O presidente Rouhani, empossado dia 3 de agosto| Foto: Raheb Homavandi/Reuters

A chegada de Hasan Rou­hani à Presidência do Irã tende a resultar em um comportamento mais razoável das partes envolvidas nas negociações em torno do programa nuclear do país. A avaliação é de especialistas em relações internacionais.

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Na terça-feira, menos de 48 horas depois de ter tomado posse, o novo presidente do Irã manifestou a prontidão de seu país para engajar-se novamente nas negociações com as potências internacionais sobre os rumos do programa nuclear da república islâmica. "O Irã está pronto para engajar-se em conversas sérias e substanciais, sem perda de tempo", declarou Rouhani em sua primeira entrevista coletiva como presidente iraniano. Ele aproveitou para manifestar expectativa de que a postura do Ocidente seja "de diálogo, e não de ameaças".

Essa abertura pode ser considerada tudo, menos inesperada. Em junho, ao irem às urnas, os eleitores iranianos priorizaram temas de ordem prática. O apoio à beligerante retórica anti-Ocidente adotada por Ahmadinejad acabou em segundo plano quando confrontado com as dificuldades enfrentadas por uma crescente parcela da população no cotidiano, em especial por causa dos embargos impostos ao Irã pelos Estados Unidos e alguns de seus aliados diante das suspeitas de que o país teria a ambição de desenvolver um programa nuclear bélico. O Irã sustenta que seu programa nuclear é civil e tem finalidades pacíficas, como a geração de energia elétrica e a pesquisa de isótopos medicinais, estando de acordo com as normas do Tratado de Não-Proliferação Nuclear, do qual é signatário.

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Diante disso, o moderado Hasan Rouhani, tido inicialmente como um azarão, consolidou na reta final da campanha o apoio dos ex-presidentes Mohammed Khatami e Akbar Hashemi Rafsanjani. Elegeu-se em primeiro turno, vencendo candidatos conservadores que contavam com a simpatia dos aiatolás. "O povo talvez quisesse alguém mais conciliador, e Rouhani é um exímio negociador. A fama dele nesse aspecto é folclórica, aliás. Talvez até por isso haja toda essa aversão ao Ahmadinejad neste momento", diz Olavo Henrique Furtado, professor de negócios internacionais da Trevisan Escola de Negócios.

Volatilidade

Furtado acredita que a tendência agora é de que um novo processo de negociação comece a tomar forma, mas é impossível fazer qualquer tipo de previsão sobre quando isso ocorreria, especialmente por causa do histórico de volatilidade regional. "Toda vez que surge um fato novo, você abre a porta para um novo tipo de postura. É difícil prever quanto tempo isso pode demorar, mas a janela se abriu e haverá alguma reação imediata, mais à saída de Ahmadinejad do que à eleição de Rouhani", acredita Furtado.

Já o diretor da Campanha Internacional pelos Direitos Humanos no Irã, Hadi Ghae­mi, diz esperar uma abordagem mais razoável das negociações nucleares. "A expectativa é muito grande no Irã, mas um encaminhamento positivo das negociações vai exigir sinceridade dos dois lados, tanto dos norte-americanos quanto dos iranianos", adverte.

É improvável, por exemplo, que a sucessão presidencial resulte em alguma mudança nas posições conhecidas do Irã, como insistir em seu direito de explorar a energia nuclear com fins pacíficos. "O Irã não é um Estado laico. O regime é governado pelos aiatolás. Qualquer postura mais moderna vai sempre esbarrar nessa dicotomia de abertura econômica e questões políticas", afirma Furtado. Para ele, não se deve entender que o novo presidente adote uma postura de mudança radical. "Existe um projeto iraniano, independente de quem seja o presidente, de ser uma potência regional. E isso não vai mudar", observa.

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