Sempre teatral, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, regressou de surpresa ao seu país depois de passar por cirurgia em Cuba para extrair um tumor cancerígeno. Ele disse estar "bem", apesar das especulações de que ainda precisará de um prolongado tratamento.
"Aqui estou, em casa e feliz! Bom dia, amada Venezuela", disse o esfuziante presidente, dando um soco no ar e cantando uma canção folclórica assim que seu avião pousou, nas primeiras horas da manhã. "Agora vou descansar um pouco."
Minutos depois, militantes chavistas estavam nas ruas aos gritos de "Ele voltou!"
A volta de Chávez altera novamente a dinâmica política na Venezuela, onde políticos de todas as facções vinham se preparando para uma ausência de vários meses do homem que há 12 anos domina o país petroleiro.
Famoso por sua imprevisibilidade, Chávez, de 56 anos, ressurgiu em cima da hora para os dois dias de celebração do bicentenário da independência venezuelana da Espanha.
"Ele queria evitar que a situação degringolasse", disse o analista norte-americano Michael Shifter. "O bicentenário era uma ocasião imperdível demais ... era politicamente irresistível."
A TV estatal mostrou Chávez se despedindo em Havana do presidente cubano, Raúl Castro, e depois sendo cumprimentado por ministros no aeroporto de Maiquetia, nos arredores de Caracas.
"Estou ótimo, me sinto bem", disse Chávez. "Estou de volta ao epicentro de (Simón) Bolívar", acrescentou, em uma referência ao seu ídolo, herói da independência venezuelana.
Apesar da euforia entre os seguidores, o estado de saúde de Chávez continua cercado de mistério, e é possível que ele tenha de se submeter a um prolongado tratamento, o que talvez afete sua capacidade de disputar a reeleição em 2012.Chávez disse que o desembarque é "o começo do retorno", frase entendida por alguns como um sinal de que ele manterá uma agenda discreta, ou mesmo que voltará a Cuba para futuras etapas do tratamento.
O vice-presidente do país, Elías Jaua, disse que Chávez ficaria descansando no Palácio Miraflores, em Caracas. "Todos nós temos de ajudá-lo a se tratar para que se cure. Ele não precisa de atendimento hospitalar no momento. Pode receber tratamento na sua residência, onde estiver."
Visita ao palácio
Mesmo com as dúvidas que pairam sobre sua saúde, a volta de Chávez à Venezuela cala os críticos que vinham acusando-o de violar a Constituição e colocar a segurança nacional em risco por continuar governando o país a partir de um hospital no exterior.
"Chávez não precisava se mostrar forte, recuperado ou com energia. Precisava só aparecer de volta aqui para mostrar ao povo que é capaz de superar toda a adversidade", disse o analista local Luis Vicente León à Reuters. "Esta aparição pode ter um efeito mágico e motivacional sobre seus seguidores."
Chavistas foram convocados para irem à tarde ao palácio dar as boas vindas a Chávez. Desde sua posse, em 1999, o presidente costuma aparecer na sacada do palácio em momentos cruciais, como ao ser devolvido ao poder após um efêmero golpe de Estado em 2002.
Nos últimos anos, Chávez vinha comandando intensos preparativos para o bicentenário da Venezuela, celebrado na terça-feira. Não por acaso, batizou de "Bicentenário" uma rede de supermercados que foi nacionalizada, além de um grupo de bancos.
Estão programados um desfile militar e festas nas ruas, mas Chávez já sinalizou que, embora esteja em Caracas, não terá condições físicas de participar. Por toda a capital, chavistas começaram a antecipar as festividades, em alguns casos com música.
"Ele trouxe a alma de volta aos nossos corpos, o sorriso de volta às nossas vidas. Bem-vindo à sua casa, comandante!", disse o apresentador de TV Mario Silva, chavista convicto.Em Cuba, o amigo e padrinho político Fidel Castro previu que Chávez irá derrotar o câncer. "O paciente trava uma batalha decisiva que irá levar ele e a Venezuela a uma grande vitória", escreveu o ex-presidente cubano.
Já os membros da oposição venezuelana reagiram com menos fervor. "Ele continua doente. Como pode governar a Venezuela?", disse uma mulher, filiada ao partido Ação Democrática, que pediu para não ser identificada "para que os chavistas não venham atrás de mim."