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Por que será que os nossos líderes não conseguem imaginar nada além de um futuro de privação e controle?
Veja, todo mundo já acreditou em uma ou outra teoria da conspiração. Os americanos confessam exatamente isso em pesquisas. Em 2018, 66% dos Democratas em uma pesquisa do YouGov disseram que era crível que a Rússia tivesse interferido na contagem de votos em 2016 para eleger Trump. Em 2022, o YouGov pesquisou os Republicanos e só 22% disseram que a eleição de Joe Biden foi legítima.
Estranhamente, esses resultados inquietantes de pesquisas são em si um tipo de conspiração em voga. Eis a minha teoria. Sem qualquer coordenação entre eles, os respondentes a essas pesquisas usam a vantagem do anonimato para dizer que acreditam no pior a respeito de seus inimigos políticos. Ao expressar dessa forma a sua animosidade política, acabam alimentando-a pelo outro lado. Esses respondentes partidarizados criam desinformação por acidente a respeito de si próprios, isto é, que eles são malucos com quem não se pode conversar racionalmente, só derrotar. Assim, indivíduos agindo racionalmente acabam produzindo uma maior irracionalidade.
E isso me leva à reunião de muitos chefes de Estado, chefes executivos de empresas e outras pessoas de elite no Fórum Econômico Mundial (WEF), que está acontecendo mais uma vez em Davos, Suíça. O Fórum Econômico Mundial é fonte permanente para teóricos da conspiração e adeptos do QAnon, tendo superado há tempos a Comissão Trilateral, o Grupo Bildeberg e o Bohemian Grove. [N. do T.: QAnon se baseia na alegação de que uma ou mais pessoas com codinome “Q” revelaram que um grupo de pedófilos poderosos que extraem substâncias misteriosas de crianças para sua própria longevidade tramaram contra a reeleição de Trump; Comissão Trilateral é uma ONG fundada em 1973 pelo banqueiro e filantropo David Rockefeller para estimular cooperação entre o Japão, a Europa ocidental e os EUA; Grupo Bildeberg é uma conferência anual iniciada no Hotel Bildeberg nos Países Baixos em 1954 para evitar guerras mundiais e fomentar o livre mercado no mundo; Bohemian Grove é um acampamento na Califórnia pertencente ao “Clube Boêmio”, um clube exclusivamente masculino que se reúne desde 1899 por duas semanas durante o verão, tem homens ricos e famosos, da cultura e da política, como membros.]
A confabulação de 2020 em Davos foi chamada de “Great Reset” [“Grande Recomeço” ou “Grande Reajuste”] e promovia as ideias do industrialista alemão Klaus Schwab para a reconstrução da sociedade e da economia depois da pandemia de Covid-19. Foi dos vídeos esquisitos de promoção do WEF, que faziam “Oito Previsões para o Mundo em 2030”, que veio a frase alarmante “Você não terá nada e será feliz”.
As outras previsões diziam que haverá novos impostos climáticos, que você terá órgãos feitos em impressoras 3D em vez de doados, que os imigrantes serão bem recebidos, e que você provavelmente não comerá muita carne. A palavra “reajuste” começou a aparecer em discursos do Joe Biden, do primeiro-ministro canadense Justin Trudeau e da primeira-ministra neozelandesa Jacinda Ardern. Pode-se ver resistência ao estilo de vida descrito pelo Grande Reset sempre que um jovem conservador diz “Não viverei em uma cápsula. Não comerei insetos.”
Davos é uma valiosa oportunidade de networking para os seus participantes. Permite que os chefes de empresas tenham uma boa chance de fazer lobby junto ao governo americano para ganhar ajuda e advertir o primeiro-ministro irlandês contra aumentar impostos, tudo no mesmo almoço. Mas as obsessões de Schwab com a cooperação política global, com o ambientalismo e “a quarta revolução industrial” — a ideia dele de que o próximo grande salto na produtividade capitalista se dará pela integração da tecnologia com a própria pessoa humana — garante que as apresentações serão um misto de globalismo utópico que de alguma forma combina visões de austeridade global (para reduzir emissões de carbono) com pesadelos a respeito de um punhado de líderes corporativos e políticos terem acesso direto à tua amígdala.
Eis a empolgação de um executivo da Pfizer com a ideia da obediência humana global ao tomar pílulas da Pfizer:
“O presidente executivo da Pfizer Albert Bourla explica uma nova tecnologia da Pfizer para uma plateia em Davos: ‘pílulas ingeríveis’ — uma pílula com um pequeno chip que manda um sinal sem fio às autoridades relevantes quando o fármaco tiver sido digerido. ‘Imaginem a conformidade [dos pacientes com ordens médicas]’, diz ele.”
