Imigrantes temem por suas famílias
Denise Paro, da sucursal
A instabilidade na Síria preocupa imigrantes da fronteira do Brasil e Paraguai. Pequena, a comunidade síria, que representa cerca de 5% dos 12 mil imigrantes árabes da região, mantém contato com parentes e está atenta ao que acontece no país.
A família do comerciante Hani Saad, 41 anos, conversa duas vezes por semana com parentes em Damasco. O contato, facilitado pelas redes sociais e o Skype, mostra, segundo Saad, que a situação no país é um pouco diferente do que é divulgado pela mídia.
Com base nas informações recebidas de parentes, Saad que vive em Foz do Iguaçu há 19 anos diz que a população apoia o governo de Bashar Assad.
"Como vai haver revolução se o povo de vários lugares está pacífico?", questiona. Saad diz que o ímpeto revolucionário parte de pequenos grupos e o que acontece no fundo é uma guerra comercial contra a Síria.
O comerciante declara ser a favor do governo de Assad, diz que a Síria se modernizou nos últimos anos e está bem melhor se comparada à época em que ele vivia lá. "Se tivesse revolução, deveria ter sido há 15 anos", afirma.
Mohamad Barakat, presidente da Associação Cultural Sírio-Libanesa de Foz do Iguaçu, considera que a Síria passa hoje por uma espécie de Terceira Guerra Mundial. "De um lado estão os Estados Unidos e a Otan, de outro, a China e a Rússia."
A comunidade síria do Paraná apoia o presidente Bashar Assad sem hesitar. O retrato do governante feito pelos sírios que moram aqui é diferente do visto nos relatos diários da imprensa internacional. Ao invés do ditador que reprime protestos com violência, falam de um homem culto que teve o país invadido por milícias internacionais.
"Bashar é um presidente bom, formado na Europa. Ele é o único que pode manter a tranquilidade da Síria neste momento de instabilidade", diz o comerciante Elias Abdallah, representante da comunidade sírio-libanesa de Curitiba. Sua opinião é consenso entre outros imigrantes do estado.
A maioria dos sírios paranaenses, que somam cerca de 3 mil pessoas, faz parte da minoria cristã ortodoxa. O país árabe abriga cristãos, muçulmanos sunitas, xiitas e alauítas (entre esses, o próprio Assad).
Grande parte dos opositores do regime sírio é formada por muçulmanos sunitas. "A generalização é perigosa, pois temos [por exemplo] muitos xiitas favoráveis a Bashar e vice-versa", diz o jornalista Omar Nasser Filho, que pesquisou o Oriente Médio durante pós-graduação na Universidade Federal do Paraná.
Descendente de libaneses, Nasser Filho também é diretor de comunicação da Sociedade Beneficente Muçulmana do Paraná, entidade que apoia a permanência de Assad no poder. "Entendemos que existe uma pressão externa para a queda do governo na Síria. Por isso, pequenos grupos de oposição dentro do país acabaram crescendo com o apoio internacional", diz o jornalista.
Controvérsias
As declarações dos sírios cristãos e muçulmanos do Paraná dão a impressão de que as notícias de repressão violenta do governo de Assad são mentiras, apoiadas por uma estratégia internacional. "Para mim, isso é teoria da conspiração", afirma Andrew Traumann, historiador e especialista em Oriente Médio do Centro Universitário Curitiba (UniCuritiba).
"A Síria possui um dos regimes mais fechados do mundo. Não há imprensa a não ser a do próprio estado. O que sabemos é o que vemos no noticiário internacional o retrato de uma resposta violenta a uma onda de protestos que começou com a primavera árabe", observa Traumann.
Comitiva
O vendedor Hikmat Yousef, que mora em Curitiba há 35 anos, fez parte de uma comitiva de sírios residentes no Brasil que visitou (e cumprimentou) o presidente Bashar Assad em agosto do ano passado. O grupo foi ao país para prestar apoio ao governo logo que a crise política e civil teve início.
"O problema na Síria é que existe muita pressão de países como os Estados Unidos, que querem acabar com a relação do governo de Bashar com a Rússia", diz Yousef. De acordo com ele, se a população quisesse que o presidente deixasse o cargo, ele já teria caído.
"Sabemos que o país tem corrupção e abusos de autoridades. Mas outros países não podem interferir na soberania síria. Roupa suja se lava em casa", afirma o comerciante.
Regime invade segunda maior cidade do paísDas agências
Uma tempestade de fogo caiu sobre Aleppo, bombardeada e metralhada pelas forças do regime de Bashar Assad, que tenta expulsar os rebeldes da segunda maior cidade da Síria, onde uma batalha crucial é travada. Os rebeldes conseguiram se defender das primeiras ofensivas do Exército no bairro de Salaheddine, e insurgentes afirmam que as forças do regime não progrediram e perderam tanques.
Os bombardeios começaram na madrugada de sábado no sudoeste de Aleppo, que está cercada, e continuaram com a mesma intensidade no início da tarde. Quatro helicópteros lançaram foguetes e metralharam o bairro, onde a artilharia e os tanques entraram em ação.
Segundo os rebeldes, os embates na cidade foram os mais pesados desde o início da revolta, há 16 meses. A ONU e diversos países manifestaram preocupação com o confronto, temendo a magnitude da destruição na metrópole de 2,5 milhão de habitantes, principal centro comercial e financeiro do país.
Pelo menos 29 morreram nesses embates, e a oposição elevou para 20 mil os mortos desde o início dos embates, em março do ano passado.
O governo tem sido acusado de barrar envio de provisões e comida para Aleppo. O fornecimento de energia é intermitente, falta água e cerca de 500 mil pessoas já fugiram da cidade.
Fronteira
Além da ofensiva em Aleppo, pelo menos dez obuses (granadas explosivas) foram disparados pela Síria ontem contra zonas fronteiriças com o norte do Líbano. Na cidade libanesa de Trípoli, também começaram novos enfrentamentos entre partidários e detratores do regime sírio.
Em meio ao aumento da tensão na região, a União Europeia cogita impor uma nova rodada de sanções contra a Síria, com embargo de armas e inspeções em navios e aviões. Rússia e China afirmaram que irão barrar inspeções em navios com sua bandeira.
Ainda ontem, as forças sírias libertaram dois trabalhadores italianos de um grupo terrorista que os havia sequestrado no início do mês. A imprensa italiana identificou os dois como Oriano Cantani, de 64 anos, e Domenico Tedeschi, de 36.