A região de Tarija, onde fica a maior riqueza de gás da Bolívia, começou nesta quarta-feira (25) uma paralisação cívica de 48 horas em protesto contra a falta de atenção dada pelo governo Evo Morales à crise energética. O movimento soma-se, assim, ao bloqueio de estradas que acontece desde a semana passada na região fronteiriça com a Argentina.
"Quero afirmar que esta medida de pressão está sendo realizada de maneira disciplinada, mas pode se tornar uma paralisação por tempo indefinido", informou à agência France Presse Rynaldo Bayard, líder do Comitê Cívico de Tarija, organizador do protesto.
Os manifestantes exigem que o presidente amplie a capacidade do gasoduto até a cidade de Tarija - capital do departamento de mesmo nome - a partir dos reservatórios de gás localizados mais a leste, nas proximidades da fronteira com Paraguai e Argentina.
Segundo Bayard, os habitantes e as indústrias da cidade sofrem com a carência de gás domiciliar e com o racionamento de energia elétrica. O líder afirmou ainda que, com a crise energética, as empresas reduziram 40% de sua produção.
Para ele, é inconcebível que a região mais rica em hidrocarbonetos sofra com falta de gás e criticou a política do presidente, "que não se empenhou com um empreendimento real para desenvolver a região", cujo prefeito, Mario Cossío, é opositor ao regime.
A Bolívia é a segunda potência de gás da América do Sul, apenas atrás da Venezuela, com reservas de 1,55 trilhão de metros cúbicos; 80% deste total estão em Tarija.
Os manifestantes se opõem também ao seguro-saúde anunciado pelo presidente, que utilizaria recursos regionais provenientes de um imposto sobre hidrocarbonetos. Também são contrários à política oficial de distribuição de terras, que afetaria grandes latifundiários.
Morales e o ministro de Hidrocarbonetos, Carlos Villegas, convidaram os líderes a viajarem a La Paz para negociarem uma solução "estrutural e definitiva para a execução da terceira fase do gasoduto Villamontes Tarija".
O plano do governo estabelece investimento de 160 milhões de dólares que, segundo Villegas, é o maior dos últimos 25 anos para ampliar a capacidade do gasoduto exigido.
Há uma semana Tarija está bloqueada por uma mobilização de agricultores que exigem o repasse de recursos para obras sociais e a execução de um plano de emergência para famílias danificadas pelas geadas.
Os líderes civis ameaçaram usar a força para obrigar os agricultores a suspenderem o bloqueio das estradas.