Chávez visita estação de comunicação via satélite. Presidente venezuelano convocou batalha ideológica na internet| Foto: Palácio Miraflores/Divulgação/Reuters
Veja quais os líderes mundiais aderiam ao twitter:

A notícia da adesão do presidente venezuelano Hugo Chávez ao Twitter teve o impacto de uma conversão milagrosa. De detrator, Chávez se tornou há duas semanas um usuário apaixonado do serviço de micropostagens, e afirma que a sua inscrição no site tem por objetivo participar da "batalha na internet". Anteriormente, o venezuelano havia dito que o Twitter se tratava de uma "ferramenta de terrorismo", e ensaiado restrições ao acesso do site em território venezuelano.

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Desde que assumiu o poder na Venezuela, há 10 anos, Chávez tem sido um presidente a utilizar os meios de comunicação para consolidar a sua imagem e seu projeto de governo. Mas até então os rompantes midiáticos do bolivariano haviam ocorrido apenas nos meios eletrônicos de massa. O programa dominical de tevê "Alô presidente", apresentado por Chávez há 11 anos, inclusive levou a oposição a encetar que Chávez governa pela televisão.

Chávez considera o debate no Twitter como uma guerra verdadeira. Todas as suas declarações usam metáforas bélicas para descrever as características da rede. Uma "batalha ideológica", diz o presidente, que é seguido por mais de 200 mil pessoas. Em um país onde os meios de comunicação tradicionais sofrem insistente pressão governamental, a hashtag (tópico de discussão) freevenezuela (Venezuela Livre) se tornou uma das mais difundidas no Twitter, trazendo simpatia internacional à causa.

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"Estas divisões partidárias ferrenhas são um fenômeno da política extremista que acabam ocorrendo também na internet", avalia o doutor em ciência política Sérgio Amadeu da Silveira, pesquisador de cibercultura. "A Venezuela hoje tem uma divisão intensa que se acaba se traduzindo na web, potencializando debates que existem na vida real."

Porém Chávez não é um estadista pioneiro no Twitter. Desde que a ferramenta se popularizou, há pouco mais de dois anos, políticos em todo o mundo perceberam o poder de penetração e influência das mensagens de 140 caracteres, principalmente entre os jovens eleitores (ver ao lado). Nesta última sexta-feira, foi a vez de Álvaro Uribe, presidente colombiano e desafeto de Chávez, anunciar o início de suas atividades tuiteiras. Um de seus primeiros tweets foi justamente uma alfinetada na vizinha Venezuela. "A Colômbia tem todo o direito de exigir que nenhum país abrigue terroristas colombianos", escreveu Uribe, referendo-se à acusação de que a Venezuela dá guarida a integrantes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

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Antes de começar a tuitar, Chávez declarou como objetivo alcançar o número de seguidores do presidente americano Barack Obama, que se tornou um tuiteiro notório durante a campanha presidencial que o conduziu à Casa Branca, em 2008. Sempre acompanhado de seu smartphone, o presidente americano chegou a anunciar a escolha de seu candidato à vice-presidente vice-presidente pelo Twitter, valorizando o eleitorado ao passar diretamente a ele o "furo noticioso". Com mais de 4 milhões de seguidores, Obama atualmente é o quarto perfil mais popular do site.

Para Kelly Prudencio, professora da pós-graduação em comunicação da Universidade Federal do Paraná, sites de interação como o Twitter ajudam a quebrar o gelo da relação governante-governado. "Essas ferramentas da internet tem contribuído para a informalização da figura do chefe de Estado. Mesmo que a aproximação com o cidadão não seja real, dá a impressão de que a distância institucional foi diminuída", analisa.

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O Twitter se notabilizou pelo rápido avanço entre pessoas com função de liderança. Ao contrário de sites de relacionamento como Orkut e Facebook, o serviço de microblogs restabeleceu a figura do formador de opinião. Não só os presidentes, mas outros líderes podem falar a centenas de milhares de pessoas sem ter a obrigação de seguir de volta essas pessoas. "O Twitter criou este apelo entre políticos porque conserva certas características de broadcasting. O político ou artista não necessariamente precisa responder à pessoas que os leem. E se o faz, pode filtrar os questionamentos para responder somente sobre o que lhe interessa", ressalta Sérgio Silveira.