Em todo o mundo, pessoas que se revoltam ao saber que o presidente do Sudão bombardeia crianças e mulheres, são solidárias aos europeus que estão sofrendo as consequências da crise, se preocupam com a fome na Somália ou esperam que a presidente Dilma tome uma atitude sobre o Ficha Limpa podem se manifestar por meio de uma única organização. Em 2007, surgiu a ONG Avaaz, que está fazendo com que todos esses "indignados" se contatem e se mobilizem. Hoje, o site chegou à marca de 10 milhões de membros, espalhados por 193 países.
Mas como uma organização atua em tantas causas e congregou tanta gente em quatros anos? A resposta pode ser internet. Avaaz significa "a voz" em diversos idiomas da Europa, do Oriente Médio e da Ásia. Aqueles que simpatizam com as campanhas que a ONG defende podem manifestar seu apoio por meio de cliques, e-mails ou ligações.
O site da organização apresenta diversos abaixo-assinados relacionados a questões variadas, como negociações de paz, meio-ambiente e direitos humanos. A maioria deles tem uma meta de número de assinaturas. Quando as metas são atingidas ou superadas, as listas com o apoio de pessoas de várias regiões do mundo são apresentadas a órgãos como o Conselho de Segurança da ONU, a União Europeia ou governos. Em alguns casos, aqueles que querem participar das campanhas são instados a telefonar ou encher a caixa de e-mail de determinado órgão que tenha poderes para contribuir para a resolução do problema.
Ricken Patel, um canadense de 34 anos, é o fundador da organização e seu diretor executivo. Mestre em Políticas Públicas na Universidade de Harvard, antes da Avaaz trabalhou em países como Serra Leoa, Libéria e Afeganistão. Em uma entrevista ao jornal britânico Times, o ativista destacou que existe consenso massivo sobre temas como direitos humanos, pobreza, corrupção e meio ambiente. "O que falta é vontade política para implementar essas coisas. O único caminho é a comunidade global impulsionar isso", disse Patel. O responsável pela ONG trabalha em Nova York, mas há membros da equipe central da organização em 18 cidades de cinco continentes.
A Avaaz é 100% financiada por doações feitas pelos membros e os dados mais recentes informam que a arrecadação da organização já superou US$ 15 milhões. A média por doador é de US$ 35,00.
Clickativismo
Débora Carvalho Pereira, pesquisadora de comunicação, atualmente visitante do Centro de Pesquisa Edgar Morin, em Paris, cita o renomado sociólogo Manuel Castells para quem a "Sociedade em Rede" surge a partir da facilidade do acesso ao computador. "Na onda desse fenômeno, instituições como a Avaaz tornam as injustiças de países subdesenvolvidos mais conhecidas nos países desenvolvidos, e faz seu apelo publicitário em nome de uma justiça global", explica Débora.
Brasileiros e franceses são os que mais aderiram à missão propagada pela Avaaz: "Aproximar o mundo que temos agora do mundo que a maioria das pessoas deseja ter em todo o planeta". De acordo com os números da organização, cada um dos dois países tem mais de milhão de membros na organização.
"É muito fácil fazer movimento social pela internet. Com um clique se faz uma doação para salvar as baleias no Japão e com outro se pode pedir um sushi japonês pelo delivery, sem saber de onde veio o peixe que vai comer", analisa Débora. "Não é um ato subversivo, não se corre o risco de ser preso. É uma ação branda, confortável, ao contrário do que eram os movimentos sociais na época da ditadura brasileira, por exemplo", diz a pesquisadora, que já publicou artigos sobre a Avaaz.
Como se já estivesse prevenida para as críticas ao "clickativismo" como também são chamados os movimentos sociais na internet a Avaaz publicou uma resposta pronta em seu site: "A tecnologia sozinha não gera transformações, mas pode turbinar campanhas que tenham uma clara estratégia e teoria visando a transformações. Conectando cidadãos além das fronteiras em escala e velocidade antes impossíveis".