Pedro Sánchez, primeiro-ministro da Espanha, comemora vitória na sede do Partido Socialista em Madri, 10 de novembro de 2019| Foto: Angel Navarrete / Bloomberg

Foi um ano ruim para qualquer tipo de socialista na Europa. O declínio tem sido longo e angustiante para uma força que já foi dominante no passado, mas em 2019 a queda de popularidade alcançou novas profundezas e levantou questões sobre se uma reinvenção pode levar a um ressurgimento.

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Uma década atrás, os primeiros-ministros do Reino Unido, Espanha, Grécia e até da Hungria eram de centro-esquerda. Muitos perderam o poder rapidamente, mas outros governos socialistas surgiram na França e na Itália. Agora, essa identidade política parece um anacronismo.

O populismo testou a capacidade de adaptação dos principais partidos e algumas siglas de centro-direita estão se recuperando. Isso não se pode dizer da esquerda tradicional. Ela se inclinou em direção ao meio termo na década de 1990 e depois pagou o preço por ter mudado de posição. Mas a mudança para uma ideologia radical ao estilo dos anos 1970 mostrou-se igualmente fora de sincronia com os tempos.

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Este ano termina com a humilhação do Partido Trabalhista nas eleições de 12 de dezembro no Reino Unido e os social-democratas da Alemanha mais impopulares do que em qualquer momento na memória viva. Na Itália e na Espanha, a centro-esquerda está no governo apenas graças a alianças precárias com os grupos anti-establishment que cresceram a partir da crise financeira de 2008.

Para Jacob Funk Kirkegaard, membro sênior do Instituto Peterson de Economia Internacional em Washington, o mal-estar é profundo, na verdade, desde a era da Guerra Fria no início dos anos 1970. "Não houve um líder de esquerda carismático e genuíno que fez uma verdadeira diferença na Europa desde Willy Brandt", que ganhou o prêmio Nobel por construir pontes entre o ocidente e o oriente e abrir o caminho para a reunificação alemã.

É isso que os partidos enfrentam ao entrar em 2020:

Reino Unido

Os eleitores esgotados pelo Brexit não foram convencidos pelas promessas do líder trabalhista Jeremy Corbyn de uma revolução socialista, que incluiria tudo, desde nacionalização da indústria até banda larga gratuita.

O partido perdeu a Escócia anos atrás, mas neste mês áreas do norte da Inglaterra pós-industrial abandonaram os trabalhistas, algumas pela primeira vez em sua história. Desenterrando o passado dos anos 1980, Corbyn é o líder da oposição mais impopular da história britânica.

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Canal noticia a renúncia do líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, na estação de Liverpool Street, Londres, 13 de dezembro de 2019| Foto: Bryn Colton / Bloomberg

Tony Blair colocou o Partido Trabalhista de novo no poder ao arrastar o partido para o centro, vencendo três eleições consecutivas. Mas sua decisão catastrófica de seguir os EUA na guerra no Iraque destruiu seu legado e o tornou tóxico no seu país. Seu alerta esta semana foi existencial.

"A escolha para o Partido Trabalhista é renovar-se como um competidor sério, progressista e não conservador pelo poder na política britânica, ou recuar de tal ambição - e nesse caso ele será substituído com o tempo", disse Blair a uma plateia.

Alemanha

No centro da crise de identidade está uma dura realidade: os eleitores da classe trabalhadora estão abandonando os próprios partidos cuja razão de ser era protegê-los. Operários estão mudando de lado. Hoje, existem não apenas poucos deles - já que as economias evoluíram para mão-de-obra altamente qualificada -, mas os que restam são mais conservadores socialmente e se opõem à imigração.

Como seus pares em outras partes da Europa, o Partido Social Democrata da Alemanha tem se esforçado para encontrar o antídoto para uma onda de opiniões anti-imigração e para impedir que os Verdes conquistem jovens eleitores com consciência ecológica.

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O SPD está depositando suas esperanças em duas incógnitas para tirá-lo de uma crise existencial depois de governar com os conservadores da chanceler Angela Merkel, o que prejudicou a sua marca. Hoje, o SPD, o partido mais antigo do país, ocupa o quarto lugar nas pesquisas com menos de 15%. Os Verdes poderiam potencialmente substituir o SPD na coalizão no futuro.

Propostas como um imposto sobre mais os ricos e um aumento do salário mínimo foram descritas por um crítico do SPD como uma "caixa de naftalina socialista requentada". "Se eles forem mais para a esquerda, o SPD deixará de ser um partido do povo", alertou Andrea Roemmele, pesquisadora de comunicação política na Hertie School, em Berlim.

