidos desertores e ativistas.

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Damasco classifica os opositores armados do governo de "terroristas" e alega que Treimsa tinha sido infiltrada por guerrilheiros jihadistas estrangeiros.

Segundo o porta-voz da chancelaria síria, Jihad Maqdisi, 37 pessoas foram mortas, a maioria rebeldes. "Isso não foi um massacre, foi uma operação militar. Helicópteros foram usados apenas para vigilância", afirmou.

Ativistas dizem, porém, que o episódio pode ser o maior massacre desde o início da revolta síria. A ONU estima que mais de 10 mil pessoas já morreram no país, em meio a protestos e confrontos armados de opositores com forças do governo.

No front diplomático, o enviado especial da ONU à Síria, Kofi Annan, se reúne amanhã em Moscou com o presidente russo, Vladimir Putin, para negociações sobre seu plano de paz.

O chanceler iraniano, Ali Akbar Salehi, afirmou hoje que o Irã estaria disposto a mediar tentativas de diálogo entre o governo e a oposição na Síria.

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Damasco

Combatentes oposicionistas entraram em confronto com forças do governo sírio ontem em Damasco, no que foi descrito por moradores da capital síria como o mais violento até agora dentro dos limites da cidade.

Quando anoitecia, ativistas disseram que a luta estava se espalhando da parte sul da cidade para uma segunda área e que as tropas governamentais haviam fechado a estrada de acesso ao aeroporto.

Vários moradores afirmaram estar ouvindo fortes explosões, constante troca de tiros e o som frequente de sirenes. Eles descreveram os combates como sendo os piores desde o início do levante contra o presidente Bashar al Assad, há 17 meses.

O ativista Samir al-Shami disse pelo Skype que estava havendo luta no bairro de al-Tadamon, na parte sul da capital síria, depois que combates contínuos ocorreram no anoitecer de sábado em Hajar al Aswad, distrito vizinho em Damasco.

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Na tarde de ontem, o grupo oposicionista Observatório Sírio para os Direitos Huma­nos, que faz um balanço de relatos de ativistas anti-Assad, disse que a cifra de mortos neste domingo em todo o país chegou a pelo menos 80 e que foram usados foguetes em Damasco.

"Há enfrentamentos violentos entre forças do regime e combatentes de batalhões rebeldes dessas áreas. Foram vistas ambulâncias levando membros das forças do regime para fora. Esses confrontos são os mais violentos dentro de Damasco até agora."