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Artigo

Somos o número 1 (1)!

Eu gostaria de compartilhar dois artigos que li recentemente que, acredito, abordam o cerne do que aflige os Estados Unidos hoje – algo que é muito pouco comentado. O primeiro foi na revista Newsweek, com o irônico título de "Somos o N.o 11!" O texto, de Michael Hirsh, afirmava: "Teriam os EUA perdido seu encanto de superpotência? Nem mesmo o presidente Obama está imune ao clima de melancolia. ‘Os Estados Unidos não se contentarão com o número 2!’ gritou Obama num comício político no início de agosto. Que tal o número 11? Essa é a posição dos EUA na lista da Newsweek para os 100 melhores países do mundo, nem mesmo entre os 10 primeiros".

O segundo artigo, que poderia ter se chamado "Por que somos o N.o 11", foi escrito pelo colunista de economia do jornal Washington Post, Robert Samuelson. Por que, perguntou ele, os americanos gastaram tanto dinheiro em reformas educacionais e têm tão pouco a mostrar em termos de notas? Talvez, ele respondeu, a culpa não seja apenas de professores ruins, diretores fracos ou sindicatos egoístas.

"A maior causa do fracasso é a desmotivação dos estudantes", escreveu Samuelson. "Os estudantes, afinal, são quem faz o trabalho. Se eles não estão motivados, até mesmo os professores eficientes podem fracassar. A motivação vem de muitas fontes: curiosidade e ambição; expectativas dos pais; o desejo de entrar numa ‘boa’ faculdade; professores inspiradores ou intimidadores; pressão dos colegas. A suposição implícita em tantas ‘reformas’ do ensino é que, se os alunos não estão motivados, a culpa é principalmente das escolas e dos professores". Errado, segundo ele. "A motivação está fraca porque mais estudantes (de todas as raças e classes sociais, que fique claro) não gostam da escola, não se esforçam e não têm um bom desempenho. Numa pesquisa de 2008 com professores do ensino médio de escolas públicas, 21% julgaram as faltas como um grave problema; 29% citaram ‘apatia dos alunos’".

Há muita solidez no argumento de Samuelson – e ele é um microcosmo de um problema maior, que os americanos não enfrentaram de frente enquanto se recuperavam da recessão: os Estados Unidos tiveram um colapso de valores – uma epidemia nacional de "ficar-rico-rapidamente" e de tentar receber algo em troco de nada.

Pergunte a si mesmo: o que tornou grande a Grande Geração Americana? Primeiro, os problemas enfrentados por eles foram enormes, cruéis e inescapáveis: a grande depressão, o nazismo e o comunismo soviético. Segundo, os líderes da Grande Geração nunca tiveram medo de pedir que os cidadãos americanos se sacrificassem. Terceiro, aquela geração estava pronta para se sacrificar, e se unir, pelo bem do país. E quarto, por estarem dispostos a fazer coisas difíceis, eles ganharam a liderança global da única forma possível – dizendo: "Sigam-nos".

Compare isso à chamada Geração Baby Boomer, daqueles nascidos no pós-guerra. Os grandes problemas dos EUA estão aparecendo progressivamente – o declínio na educação, na competitividade e na infraestrutura, além do vício em petróleo e as mudanças climáticas. Os líderes dessa geração nunca se atreveram a pronunciar a palavra "sacrifício". Todas as soluções precisam ser indolores. De que remédio você gostaria? Um estímulo dos democratas ou um corte de impostos dos republicanos? Uma política nacional de energia? Difícil demais. Durante uma década, os americanos enviaram suas melhores mentes não para desenvolver chips de computadores no Vale do Silício, mas para produzir fichas de pôquer em Wall Street.

Num mundo onde todos têm acesso a tudo, os valores são mais importantes do que nunca. Neste momento, hindus e confucianos possuem mais ética protestante do que os americanos – e enquanto isso continuar assim, os Estados Unidos serão o número 11.

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