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Depois de 75 anos, sobreviventes do Holocausto retornaram a Auschwitz nesta segunda-feira, 27, para homenagear a memória das mais de 1,1 milhão de vítimas executadas na prisão nazista, em sua maioria judeus. O encontro também tem como objetivo lançar um alerta ao mundo frente ao ressurgimento do antissemitismo.
Vindos do mundo inteiro, cerca de 200 sobreviventes chegaram ao antigo campo de concentração nazista de Auschwitz, no sul da Polônia. Lá, eles compartilharam seus testemunhos no intuito de chamar atenção para a recente onda de ataques antissemitas pelo mundo - alguns letais.
Com gorros e lenços listrados de azul e branco, simbolizando os uniformes dos prisioneiros no campo, eles atravessaram com tristeza o célebre portal de ferro com a inscrição "Arbeit macht frei" ("O trabalho liberta", em tradução livre do alemão para o português). Acompanhados do presidente polonês, Andrzej Duda, os sobreviventes depositaram coroas de flores perto do "muro da morte", onde os nazistas mataram milhares de pessoas.
"Queremos que a próxima geração saiba o que nós vivemos e que isso não aconteça nunca mais", declarou com a voz embargada pela emoção o sobrevivente de Auschwitz David Marks, de 93 anos, antes de uma cerimônia na manhã de domingo (26).
Marks perdeu 35 membros da sua família de judeus romenos em Auschwitz, o maior dos campos de extermínio instalados pela Alemanha nazista, símbolo dos seis milhões de judeus europeus mortos no Holocausto.
História
A partir de meados de 1942, os nazistas deportaram sistematicamente judeus de toda a Europa para seis grandes campos de extermínio: Auschwitz-Birkenau, Belzec, Chelmno, Majdanek, Sobibor e Treblinka.
Para o evento desta segunda, os organizadores insistiram no fato de que a cerimônia comemorativa deve se concentrar no que os sobreviventes têm a dizer e não nas divergências políticas que marcaram os preparativos da data.
"Trata-se dos sobreviventes, não se trata de política", declarou Ronald Lauder, presidente do Congresso Judaico Mundial. "Observamos o impulso do antissemitismo, e não queremos que seu passado (o dos sobreviventes) seja o futuro de seus filhos ou netos", completou.
Chefes de Estado e de governo de quase 60 países assistiram à cerimônia desta segunda, que contou com a ausência dos líderes das grandes potências mundiais. Estes últimos participaram, na última quinta-feira, 23, de uma cerimônia semelhante em Jerusalém.
O presidente polonês, Andrzej Duda, recusou-se a ir a Jerusalém, depois de saber que não poderia fazer um pronunciamento junto com as demais autoridades. Já o presidente russo, Vladimir Putin teve um papel de protagonismo. Em dezembro, ele havia causado indignação na Polônia e no Ocidente ao afirmar que o país foi conivente com o ditador Adolf Hitler, contribuindo para a deflagração da Segunda Guerra Mundial.
Horror de Auschwitz resiste, 75 anos depois
Quando o Exército soviético chegou a Auschwitz, em 27 de janeiro de 1945, o mundo recebeu em choque a confirmação de que os nazistas mantinham um gigantesco campo de extermínio na Polônia. Em operação desde 1940, Auschwitz fazia parte de uma rede de extermínio lançada como parte da "solução final" de Adolf Hitler, que abriu caminho para o genocídio de 6 milhões de judeus.
Na verdade, os Aliados já haviam recebido informações sobre o genocídio de judeus. Em dezembro de 1942, o governo da Polônia no exílio, em Londres, apresentou um documento intitulado O extermínio em massa de judeus na Polônia ocupada pela Alemanha, incluindo relatos detalhados de membros da resistência polonesa. Mas o texto despertou suspeitas.
"Os Aliados simplesmente não acreditaram em muitos desses relatórios", disse o professor Norman Davies, historiador britânico da Universidade de Oxford. "Eles foram considerados exagerados ou como parte da propaganda de guerra polonesa."
"Apesar dos pedidos de poloneses e judeus, de Londres e Washington, para bombardear as ferrovias que levavam a Auschwitz e a outros campos de extermínio, os comandantes aliados preferiam se concentrar em objetivos militares, não em questões civis", contou Davies.
"Um dos alvos que o Exército britânico bombardeou foi uma fábrica de combustível sintético perto de Auschwitz, em 1943 e 1944", disse o historiador. "Embora aviões de combate britânicos tenham sobrevoado o campo de extermínio, nenhuma ordem de bombardeio foi dada."
O professor polonês Dariusz Stola, especialista em história dos judeus da Polônia, também relata o desinteresse do comando aliado. "Os chefes militares não gostavam que os civis interferissem em seus assuntos", disse. "Para os comandantes aliados, bombardear Auschwitz ou suas linhas de suprimento parecia uma operação humanitária. E eles não queriam."
Para alguns sobreviventes, o pesadelo dos campos de concentração ainda está vivo. "Os soldados alemães nem precisavam mais apontar o dedo para enviar alguém para a câmara de gás", lembra Bronislawa Horowitz-Karakulska, de 88 anos, polonesa que ficou presa em Auschwitz aos 12 anos com sua mãe. "Quem parecia fraco, magro e ossudo era escolhido para morrer." Ela sobreviveu porque sua mãe subornou os guardas alemães com um diamante que ela conseguiu levar para o campo. "Havia muitos soldados, cães latindo, agitação, medo. Auschwitz foi um horror."
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