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Venezuela

Sob a sombra do chavismo: a detenção de Tareck El Aissami e os expurgos de Maduro

Tareck El Aissami, ex-vice-presidente da Venezuela e ex-ministro do Petróleo (Foto: EFE/ Miguel Gutiérrez)

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O recente episódio envolvendo Tareck El Aissami, ex-ministro de Petróleo da Venezuela e outrora um dos mais poderosos protagonistas do regime de Nicolás Maduro, representa mais do que uma simples detenção: é uma demonstração de como as lutas de poder e acusações de corrupção continuam a moldar a dinâmica interna do chavismo, especialmente em tempos de crise política e econômica.

El Aissami foi detido no último dia 9, acusado por tráfico de influências, corrupção na venda de petróleo via criptoativos e até traição à pátria, segundo anúncio do procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, conforme noticiado pelo Diario Las Américas e El Nacional. Esta prisão não é apenas o resultado de suas ações como ministro, mas culmina uma longa trajetória de envolvimento em atividades ilícitas que remontam à sua gestão como governador de Aragua, onde, segundo o InSight Crime, facilitou operações criminosas e teve ligações com o tráfico de drogas e a organização Hezbollah.

Baseado nas informações do site investigativo InSight Crime vale a pena trazer uma minibiografia das atividades ilícitas do outrora poderoso membro do regime chavista. Tareck El Aissami tem uma longa história de alegações relacionadas a atividades criminosas que se estendem além das fronteiras da Venezuela.

Durante seu tempo como vice-presidente e ministro em vários cargos-chave no regime venezuelano, El Aissami foi acusado pelo Departamento do Tesouro dos EUA de facilitar, coordenar e proteger operações de tráfico de drogas dentro da Venezuela. Ele supostamente estabeleceu conexões diretas com notórios traficantes de drogas e coordenou envios de narcóticos para México e Estados Unidos.

Segundo a OFAC (Agência de Controle de Ativos Estrangeiros dos EUA), ele foi responsável pela movimentação de mais de uma tonelada de narcóticos. Além disso, El Aissami é acusado de ajudar membros do grupo terrorista Hezbollah a entrar na Venezuela, facilitando suas operações dentro do país. Este conjunto de atividades ilícitas ilustra como El Aissami utilizou seu poder e posição para fortalecer uma rede de crime organizado que beneficia não apenas interesses pessoais, mas também serve aos objetivos estratégicos mais amplos do regime chavista.

Este ex-ministro viu sua carreira desmoronar em meio a investigações que apontam para um desfalque de aproximadamente US$ 15 bilhões. Este caso parece ser apenas a ponta do iceberg de uma série de manobras corruptas que permeiam o alto escalão do regime venezuelano, destacando-se o seu papel crucial na manutenção de redes de poder e influência, que incluíam conexões com o Hezbollah e tráficos ilícitos.

A narrativa oficial, apresentada por Tarek Saab, sugere que a prisão de El Aissami é uma tentativa de purgar os elementos corruptos dentro do próprio chavismo, especialmente em um momento onde Maduro enfrenta baixa popularidade e uma oposição crescente liderada por figuras como María Corina Machado. Segundo Theodore Kahn, da firma Control Risks, consultado pelo El Tiempo, a detenção seria uma estratégia de Maduro para se apresentar como um combatente da corrupção na véspera das eleições presidenciais venezuelanas, marcadas para 28 de julho.

Diosdado Cabello, outra figura proeminente do chavismo, reforçou essa narrativa ao expressar, em declarações públicas, um repúdio aos que traíram o legado de Hugo Chávez, acusando-os de corrupção e deslealdade.

“Não perdoo aqueles que estiveram ao lado do Comandante Chávez e se tornaram corruptos, traidores e desleais. Não os perdoo! porque não foi esse o exemplo que ele deu", afirmou Cabello durante um discurso no Palácio Federal Legislativo, conforme relatado pelo jornal venezuelano La Patilla.

Por outro lado, analistas como Joseph Humire, do Centro para uma Sociedade Livre e Segura, e Ronald Rodríguez, do Observatório de Venezuela, da Universidade del Rosario, questionam a genuinidade dessa cruzada contra a corrupção, argumentando que essas ações podem ser mais sobre propaganda e reorganização interna do que sobre uma verdadeira limpeza ética.

Em resumo, a detenção de Tareck El Aissami pode ser interpretada como uma estratégia dupla do chavismo: tentativa de consolidar o poder de Maduro perante uma base eleitoral desencantada e, ao mesmo tempo, enviar um sinal à comunidade internacional de que o regime está disposto a reformar suas práticas, mesmo que isso implique sacrificar um de seus outrora poderosos líderes. Este movimento também reflete o contínuo impacto das sanções internacionais, que forçaram o regime a buscar métodos alternativos e muitas vezes opacos de financiamento, como a comercialização de petróleo via criptoativos, destacando a complexa interação entre política interna e pressões externas.

Contudo, a hipótese mais verossímil é que o expurgo de El Aissami representa uma prática comum em regimes socialistas e comunistas, como observado historicamente em Cuba ou na China, onde expurgos internos são frequentemente utilizadas para realinhar o partido e eliminar ameaças potenciais ao poder estabelecido, sugerindo que, em meio às acusações de corrupção, há também uma luta de poder visceral dentro do próprio chavismo.

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