França

No quesito queda na popularidade, poucos líderes conseguem bater François Hollande, o presidente mais repudiado do país. Os seus socialistas estão nas últimas e seu ex-primeiro ministro declarou o partido "morto e enterrado".

Definitivamente, os socialistas franceses sempre foram propensos a brigas internas. Em 2002, o fracasso do partido em unir-se para apoiar o seu candidato à presidência permitiu que o líder de extrema-direita Jean-Marie Le Pen disputasse o segundo turno com Jacques Chirac. Mas desta vez o caminho de volta parece muito mais longo.

O presidente Emmanuel Macron foi o mais recente beneficiário, criando um partido centrista que triunfou em 2017. Desde então, ele emergiu como a voz mais forte da União Europeia.

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Itália

A fluidez política é outro desafio, especialmente em partes do sul da Europa sem um sistema de dois partidos ou onde o cenário político se fragmentou completamente. Longe vão os dias em que você permanecia com a sua tribo por toda a vida.

Os eleitores estão dispostos a experimentar e não há laboratório político melhor do que a Itália, onde os partidos surgem e desaparecem num piscar de olhos. Lá, as alianças mais estranhas são forjadas, como a entre populistas rivais.

Isso explica por que a centro-esquerda mudou seu nome inúmeras vezes. Sua última encarnação como Partido Democrata está tentando reconstruir sua base de apoio e está no governo com o populista Movimento Cinco Estrelas. Mas juntos eles alcançam o mesmo número nas pesquisas que a Liga, o partido anti-imigração de Matteo Salvini, que está ansioso por uma eleição e acabará por conseguir uma.

Espanha e Portugal

Quando chegar a hora, a estratégia da centro-esquerda na Itália é atrair os eleitores para longe do Cinco Estrelas. Na Espanha, Pedro Sanchez apostou quando convocou duas eleições no espaço de um ano para tentar afastar sua dependência dos populistas de extrema esquerda Podemos. Não deu certo.

Ele também está preso em um casamento de conveniência mútua e temporária. Isso deixa Portugal como um oásis da esquerda na Europa, mas cada vez mais isso parece uma exceção.

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Grécia

A política tribal era a norma na Grécia até o país se tornar o epicentro da crise da dívida na Europa. Dois partidos se revezaram no poder desde que a junta caiu em 1974. Mas, quando o partido socialista Pasok se tornou a maior vítima política da agitação, um grupo mais à esquerda preencheu o vácuo.

A Coalizão de Esquerda Radical de Alexis Tsipras, ou Syriza, chegou ao poder em 2015 e desafiou efetivamente a Europa a um duelo sobre a austeridade e a adesão da Grécia ao euro. Ele piscou, transformou-se no marxista domado por Bruxelas e foi expelido do cargo este ano. Ele saiu com sua reputação internacional melhorada, mas em casa a conservadora Nova Democracia está de volta ao poder.

Malta

Na ilha mediterrânea de meio milhão de pessoas, o Partido Trabalhista desfrutava de um longo período no governo, até que o legado do país de negligenciar o combate à corrupção o atingiu. Joseph Muscat, primeiro-ministro desde 2013, foi elogiado pelo crescimento econômico de Malta. Agora ele enfrenta a indignação popular por causa de um escândalo de assassinato.

Dois anos após o assassinato brutal da jornalista Daphne Caruana Galizia, a investigação policial atingiu o círculo interno de Muscat. Ele nega qualquer envolvimento e anunciou que vai renunciar no próximo mês. Os manifestantes querem que ele se vá agora.

Escandinávia

Na Suécia, uma onda de extrema-direita abalou o bastião da democracia liberal. Os social-democratas conseguiram juntar um governo, mas pela primeira vez em décadas eles não são mais o partido mais popular na maioria das pesquisas de opinião, ultrapassados pelo Democratas Suecos, partido anti-imigração.

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Os social-democratas na Dinamarca conseguiram pelo menos voltar ao poder este ano, embora em parte porque adotaram algumas políticas de seu rival anti-imigrante, como controles mais rígidos.

Leste Europeu

No leste europeu, os partidos socialistas estão em declínio há anos, enquanto líderes populistas de direita, como Viktor Orbán, da Hungria, e Jaroslaw Kaczynski, na Polônia, consolidaram poder ao retratar alguns oponentes como apologistas do comunismo. O Partido Lei e Justiça de Kaczynski ganhou um segundo mandato em outubro com uma maioria parlamentar absoluta, embora contra um oponente principal que é da centro-direita.

Mas na Romênia, o Partido Social Democrata de esquerda fez parte do governo por mais de uma década, até que seu governo minoritário entrou em colapso no mês passado. Para o ex-chefe do partido e líder nacional Liviu Dragnea, sem dúvida não poderia ficar pior. Ele foi preso em maio por corrupção.