Notícias a respeito da Síria sublinham a violência crescente do presidente Bashar Assad contra manifestantes contrários ao governo e o Observatório de Direitos Humanos, ONG atuante em várias partes do mundo, afirmou ontem que o número de civis mortos é de 453 em seis semanas.
A reportagem procurou sírios radicados em Curitiba existem 3 mil na cidade ainda vinculados ao país árabe, para saber da apreensão que sentem diante das informações e o que dizem os seus familiares. É razoável supor que estivessem apreensivos. Razoável e errado.
Para o comerciante Namer Assad, as agências internacionais principais fornecedoras de textos a respeito da crise árabe não são confiáveis ou pior: defendem interesses políticos ocultos ligados a Israel e aos norte-americanos (por associação). A aliança com o Irã e a relutância em se curvar ao poderio israelense fazem da Síria um inimigo virtual.
Apesar do sobrenome, Namer Assad não tem parentesco com o presidente Bashar, embora se assuma como um nacionalista orgulhoso da terra natal, para onde viaja todos os anos. Ele conta que, na semana passada, ao ver no jornal que os conflitos chegaram muito perto da casa do irmão, na região de Homs, ligou para ele na mesma hora.
"Perguntei o que estava acontecendo e ele me respondeu: Nada", diz Namer. O irmão relatou que as manifestações são orquestradas por estrangeiros e não por sírios. As agências exageram ao reportar as manifestações, feitas por "meia dúzia de pessoas", e ignoram a maioria da população que aprova o regime e a intervenção contra os oposicionistas. "O povo sírio está 95% com Bashar Assad. Se não estivesse, ele já teria caído", argumenta, e cita o temperamento sírio de não ser condescendente com nada.
Youssef Youssef decorou sua loja no Centro de Curitiba com bandeiras sírias e mantém contato com parentes no Oriente Médio, viajando para lá com frequência a última vez foi em 2009. Ele também ouviu o irmão, que mora em Homs (a 250 km de Deraa, epicentro dos embates), desmentir as notícias e dizer que ninguém lá está com medo ou sofreu qualquer tipo de consequência relacionada aos protestos por democracia. "A Síria é um país onde as pessoas vivem sem medo. Você pode andar nas ruas à noite, é seguro", diz Youssef, que virou "Seu Zé" no Brasil.
"É difícil acreditar que a Síria que aparece nos jornais é a minha Síria", diz outra comerciante radicada no Paraná há 15 anos alegando timidez, ela pediu para não ser identificada. "Fui para lá no último verão e não havia nada disso." Por "isso", ela se refere às tensões entre o povo e o regime, refletindo afirmações feitas por Namer e Youssef. Ambos se mostraram muito bem informados sobre o mundo árabe e falaram de Assad com admiração genuína e não com medo como é comum em ditaduras opressoras.
Para o cônsul honorário da Síria no Paraná e Santa Catarina, Abdo Dib Abage, a crise pela qual passa o país é movida por interesses externos políticos e econômicos.
Abage destaca que, em uma república parlamentar como a Síria, o presidente é eleito de forma indireta pelo Legislativo e depois confirmado pela população, por meio de plebiscito. "Não se trata de um governo autoritário, mas de autoridade, em que o presidente tem de manter a segurança e a estabilidade nacional", diz.