A disputa presidencial peruana tem sido abalada por suspeitas de que o dinheiro do narcotráfico estaria chegando às campanhas políticas.
O presidente do país, Alan García, dois dos principais candidatos à Presidência e membros do partido de um terceiro candidato têm sido relacionados pela polícia ou pela imprensa local a supostos traficantes ou plantadores de coca.
Dois desses candidatos, o favorito Alejandro Toledo e o esquerdista Ollanta Humala, negam qualquer vínculo direto com traficantes ou plantadores de coca, e afirmam que as denúncias são frágeis.
Já García, que não pode disputar um novo mandato em 10 de abril, admitiu que na sua última campanha sem querer aceitou dinheiro de pessoas que estavam sob investigação; a candidata presidencial Keiko Fujimori insistiu na inocência de seus doadores.
A Organização das Nações Unidas (ONU) diz que o Peru é o maior produtor mundial de coca, matéria-prima da cocaína. Embora nenhum dos políticos tenha sido acusado de colaborar com traficantes, as denúncias envolvendo o financiamento das campanhas geraram indignação na opinião pública.
Esses casos parecem confirmar o que autoridades e diplomatas há muito tempo temiam: que os produtores de coca e os traficantes, depois de anos influenciando eleições locais, iriam começar a tentar influenciar a política em nível nacional.
"Eu acho que não há mais dúvidas de que o tráfico de drogas penetrou na política, e não apenas no VRAE e Huallaga", disse Fernando Rospigliosi, ex-ministro do Interior, em referência aos principais vales de plantio de coca do Peru.
Os Estados Unidos, de acordo com pelo menos três despachos diplomáticos obtidos pelo site WikiLeaks, também estão preocupados com a influência dos traficantes sobre as instituições peruanas.
As principais zonas peruanas de plantio de coca são dominadas por grupos remanescentes da guerrilha Sendero Luminoso, praticamente erradicada na década de 1990. Todos os principais candidatos prometem intensificar o combate à produção e ao tráfico de drogas.
"Não podemos permitir que a narcopolítica ou o narco-Estado penetrem no nosso território nacional", disse Humala, candidato do Partido Nacionalista, na semana passada.
Mas a influente parlamentar Nancy Obregón, ligada a Humala, já foi investigada por defender o uso da folha de coca em alimentos e cerimônias tradicionais. Ela nega ter relações com traficantes, e Humala diz acreditar na sua inocência.
Toledo, que já foi presidente e lidera as pesquisas, foi fotografado em um clube hípico na companhia de Manuel Sánchez Paredes, que pertence a uma família investigada pela polícia por suspeita de lavagem de dinheiro e tráfico de drogas.
O candidato diz que a foto foi tirada num breve encontro durante um evento público realizado em 2006, e que ele está sendo vítima de uma campanha de difamação. Os membros da família Sánchez Paredes insistem que sua riqueza advém de atividades legítimas de pecuária e mineração.
Keiko Fujimori afirma ter recebido 10 mil dólares, na sua campanha parlamentar de 2006, de duas mulheres cujo pai foi preso em 1993 por tráfico de drogas. As mulheres também foram sentenciadas, mas Keiko, filha do ex-presidente Alberto Fujimori, afirma que elas foram vítimas de uma perseguição. "Eles foram todos absolvidos. Para mim, eles são inocentes", disse ela a um TV.
No mês passado, García devolveu uma doação de 5.000 dólares feita à sua campanha presidencial de 2006 por um advogado que trabalhou para a família Sánchez Paredes. O presidente disse que não sabia a origem do dinheiro, e negou ter relações com a família.
Depois de eleito, García promoveu uma investigação sobre a família, mas críticos dizem que houve poucos avanços.
"Você não pode comprar a consciência de Alan García com essa quantia, nem mesmo com 5 milhões de dólares", disse o presidente ao jornal El Comercio, acrescentando que os traficantes não estão ameaçando a estabilidade do Peru.
"Um narco-Estado é quando os poderes básicos são dominados por lobbies. Graças a Deus, isso não existe aqui."
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