— Jeremy Loffredo, no Twitter, 20 de maio de 2022.
Ou veja o presidente de uma das maiores multinacionais chinesas imaginando um futuro em que todos os seus movimentos e tudo o que você come são rastreados para dar a você uma nota que reflita o quão ruim é a sua vida para o planeta.
“O presidente do Grupo Alibaba, J. Michael Evans, no Fórum Econômico Mundial, orgulha-se do desenvolvimento de um ‘rastreador de pegada individual de carbono’ para monitorar o que você compra, come e para onde viaja.”
— Andrew Lawton, no Twitter, 24 de maio de 2022.
E eis o presidente executivo da Microsoft contando como os desenvolvedores de software estão ganhando assistência da inteligência artificial enquanto escrevem seus códigos. De forma que talvez todos os trabalhos de escritório, ou todos os humanos, em breve terão um “copiloto para toda tarefa cognitiva”.
“Satya Nadella [CEO da Microsoft] diz que ‘ter um copiloto para toda tarefa cognitiva está bem ao seu alcance’ graças ao poder da inteligência artificial. Assista à sessão ao vivo aqui.”
— Fórum Econômico Mundial, no Twitter, 24 de maio de 2022.
Pensar-se-ia que um futuro tecnológico com impressão 3D finalmente aumentaria a produtividade de grandes artesãos, que permaneceu estagnada por séculos e se tornou tão proibitiva que essas artes e profissões estão sendo perdidas completamente para produtos pré-fabricados. Uma descoberta desse tipo permitiria a reconstrução do ambiente físico nos estilos mais luxuosos como o georgiano, Tudor ou espanhol colonial, porém disponíveis para as massas. As fazendas e pastagens praticamente se administrariam sozinhas, fazendo alimentos melhores, mais baratos e entregando-os mais frescos. Os grandes educadores dariam aulas a todos aqueles que as quisessem. As novas descobertas tecnológicas limpariam a atmosfera.
Mas de forma nenhuma é isso o que estão imaginando. Para a davosia [N. do T.: trocadilho com burguesia], o futuro é que as suas tripas lhe delatem e então chegue uma mensagem vibrando em todos os dispositivos da casa e alertando a seus bichos de estimação que saiam da sala enquanto ela é feita de câmara de gás sedativo para que você seja dopado em conformidade com a Pfizer. Depois, uma multinacional chinesa lhe informa que o incidente do gás sedativo e do esquadrão da Pfizer trouxe sérias penalidades à sua nota de carbono, dessa forma adiando em muitos anos a mais a sua tão esperada porção racionada de carne. Como auxílio no futuro, o copiloto cognitivo da Microsoft tomará para si ainda mais responsabilidades e tarefas antes creditadas a você.
Na verdade, é uma crise para as elites globais que todas as ideias que têm para a solução de problemas vão no sentido de subtrair mais da nossa humanidade e mais da liberdade da nossa civilização. A única visão que têm do futuro é a de uma população dopada, alimentada à base de comida falsa, entretida por telefones grudados em sua cara e controlada por máquinas. Elas veem a nossa reação negativa a isso e imaginam só mais truques elaborados para nós, e sonham com labirintos insolúveis nos quais possam nos jogar.
Essas ideias parecem, quase ao pé da letra, os clichês das primeiras linhas de um rascunho para um filme distópico, as palavras metidas na boca de personagens para que sejam identificados como os supervilões do enredo antes que o James Bond, ou o Jason Bourne, ou o Ethan Hunt apareça para empalá-los com seus talheres caros.
E eu digo essas coisas com toda a seriedade. Como os respondentes das pesquisas do YouGov, as elites de Davos se apresentam como vilãs incorrigíveis. As pessoas que falam desse jeito estão quase implorando por homens de sangue quente que se levantem raivosos para destituí-las violentamente. Sério. Parece até um desafio. Preocupo-me que o meu próprio escore oculto de crédito social agora esteja sendo penalizado severamente só por notar que essas pessoas estão dizendo coisas tão doidas que a propulsão narrativa da história na qual estão se inserindo só pode terminar com o seu arrependimento e conversão, ou com a sua deleitosa derrocada.
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Michael Brendan Dougherty é redator sênior do National Review Online.