Soldados norte-coreanos que foram enviados para lutar ao lado das forças russas na guerra contra a Ucrânia podem enfrentar um destino sombrio caso retornem ao seu país de origem.
De acordo com especialistas, o regime de Kim Jong-un pode optar por enviar esses combatentes para os chamados “gulags” – campos de trabalho forçado - caso eles sobrevivam às batalhas. A informação foi destacada pelo especialista britânico em assuntos militares sobre a Rússia, Keir Giles, em entrevista ao tabloide Mirror.
Segundo Giles, a preocupação principal do regime norte-coreano gira em torno do risco de que esses soldados retornem com ideias consideradas “subversivas”, fruto do contato com uma realidade “menos opressiva” do que a vivida em seu país.
“Seria perigoso para o regime norte-coreano permitir que eles voltassem e contaminassem outros com o conhecimento do que viram. Podemos ver o retorno do tipo de expurgos que foram realizados contra o Exército Vermelho em 1945, quando retornaram da Europa. Grandes contingentes foram cercados e enviados aos gulags”, disse ele.
“Há uma boa razão pela qual a Rússia manteve os soldados norte-coreanos em seu território até agora. Eles já tiveram problemas suficientes com seus próprios soldados russos que, ao entrarem na Ucrânia, perceberam como a vida é melhor fora da Rússia. Os indivíduos da Coreia do Norte provavelmente nunca serão autorizados a voltar para casa agora que experimentaram como é a vida fora da Coreia do Norte, mesmo que seja em regiões da própria Rússia”, afirmou o especialista.
Segundo relatórios da inteligência dos Estados Unidos e de outros países do ocidente, bem como da própria Ucrânia, aproximadamente 12 mil soldados norte-coreanos estão atualmente em solo russo, principalmente na região de Kursk, onde ajudam as forças do regime de Vladimir Putin na batalha contra os ucranianos. A participação militar de Pyongyang ao lado de Moscou é fruto de um acordo de defesa mútua firmado no ano passado entre os dois países, considerado o mais significativo desde o fim da Guerra Fria.
Historicamente, os gulags foram usados pelo regime soviético para punir qualquer pessoa considerada uma ameaça ao sistema comunista. Segundo Giles, milhares de soldados soviéticos que retornaram da Europa após a Segunda Guerra, principalmente os que foram prisioneiros de guerra e os que se renderam, passaram por uma triagem em campos de concentração, onde sua lealdade ao sistema comunista foi meticulosamente avaliada. Muitos desses soldados acabaram em campos de trabalho forçado - os gulags – sob suspeitas de serem traidores ou de terem colaborado com o inimigo. A rendição era considerada um crime sob o código militar soviético.
O tratado de cooperação militar assinado por Kim Jong-un e Vladimir Putin prevê assistência militar imediata em caso de ataque a qualquer um dos países, além de promover uma “nova ordem mundial multipolar” e maior colaboração em áreas como energia nuclear, espaço e alimentação.
Para Giles o envio de soldados norte-coreanos para a Rússia foi o primeiro teste envolvendo a cooperação militar entre os dois países.
“Este é apenas um teste inicial [...] se não houver uma resposta firme do Ocidente para conter a Coreia do Norte e a Rússia, nada os impedirá de ampliar essa cooperação”, disse o especialista ao Mirror.
A participação de tropas norte-coreanas na invasão da Ucrânia representa a primeira vez desde a Guerra da Coreia (1950-1953) que o país se envolve em um conflito de grande escala. A medida é um reflexo direto do aprofundamento das relações entre Moscou e Pyongyang, que buscam se fortalecer mutuamente diante das sanções ocidentais e da pressão internacional.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou em dezembro que mais de 3 mil soldados norte-coreanos já foram mortos ou feridos em combates na região de Kursk desde que começaram a ser mobilizados. Relatórios também apontam que as baixas entre esses soldados têm sido alarmantes, com centenas de mortes apenas em um curto período de tempo.