Washington e Cairo - O vice-presidente do Egito, Omar Suleiman, "é o chefe de Estado de facto" do país árabe depois de o presidente Hosni Mubarak ter afirmado em discurso que havia delegado seus poderes. A análise é do embaixador egípcio em Washington, Sameh Shoukry.
"O presidente disse muito claramente que estava transferindo toda a sua autoridade presidencial ao vice-presidente", assegurou Shoukry em entrevista concedida à emissora norte-americana de televisão CNN.
"O presidente Mubarak transferiu os poderes da presidência ao vice-presidente, que agora detém toda autoridade de presidente. Portanto, podemos dizer que o presidente (Mubarak) é o presidente de direito e que o vice-presidente (Suleiman) é o presidente de facto", afirmou. "Suleiman ficará com o comando do exército, pois a autoridade foi plenamente delegada", acrescentou.
Suleiman era chefe da inteligência egípcia antes de sair das sombras e ser nomeado vice-presidente de Mubarak. Mais confortável em um terno e gravata do que em um uniforme, Suleiman sempre vestido de forma impecável é visto como um homem leal a Mubarak. Ele também é um negociador discreto que prefere trabalhar nos bastidores um talento que será colocado à prova ao conduzir o país em meio a manifestações e os muito desafios que o mais populoso país árabe terá de enfrentar.
Suleiman tem 77 anos, recebeu treinamento militar na extinta União Soviética, e foi por anos uma figura enigmática para o mundo e no Egito, onde todas as atividades militares eram rodeadas de mistério. Mas ele conseguiu ampliar sua faceta pública nos últimos anos, sendo apontado até mesmo antes das insurreições como um potencial sucessor de Mubarak.
Greves
A missão de Suleiman para apaziguar o país é quase impossível. Milhares de trabalhadores egípcios participaram ontem de greves, ocupações e protestos por aumento de salários e melhores condições de trabalho, colocando mais pressão sobre o governo.
Até ontem, os movimentos grevistas pareciam ter um elemento de oportunismo, com os trabalhadores pressionando por suas demandas num momento em que o governo já está preocupado com os protestos contra Mubarak. As mais de duas semanas de protestos antigoverno, porém, estimularam os trabalhadores egípcios a pressionar por antigas demandas. "Essa pode ser a segunda onda desta revolução. E definitivamente ela cria uma nova realidade com qual terá de lidar qualquer governo futuro", disse Gamal Soltan, do Centro al-Ahram para Estudos Políticos e Estratégicos.
Na esperança de estabelecer elos com os trabalhadores descontentes, os ativistas pró-democracia afirmaram que estavam formando comitês cujo objetivo era organizar as greves, as passeatas e ocupações pacíficas de prédios estatais sem provocar respostas violentas das autoridades.