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O número de mortos nos atentados desta quinta-feira (23) no bairro xiita de Sadr City, em Bagdá, subiu para 202, segundo os últimos números da televisão iraquiana "Al Iraqiya". O aumento no número de mortos torna o atentado o mais mortífero desde a invasão do Iraque, em março de 2003.

O recorde de mortes em apenas um ataque, até agora, era o de 2 de março de 2004, com 181 pessoas assassinadas em uma série de atentados em Badgá e em Kerbala.

No atentado desta quinta-feira, os números foram maiores: além dos 202 mortos, a explosão de seis carros-bomba e o lançamento de foguetes contra o bairro deixaram 257 feridos.

Nesta sexta-feira (24), um dia após os ataques sangrentos em Sadr City, pelo menos 22 pessoas morreram e 27 ficaram feridas em dois atentados suicidas em Tal Afar, no noroeste de Bagdá.

O primeiro-ministro iraquiano, Nouri al-Maliki, anunciou que o governo indenizará as famílias que perderam algum parente nos atentados de Sadr City.

O primeiro-ministro não disse qual será a quantia das compensações nem qual organismo governamental será o encarregado de pagá-las.

Maliki deu ordens às forças de segurança para que se posicionem ao longo da estrada que une Bagdá a Najaf para garantir a segurança dos cortejos fúnebres que partirão para a cidade, 150 quilômetros ao sul da capital.

A maior parte dos mortos nos atentados desta quinta-feira eram xiitas, que têm por costume enterrar seus mortos no grande cemitério de Najaf, conhecido como Dar el-Salam.

Para cobrir o trajeto entre Bagdá e Najaf é preciso atravessar o chamado "Triângulo da Morte", cidades ao sul de Bagdá onde os grupos insurgentes sunitas são muito ativos e os atentados contra as Forças de Segurança iraquianas e os militares americanos são muito freqüentes.

A polícia iraquiana e o exército estão em estado de alerta máximo e instalaram várias barreiras nas estradas para evitar outros possíveis atentados.

Toque de recolher

Líderes das principais comunidades foram à TV pedir calma na quinta-feira, o que já havia ocorrido em fevereiro, quando um atentado a uma importante mesquita xiita, atribuído à Al Qaeda, desencadeou uma onda de violência sectária que ainda não se abateu.

"Pedimos às pessoas que ajam de forma responsável e que fiquem unidas para acalmar a situação", disseram os líderes em declaração conjunta.

Sadr City, o bairro atacado pelos carros-bomba e morteiros, é um dos mais pobres da capital iraquiana e principal palco da violência entre muçulmanos sunitas e xiitas.

As novas explosões ocorreram um dia depois de um informe alarmante das Nações Unidas revelar que o número de civis mortos no Iraque em um mês alcançou um novo recorde em outubro, 3.709, um sinal da incapacidade das forças de segurança iraquianas e americanas de conter a violência no país.

O ataque

A violência nesta quinta-feira começou com um ataque diurno no qual 30 homens armados atacarem o ministério da Saúde, localizado no centro de Bagdá. Foi o terceiro ataque em uma semana ao mesmo ministério.

Na segunda-feira, o vice-ministro da Saúde, Hakim al Zamili, escapou de um atentado em Bagdá que custou a vida de dois de seus seguranças. Isso ocorreu depois do seqüestro, no domingo, de Ammar Al Saffar, outro vice-ministro da Saúde, do qual ainda não se tem notícias.

Pouco depois morteiros já caíam em um bairro sunita próximo, aparentemente em retaliação. Ao anoitecer, havia tiroteios esporádicos em vários bairros.

Os carros-bomba de Sadr City estavam estacionados e provocaram mortes em ruas e em um mercado. Além disso, morteiros caíram na região, e residentes apreenderam um sétimo carro que segundo eles era guiado por um militante suicida.

"Conforme as bombas explodiam, todos começaram a correr e gritar", disse o foto-jornalista Kareem Al Rubaie. "Vi o carro de um casamento, coberto de fitas e flores. Estava queimando. Havia poças de sangue e crianças mortas."

Fortemente policiado pela milícia Exército Mehdi, do clérigo xiita Moqtada Al Sadr, o bairro de Sadr City permanecia até este ano relativamente ileso aos ataques da Al Qaeda e de outros militantes sunitas. Os ataques a moradores civis nos últimos meses foram vistos como uma declaração de guerra contra a milícia xiita, acusada pelos sunitas de manter esquadrões da morte.

Os novos incidentes devem agravar a tensão dentro do governo iraquiano de união nacional, apoiado pelos Estados Unidos, que pressionam xiitas e sunitas a conterem suas facções.

Na quinta-feira celebrou-se o sétimo aniversário (pelo calendário islâmico) do assassinato do pai de Sadr por agentes do regime de Saddam Hussein. Um aliado do clérigo, Fattah Al Sheikh, culpou "grupos terroristas e saddamistas", além da ocupação norte-americano, pelas explosões. "Sadr City será a pedra que afundará todas as conspirações", prometeu.

Outro líder xiita, Sami Al Askari, pediu a prisão do principal líder sunita no Parlamento, Adnan Al Dulaimi, por incitar à violência.

Contexto politico

Os ataques ocorreram no mesmo dia de uma suposta visita ao Iraque do vice-presidente dos Estados Unidos, Dick Cheney. Apesar de diversos órgãos de imprensa terem divulgado nesta quinta-feira que ele estava fazendo uma visita surpresa ao país, a Casa Branca negou a informação.

A escalada de violência também se dá dias antes da terceira reunião (em apenas seis meses) do presidente norte-americano, George W. Bush, com o primeiro-ministro iraquiano, marcada para o próximo dia 29, na Jordânia.

Bush está sendo pressionado para aplicar logo sua nova estratégia no Iraque para acabar com tanta violência. A reunião acontecerá num cenário político dramaticamente alterado.

Enquanto o premiê iraquiano, Nuri al-Maliki, se aproxima da Síria e do Irã, dois países criticados duramente por Washington, Bush é pressionado pelos democratas, que controlam o Congresso depois de sua recente vitória nas legislativas, para que retire progressivamente os 144.000 militares mobilizados no Iraque nos próximos quatro a seis meses.

No entanto, Bush insiste que não fixará um calendário para a retirada até que diminua a violência no Iraque.

O primeiro-ministro Maliki promete desmantelar as milícias ligadas a líderes xiitas, como Sadr, um importante aliado do governo, mas resiste à pressão de Washington para acelerar esse processo.

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