A relações entre os amigos de longa data, Estados Unidos e Arábia Saudita, tende a esfriar depois que a polícia turca informou que o jornalista Jamal Khashoggi, que vivia em auto-exílio nos Estados Unidos, provavelmente foi assassinado dentro da embaixada de seu país em Istambul, na Turquia. A Arábia Saudita nega a acusação e o governo turco aguarda a conclusão da investigação.
Khashoggi, 59, colunista do jornal Washington Post, era um dos mais proeminentes críticos do reinado do príncipe Mohammed bin Salman (MBS, com é conhecido). Ele foi ao consulado saudita na terça-feira passada (2) para pegar um documento que certificaria que ele havia se divorciado de sua ex-mulher, o que permitiria que ele casasse com sua noiva, a turca Hatice Cengiz. Ela contou às autoridades que, no dia do desaparecimento, o acompanhou até a entrada do prédio, por volta das 13h, e não mais o viu.
“Ele não é um traidor, ele é alguém que ama o seu país", disse Hatice chorando em uma entrevista fora do consulado.
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A Turquia pediu permissão para efetuar buscas no consulado da Arábia Saudita em Istambul. A avaliação inicial da polícia é que Khashoggi foi assassinado no prédio por uma equipe de 15 pessoas da Arábia Saudita. “Acreditamos que o assassinato foi premeditado e o corpo foi posteriormente retirado do consulado", disse um dos dois funcionários turcos no sábado (6), que não quis se identificar. De acordo com um oficial dos EUA, informado por colegas turcos, o corpo de Khashoggi provavelmente foi desmembrado, removido em caixas e levado para fora do país.
Oficialmente, a Turquia não confirmou se Khashoggi foi ou não assassinado. No domingo (7), o presidente Recep Tayyip Erdogan afirmou que espera a conclusão da investigação. "Estou acompanhando o assunto e seja qual for resultado, comunicaremos ao mundo", declarou à imprensa. "Mas tenho esperança", acrescentou.
Em uma entrevista à agência Bloomberg na sexta-feira (5), o príncipe herdeiro saudita disse que Jamal Khashoggi realmente "entrou" no consulado, mas partiu logo em seguida.
Cobrança nos EUA
Enquanto o reino saudita nega as acusações da polícia e de altos funcionários do governo turco, o governo americano falou pouco sobre o caso. A Casa Branca apenas expressou preocupação com o destino de Khashoggi, mas o seu desaparecimento pode desencadear uma nova rodada de pressão do Congresso para uma reavaliação do relacionamento com a Arábia Saudita.
"Se esta notícia profundamente perturbadora for confirmada, os Estados Unidos e o mundo civilizado devem responder fortemente, e vou rever todas as opções no Senado", tuitou no domingo o senador Marco Rubio, republicano da Flórida.
Recentemente, legisladores republicanos e democratas, há muito tempo desconfiados do extremismo religioso saudita e de seus laços históricos com o terrorismo, têm feito críticas mais incisivas em relação às ações sauditas na guerra civil do Iêmen e em seu próprio país. No mês passado, os parlamentares foram dissuadidos pela administração de levar adiante um projeto que previa interromper as vendas de equipamentos militares dos EUA, bem como a assistência ao reino, que é o maior comprador de equipamentos de defesa americanos no mundo.
Se o suposto assassinato de Khashoggi for confirmado, esse escrutínio político pode se aprofundar. Segundo o jornalista Ishaan Tharoor, do Washington Post, o caso será lembrado toda a vez que houver uma discussão sobre os laços americanos com os sauditas. Comentaristas americanos que conduziram longas entrevistas com o príncipe herdeiro como parte da campanha de relações públicas de Riad, no início do ano, já deram o tom, exigindo ação.
"O presidente Trump deve pedir aos sauditas que prestem conta completa e confiável do que aconteceu com Jamal Khashoggi dentro de seu consulado em Istambul. E nos diga o que ele também sabe", tuitou o jornalista Thomas L. Friedman.
Contradições do reinado
Desde que se tornou o herdeiro do trono saudita no ano passado, o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman divulgou seus planos de reforma, prometendo tornar seu país mais liberal. Suas propostas foram recebidas com muitos aplausos de uma série de comentaristas americanos, mas o reinado de MBS também o viu aterrorizar rivais e prender inúmeras feministas e ativistas da sociedade civil, incluindo alguns que agora enfrentam a pena de morte.
Analistas de geopolítica argumentam que isso faz parte da estratégia de MBS para se consolidar ainda mais o poder.
"Ele queria que todos entendessem que as mulheres estavam autorizadas a dirigir não porque fizeram campanha por isso, mas porque seus governantes haviam promulgado um decreto", escreveu Lindsey Hilsum, editora internacional do Channel 4 News, da Grã-Bretanha. "A questão estava clara: a desobediência civil não trará resultados; as mudanças virão apenas da submissão a um monarca benigno que decidirá o que é melhor".
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