A disputa entre Japão e Coreia e do Sul tomou um rumo trágico nesta sexta-feira (19) quando um sul-coreano de 78 anos, de sobrenome Kim, ateou fogo no próprio corpo em frente à embaixada japonesa em Seul. Segundo a imprensa local, ele teria dirigido até lá e colocado fogo em si mesmo dentro do próprio carro. O homem chegou a ser levado para o hospital, mas não sobreviveu.
As autoridades disseram que não há evidências claras de que a autoimolação tenha sido motivada pelo conflito entre Seul e Tóquio, mas confirmaram que o homem havia ligado para um amigo na quinta-feira, expressando rancor contra o Japão. Outro indicativo de que se trate de um ato de ato de protesto é que, segundo relato da família à polícia, o sogro dele havia sido vítima de trabalho forçado durante o domínio colonial japonês sob a península coreana, entre 1910 e 1945.
Recentemente houve uma escalada de tensões entre os dois países, com disputas no campo diplomático e econômico que estão ligadas à colonização japonesa da Coreia do Sul.
Como começou a disputa atual?
Isso ocorreu depois que um tribunal de Seul ordenou às empresas japonesas que pagassem uma compensação pelo uso de trabalho forçado durante o domínio colonial japonês da península coreana. O Japão sustenta que a compensação pelo trabalho forçado foi totalmente resolvida em um pacto assinado em 1965, o qual restaurou os laços diplomáticos entre os países.
Irritado com a decisão, o Japão impôs restrições às exportações de materiais que as empresas sul-coreanas usam para fabricar chips de smartphones e outros produtos de tecnologia - entre os principais itens de exportação do país, incluindo alguns que são usados em dispositivos da Apple. Autoridades japonesas também acusaram Seul de violar sanções internacionais que restringem o comércio com a Coreia do Norte.
"Com relação aos problemas dos trabalhadores em tempo de guerra, ficou claro que a Coreia do Sul não cumpre os compromissos internacionais. É natural supor que também não cumpra as promessas de controle de exportação", disse o primeiro-ministro Abe Shinzo. Segundo ele, as restrições às exportações derivam de preocupações sobre o controle de exportação da Coreia do Sul e não estão relacionadas à disputa trabalhista, colocando as negociações em trilhos separados.
Como isso tem afetado a diplomacia?
O ministro de Relações Exteriores do Japão, Taro Kono, convocou, nesta sexta-feira (19), o embaixador da Coreia do Sul no país, Nam Gwan-pyo, e acusou Seul de violar a lei internacional ao se recusar a participar de um painel de arbitragem para resolver uma disputa entre os dois países sobre trabalho forçado durante a Segunda Guerra Mundial.
Kono disse que o Japão "tomará as medidas necessárias" contra a Coreia do Sul se os interesses das empresas japonesas forem prejudicados. "A ação tomada pelo governo sul-coreano é algo que anula completamente a ordem da comunidade internacional desde o fim da Segunda Guerra".
Kono pediu que o governo sul-coreano tome medidas imediatas para interromper o processo judicial, sob o qual os demandantes do procedimento estão se preparando para apreender os ativos de empresas japonesas como a Mitsubishi Heavy Industry. Nam, por sua vez, defendeu a postura de Seul e mencionou a proposta sul-coreana de criar um fundo conjunto como forma de resolver a disputa. Kono, contudo, disse que o governo japonês havia rejeitado a ideia e criticou Nam por ser "rude" por sugeri-la novamente.
E a economia?
A questão passou de uma disputa diplomática regional para uma preocupação comercial global devido às restrições impostas pelo Japão. Se ela não for controlada, analistas alertam para uma guerra econômica aberta entre os dois principais aliados dos Estados Unidos.
Apesar de as restrições comerciais japonesas não chegarem ao ponto de um embargo total, elas exigem que os exportadores obtenham licenças específicas cada vez que tenham de exportar para a Coreia do Sul, gerando burocracia e longo tempo de espera.
“Se o suprimento de peças ou materiais japoneses for interrompido e afetar a produção de fabricantes de chips sul-coreanos, como a Samsung Electronics, as turbulências vão se espalhar por todo o mundo”, alertou um editorial da revista Nikkei Asian Review, referindo-se aos prováveis efeitos sobre empresas como a americana Apple e a chinesa Huawei.