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Prostrado em uma maca, Victor Sevilla contou horrorizado como salvou a própria vida na madrugada desta quarta-feira (15), ao fugir pelo teto do gigantesco incêndio na penitenciária de Comayagua, onde cerca de 300 prisioneiros morreram, muitos agarrados às barras de suas celas.

Apavorados com as chamas, os réus - segundo depoimentos - tiveram ainda que escapar dos tiros para o alto que os guardas efetuaram acreditando, em um primeiro momento, que se tratava de uma tentativa de fuga.

"Foi muito triste, acordei com a gritaria dos colegas que já estavam quebrando o teto de madeira e zinco. Saímos e pulamos. Tivemos que nos atirar de um muro, os outros estavam morrendo, em meio às chamas", contou Sevilla no hospital de Comayagua, 90 km ao norte de Tegucigalpa.

"Um preso que trabalha na enfermaria quebrou três cadeados e conseguiu salvar muita gente", relatou Sevilla, de 23 anos, condenado a 12 por homicídio, que escapou de sua cela e da morte com uma fratura no tornozelo.

Foram levados para o hospital Santa Teresa cerca de 30 sobreviventes do terrível incêndio que consumiu quase a metade da fazenda penal, onde os detentos se dedicavam ao cultivo de hortaliças e à criação de animais.

A tragédia começou às 22h50 locais de terça-feira (02h50 de quarta, horário de Brasília) com um incêndio, cujas causas ainda são investigadas pelas autoridades, controlado pelos bombeiros três horas depois.

Os presos que se salvaram relataram cenas dantescas de colegas que morreram carbonizados, agarrados às barras de suas celas, sem conseguir quebrar os cadeados que os mantinham presos. "Morreram pegando fogo, foi um inferno", contou um dos sobreviventes, não identificado.

Fabricio Contreras, de 34 anos, foi um dos primeiros presos a conseguir sair e contou que os guardas da penitenciária "atiraram para o alto porque pensavam que se tratava de uma fuga".

"Estava dormindo quando acordei com os gritos dos colegas. De repente, vi as chamas subindo, as pessoas queriam sair pelo portão, mas ninguém abria. Saímos pelo teto e pulamos um muro", relatou.

"Foi horrível como pediam socorro das outras celas porque estavam queimando", continuou Contreras, que recebeu atendimento com uma lesão na perna direita e queimaduras leves.

Eberth López, de 29 anos, preso por homicídio, contou que foi acordado pelos colegas. "Olhamos as línguas de fogo. Todos gritavam pedindo socorro, não abriam os portões para nós, as chaves não apareciam", contou à AFP, ainda comovido.

Nos arredores do hospital, em cuja entrada foi colocada uma lista com os presos internos no local, dezenas de pessoas procuravam por seus parentes desesperadas.

"Meu filho ficou asfixiado ali. Os guardas não abriram a porta para que morressem queimados. Se tivessem aberto a porta, teriam se salvado. Disparos foram feitos quando os réus, desesperados, queriam sair", relatou Leônidas Medina, de 69 anos.

Trezentos familiares, entre homens, mulheres e crianças, que pediam informações sobre os presos nos arredores da penitenciária, enfrentaram a polícia a pedradas, furaram o cerco e se concentraram no pátio frontal, mas os agentes, com tiros para o alto, conseguiram controlar a situação.

"Não abriram os portões para os bombeiros. Quando quiseram sair, ninguém tinha as chaves da cela e morreram queimados nas portas da cela", afirmou Omar Tróchez, de 27 anos.

O presidente de Honduras, Porfirio Lobo, anunciou nesta quarta-feira o afastamento temporário das autoridades penitenciárias para garantir uma investigação eficaz das causas do incêndio, que qualificou de "lamentável e inaceitável tragédia".

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