Washington - Se depender das pesquisas eleitorais em todo o território dos EUA, a corrida pela Casa Branca pode parecer desde uma barbada para Barack Obama até uma dura disputa entre o democrata e John McCain. De quarta-feira para cá, 11 pesquisas nacionais foram divulgadas e a diferença variava entre um empate técnico até uma margem de 11 pontos para Obama. Então, por que o democrata é considerado tão favorito? A resposta está no sistema eleitoral norte-americano, no qual a escolha do presidente é feita através de um mecanismo chamado colégio eleitoral.
O presidente dos EUA não é a pessoa que conseguir o maior número de votos nas eleições. Ganha quem tiver o maior número de representantes escolhidos por estado, além do distrito federal. Na prática, portanto, não há uma votação para presidente, mas 51 pequenas eleições presidenciais e os especialistas dão muito mais importância às sondagens estaduais do que às nacionais.
Os delegados são distribuídos pelos estados de acordo com suas populações. Por isso, o mais populoso, a Califórnia, tem 55 delegados, enquanto o Alasca tem três. Ao todo, o colégio eleitoral é formado por 538 pessoas. Para o presidente ser eleito, precisa conseguir no mínimo 270 delegados. Caso ninguém atinja esta marca, a Câmara dos Representantes decide o vencedor.
Mas o que torna as eleições nos EUA únicas no mundo é o sistema "ganhou leva tudo". Não importa a diferença de votos: o vencedor leva todos os delegados do estado.
O sistema norte-americano tem profundas implicações nas campanhas eleitorais e alguns dos funcionários mais bem-pagos pelos candidatos são os "especialistas" em Colégio Eleitoral. Cabe a eles decidir em que estados investir recursos e tempo.
Termos como estados "azuis" (democratas) ou "vermelhos" (republicanos) vêm desta forma de eleição. A última vez que um democrata levou os delegados do Texas, por exemplo, foi em 1976. Isso faz com que os três maiores estados do país (ao lado do Texas, os democratas Nova Iorque e Califórnia) praticamente não tenham investimento eleitoral, pois os delegados já estão praticamente definidos antes mesmo da escolha dos candidatos pelos partidos.
Por outro lado, estados menores ganham grande importância, e são classificados como "campos de batalha", pois tradicionalmente têm eleições disputadas. Os maiores deles são a Flórida (27 delegados) e Ohio (20).
O método permite que o candidato com o maior número de votos não seja eleito, e isso já ocorreu três vezes. Em 1876, Samuel Tilden teve três pontos porcentuais de vantagem sobre o presidente eleito, Rutherford Hayes. Em 1888, o presidente Grover Cleveland não se reelegeu, apesar ter tido 90 mil votos a mais que Benjamin Harrison.
O mais recente exemplo ocorreu em 2000, quando Al Gore teve 540 mil votos a mais que George W. Bush, mas mesmo assim perdeu por apenas 537 votos na Flórida. O atual presidente conseguiu 271 delegados.
A eleição de 2000 não gerou polêmica apenas devido ao candidato com menos votos ter sido eleito. A insignificante diferença na Flórida trouxe à tona o modo como o eleitor registra seu voto. Naquela eleição, antigas máquinas que furam as cédulas de papel fizeram com que uma grande quantidade de votos não pudesse ser contada.
Este trauma fez com que este tipo de máquina tenha sido quase abandonado (só alguns distritos rurais de Idaho ainda o usam). Mas, nos EUA, quem decide o método eleitoral são os distritos, e o país não tem um único modelo. Ele pode variar a cada estado, indo desde urnas eletrônicas até voto manual.