Pesquisadores da Universidade de Alberta, no Canadá, provaram que o tetrahidrocanabinol (THC), substância presente na maconha, pode melhorar a sensação de gosto e a qualidade do sono em pacientes com câncer que recebam quimioterapia. O trabalho foi divulgado na edição deste mês de uma publicação científica da Sociedade Médica de Oncologia Europeia.
O estudo piloto foi conduzido entre maio de 2006 e dezembro de 2008, com 21 pacientes adultos, todos eles portadores de algum tipo de câncer em estágio avançado - com exceção de tumores no cérebro. A seleção também deu preferência a pessoas que passaram a se alimentar menos por pelo menos duas semanas, como resultado da doença.
Onze pacientes receberam uma pílula com a substância, a principal responsável pela ação alucinógena das plantas Cannabis. O restante foi medicado com placebos. A pesquisa foi conduzida com a metodologia duplo-cego, pela qual os médicos e os pacientes não ficaram sabendo quem ingeriu as cápsulas com THC e quem tomou as pílulas falsas.
O tratamento durou 18 dias. Cerca de 73% dos pacientes que receberam THC afirmaram estar mais interessados em comida contra apenas 30% dos que ingeriram placebos. A substância também fez os alimentos parecerem ter um gosto melhor para 55% dos voluntários. Só 10% dos que não foram submetidos aos efeitos do THC relataram a mesma satisfação na hora de comer.
O apetite aumentou em 64% dos medicados com a substância e nenhum deles disse estar com menos fome. Já no grupo do placebo, 50% dos pacientes reclamou da perda da vontade de comer e 20% não notaram nenhuma mudança.
A quimioterapia causa perda de apetite nos pacientes porque afeta o cheiro e o gosto dos alimentos. Ao comer menos, os portadores de câncer acabam sofrendo com a diminuição do peso e com quadros de anorexia.
Segundo a médica Wendy Wismer, da universidade canadense, este é o primeiro teste aleatório e controlado a mostrar que o THC aumenta o apetite em pacientes com câncer, além de ajudar no sono e relaxamento. Ela ainda afirma que o trabalho é importante pois não existem, atualmente, tratamentos contra as alterações de sensibilidade provocadas pelas drogas quimioterápicas.
O teste clínico feito pela equipe canadense é de fase 1, com poucos participantes. Novos estudos em humanos - de fase 2 e 3 - são necessários para comprovar a eficiência do THC na melhora do apetite e do sono em pacientes passando por quimioterapia.