Há 30 anos fugia do Irã rumo aos Estados Unidos o monarca Xá Reza Pahlevi, acabando com 2,5 mil anos de existência do Império Persa. A derrubada do regime teve como causa uma revolta civil contra os gastos excessivos e supérfluos da monarquia, a corrupção do governo e a influência externa na economia e cultura iraniana e islâmica, fator preponderante na argumentação de líderes religiosos e de grupos não-islâmicos para aglutinar pessoas em torno da deposição do regime.
Estava pronto o cenário para uma mudança muito grande no país. Sob o governo do Xá, os movimentos de oposição e pró-Islã foram forçados a organizar-se para continuar a existir. Estes viviam sob forte repressão, especialmente os religiosos, por parte do governo, que desejava reviver o orgulho dos tempos de Imperadores como "Ciro, o Grande" e "Dario, o Grande", chegando a alterar o calendário e o ano do país de acordo com o nascimento de Ciro.
Depois de ficar preso por 18 meses e durante anos de exílio, o aiatolá Khomeini comandou a organização de movimentos islâmicos xiitas no país e, quando retornou de Paris ao Irã, em 1979, foi recebido por uma multidão em polvorosa. Em 11 de fevereiro daquele ano, com a declaração de neutralidade das Forças Armadas, o regime monárquico é oficialmente extinto. Paralelamente ao governo provisório que foi instalado, o aiatolá Khomeini conduziu um processo de plebiscito popular sobre a criação de uma República Islâmica.
Baseada nos preceitos do islamismo xiita, criou-se um sistema teocrático em que a legislação do país é a "sharya" lei islâmica baseada no livro sagrado Alcorão. Acima do parlamento e do presidente está o líder supremo, o qual delibera sobre a guerra e a paz, aprova ou veta leis e tem a última palavra em vários assuntos de Estado. O cargo, primeiramente ocupado pelo aiatolá Khomeini, hoje pertence ao aiatolá Khamenei. Não há duração de mandato definida e somente o Conselho dos Sábios pode propor sua substituição, de acordo com análise de sua conduta sob os valores da moral islâmica e da revolução iraniana.
Regime forte
Com o aparente orgulho dos cidadãos em relação à revolução, é difícil colher opiniões sobre falhas do regime. Numa palestra proferida na Universidade de Religiões Comparadas, no mês passado, o xeque Sayed Abul Hassan Navab, ex-membro do ministério de Relações Exteriores iraniano, afirmou que "o Irã, por diversas razões, acabou por desenvolver mais o setor público que o setor privado, o que causa dificuldades hoje". E complementou: "Com nossas dificuldades ainda não conseguimos eliminar a pobreza do país e os bens não são acessíveis a todos, mas acredito que em pouco tempo iremos atingir estas metas".
Trita Parsi, presidente do Conselho Iraniano-Americano nos Estados Unidos, diz que "o governo sente a pressão externa, e segmentos da sociedade iraniana estão em descompasso com os aiatolás. Mas o regime está firme e forte".
Para a celebração do trigésimo ano da revolução iraniana, na última segunda-feira, o governo do país preparou uma "surpresa" para seus cidadãos: o lançamento do satélite "Omid" (esperança), o primeiro de fabricação própria.
Censura
No Irã, além de bloquear sites como o Orkut, a censura altera textos de filmes e peças de teatro, retirando também todas as cenas de beijo, sexo e consumo de álcool. Em alguns casos a censura produziu fatos bizarros, como o relatado pelo xeque Mohsen Ashraf Zadeh: "Algum tempo atrás ia passar na tevê o filme japonês A Última Gueixa, mas a censura alterou tanto a história que a personagem já não era mais uma gueixa. A Embaixada do Japão decidiu recomprar os direitos de exibição do filme para preservar seu conteúdo".
Na semana da comemoração da revolução, as ruas das principais cidades do Irã estão recheadas com bandeiras, pôsteres, outdoors com imagens dos aiatolás Khomeini, morto em 1989, e Khamenei, o atual, junto da bandeira do Irã e com dizeres nacionalistas.
Artistas, atletas, clérigos e membros do governo se reúnem para discursar e participar de atividades em praças e ruas. Na língua local, o persa, a comemoração é chamada "Darreie Fadjer", ou "10 dias de Nascer do Sol". Também é costume visitar cemitérios de mártires da revolução, lavar seus túmulos, orar e deixar flores.