Por causa do conflito na Síria entre as tropas do presidente Bashar Assad e as forças rebeldes, e com medo de perder o emprego, Youssef escapou do país. Ele deixou o cargo de gerente de hotel e veio para o Brasil. Passou por São Paulo, Santa Catarina e hoje ganha a vida em Curitiba, trabalhando em uma lanchonete no centro da cidade.
Youssef não é seu nome verdadeiro. Ele teme represálias contra sua família, que continua vivendo em Damasco, capital síria. É para lá que vai parte do dinheiro que ganha trabalhando como cozinheiro. O ex-gerente de hotel é um dos 236 mil refugiados que cruzaram as fronteiras do país em busca de abrigo em nações vizinhas, como a Jordânia e a Turquia. O número é da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR).
"Precisei sair do país para trabalhar", explica Youssef. "Muitos homens estão fazendo o mesmo. Não temos condição de fazer dinheiro por lá. Os hotéis e o comércio fecharam as portas."
O ex-gerente de hotel afirma não se importar com quem vai sair vitorioso do conflito. "Só rezo ao meu Deus que tudo acabe logo", diz.
Segundo o Consul Honorário da Síria no Paraná e Santa Catarina, Abdo Dib Abage, muitos estão na mesma condição de Youssef. "Tenho parentes que perderam o emprego por lá. Estão vivendo de economias", diz Abage.
Desde que os conflitos começaram na Síria, o Comitê Nacional para Refugiados (Conare), órgão do Ministério da Justiça, registrou o pedido de abrigo de 58 sírios. O número é inexpressivo diante do de pessoas que pediram refúgio nos países vizinhos da Síria.
"Em situações de conflitos, a ONU pede para que os governos abram suas fronteiras e recebam refugiados", explica Luiz Fernando Godinho, porta-voz da ACNUR no Brasil. Esse tipo de ação é uma responsabilidade de nações que assinaram documentos internacionais como o Estatuto dos Refugiados, de 1951.
"O grande problema de um país em guerra como a Síria é que existe uma população civil que fica no meio de um conflito armado. Os últimos anos são marcados por esse tipo de crise", diz.
"Os refugiados são consequências típicas de uma guerra civil, ainda assim trata-se de uma situação temporária", diz Ludmila Culpi, professora de Relações Internacionais do Centro Universitário Uninter. Quando Assad cair o que é mais provável, segundo ela , a tendência é que essas pessoas voltem para casa.
Para Gilberto Rodrigues, professor de Direito Internacional das Faculdades Santa Marcelina, os refugiados são uma evidência de que o conflito da Síria se "internacionalizou". "Órgãos como a ACNUR dão bastante suporte para refugiados, mas o estado que os recebe também precisa contribuir e isso tem um custo. Eles fazem isso por respeito ao princípio da cooperação", observa Rodrigues.
Para o professor, os civis que precisam pedir refúgio para não morrer são as grandes vítimas de um conflito. "As pessoas estão fugindo tanto da brutalidade das tropas de Assad quanto dos tiroteios dos rebeldes combatentes".