A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a aliança militar do Ocidente, realiza sua cúpula de 2023 com a guerra da Ucrânia pautando suas discussões, a exemplo do que ocorreu em 2022, mas com novos desdobramentos decorrentes dos mais de 500 dias de conflito, marca atingida na semana passada.
O encontro será realizado em Vilnius, capital da Lituânia, nesta terça (11) e quarta-feira (12). Confira abaixo os principais pontos a serem debatidos:
Fim da novela turca: sinal verde para a Suécia
Nesta segunda-feira (10), véspera da abertura da cúpula, a Turquia pôs fim a uma novela de meses e finalmente deu aval para a entrada da Suécia na OTAN.
No ano passado, Suécia e Finlândia decidiram abrir mão de décadas de neutralidade militar e solicitaram entrada na aliança após a invasão russa à Ucrânia. O presidente da Turquia, Recep Erdogan, se posicionou contra a adesão dos dois países nórdicos, alegando que ambos abrigavam integrantes de grupos que Ancara considera terroristas.
A aprovação do país era necessária porque novos membros da OTAN só são aceitos quando há decisão unânime entre os países que já a integram. Helsinque e Estocolmo fizeram concessões para vencer a resistência turca e a Finlândia finalmente ingressou na aliança em abril, mas os suecos continuavam na espera.
Uma sinalização positiva havia ocorrido na semana passada, quando um tribunal sueco condenou um homem ligado a uma organização curda, que Ancara, Estados Unidos e União Europeia consideram terrorista, a quatro anos e meio de prisão e expulsão posterior do país.
Porém, dias antes, o governo turco havia ficado furioso com a autorização sueca para a realização de um protesto em que uma cópia do Corão foi queimada em frente a uma mesquita em Estocolmo.
Além disso, de última hora, o presidente turco fez outra exigência. “Primeiro, vamos abrir caminho para a Turquia [ingressar] na União Europeia, depois vamos abrir caminho para a Suécia [na OTAN], assim como abrimos caminho para a Finlândia”, disse Erdogan em entrevista coletiva nesta segunda-feira.
“A Turquia está esperando no portão da União Europeia há mais de 50 anos. [...] Quase todos os países-membros da OTAN são países-membros europeus”, argumentou.
A chantagem turca gerou incômodo entre outros membros da aliança. “A Suécia atende a todos os requisitos para adesão à OTAN. A outra questão [entrada da Turquia na UE] é um assunto que não está relacionado. E é por isso que não acho que deva ser vista como um problema relacionado”, declarou o chanceler alemão, Olaf Scholz.
“Acreditamos que são questões separadas. Há muito tempo apoiamos a aspiração da Turquia de aderir à UE, mas é uma questão separada da adesão da Suécia à OTAN”, afirmou o porta-voz do Departamento de Estado americano, Matthew Miller, na sua entrevista coletiva diária.
Tudo indicava que o impasse continuaria, mas na noite desta segunda-feira (horário de Vilnius), o secretário-geral da aliança militar, Jens Stoltenberg, afirmou em uma entrevista coletiva que Erdogan finalmente havia aceitado encaminhar ao parlamento turco a proposta para permitir a entrada da Suécia.
O político norueguês fez o anúncio após uma reunião com Erdogan e o primeiro-ministro sueco, Ulf Kristersson. Com isso, a última barreira parece ter sido vencida: na semana passada, o governo da Hungria, que também havia se oposto à adesão da Suécia, já havia manifestado mudança de posição.
Entrada da Ucrânia ainda distante
O caso da Ucrânia é ainda mais complicado que o sueco. A OTAN estipula que qualquer agressão a um país-membro é uma agressão à aliança inteira, o que exigiria que ela entrasse diretamente na guerra contra a Rússia caso os ucranianos aderissem à organização, com envio de tropas, ao contrário do modelo atual, em que a OTAN ajuda Kiev com equipamentos militares, inteligência, humanitária e financeiramente, mas não envia efetivo.
Com receio da imprevisibilidade de um confronto direto com a segunda maior potência militar do planeta, muitos integrantes da OTAN não concordam com a entrada ucraniana neste momento.
“Não acho que haja unanimidade na OTAN sobre trazer ou não a Ucrânia para a família da OTAN agora, neste momento, no meio de uma guerra”, disse o presidente americano, Joe Biden, em entrevista à CNN.
“Por exemplo, se isso for feito, então, você sabe – e eu reafirmo –, nós estamos determinados a defender cada centímetro de território que seja território da OTAN. É um compromisso que todos nós assumimos, não importa o que aconteça. Se uma guerra [envolvendo um país-membro] está acontecendo, então estamos todos em guerra. Estaremos em guerra com a Rússia, se for esse o caso [entrada da Ucrânia]”, justificou Biden.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, participará pessoalmente da cúpula da OTAN em Vilnius e Stoltenberg disse nesta segunda-feira que os aliados vão estudar a possibilidade de reduzir o processo de adesão do país de duas para uma única etapa na reunião na Lituânia. Entretanto, enquanto a guerra com a Rússia continuar, as chances de adesão de Kiev seguem pequenas.
Independentemente disso, um dos temas a serem discutidos em Vilnius será garantias de segurança para a Ucrânia pós-conflito – isto é, mesmo que o país não entre na OTAN imediatamente depois, como a aliança ajudaria os ucranianos militar e financeiramente para se preparar para a possibilidade de novos ataques russos.
Mais gastos militares
Outra consequência gerada pela guerra na Ucrânia é que a OTAN deve delinear seus primeiros planos de defesa pós-Guerra Fria, em caso de agressão russa aos membros da aliança.
Para isso, deve ser definido um acordo para todos os países-membros chegarem a 2% do PIB em gastos com defesa, meta que havia sido traçada em 2014 para ser atingida em uma década. Agora, esse percentual mínimo se tornaria obrigatório. Segundo informações da Reuters, apenas 11 dos 31 países da aliança cumprem esse patamar.
Ainda assim, uma corrida armamentista, estimulada principalmente pela guerra na Ucrânia e pelas tensões no leste asiático, parece estar em curso: gastos militares em todo o mundo atingiram um novo recorde na pesquisa anual realizada pelo Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri, na sigla em inglês), divulgada em abril.
Os números de 2022 indicaram que o gasto militar global aumentou 3,7% em termos reais em 2022 e chegou a US$ 2,24 trilhões, o maior já apontado na pesquisa do Sipri. (Com Agência EFE)
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