A hesitação que fez com que o presidente Donald Trump demorasse dois dias para condenar diretamente a violência praticada por supremacistas brancos durante os protestos em Charlottesville, na Virgínia, no sábado (12), só aumentou o seu desafio de se distanciar publicamente do grupo.
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Desde a campanha, membros da chamada alt-right (ou direita alternativa) -movimento com o qual se identificam supremacistas brancos, grupos homofóbicos e anti-imigrantes- flertam com Trump, que também não escondeu sua simpatia pelo movimento ao escolher como seu estrategista-chefe Steve Bannon, que comandava o site alt-right Breitbart.
A sombra da associação com os supremacistas brancos, cuja marcha em Charlottesville foi batizada de "Unir a Direita", incomoda mais lideranças republicanas e conservadoras tradicionais, que fizeram questão de logo condenar o que chamaram de "terrorismo doméstico" cometido pelos fascistas.
"Não há espaço para supremacistas brancos, neonazistas ou KKK no Partido Republicano", disse a presidente do Comitê Nacional Republicano, Ronna McDaniel, nesta segunda (14).
No site da ACU (União Conservadora Americana), principal organização dos conservadores, o banner de mais destaque diz que "os supremacistas brancos de Charlottesville são terroristas domésticos".
Em fevereiro, a conferência anual da ACU já mostrava como a alt-right era vista como uma pedra no sapato pelos conservadores tradicionais e os republicanos. Richard Spencer, um dos principais nomes da alt-right, que não havia sido convidado, por exemplo, foi expulso do congresso -mas não sem antes ser assediado por participantes querendo tirar selfies.
"O movimento supremacista branco é um grande desafio para os conservadores e republicanos, em parte porque há um vácuo de ideias no movimento conservador hoje", diz John White, professor da Universidade Católica da América, em Washington.
"O que significa o conservadorismo do século 21? A falta de respostas convincentes a essa pergunta dá espaço para a alt-right e os supremacistas."
Número insignificante
Para o especialista Michael Barone, do "think tank" conservador American Enterprise Institute, no entanto, os supremacistas e neonazistas são um grupo "incrivelmente pequeno" que só teve publicidade "porque a imprensa americana gosta de associá-los com os conservadores e republicanos".
"Até onde sei, não há um número significante de conservadores ou republicanos que têm qualquer contato com eles ou compartilhe suas ideias", disse Barone. "Eu acredito que alguns deles tenham votado em Trump, mas você não tem controle sobre quem vota em você", opinou.
David Duke, um ex-líder do KKK que participou da marcha em Charlottesville, escreveu em seu perfil no Twitter, ainda no fim de semana, que Trump não deveria ceder às pressões para condenar a ação dos manifestantes e lembrou o apoio dado a ele pelo grupo durante a eleição.
"Eu recomendaria que você se olhasse bem no espelho e se lembrasse que foram os americanos brancos que te colocaram na Presidência, não os esquerdistas radicais", disse.
A presença na Casa Branca de Bannon também promete ficar ainda mais incômoda agora. Nesta segunda, a líder democrata da Câmara, Nancy Pelosi, disse que Trump deveria demitir Bannon após a violência do fim de semana.
Foi só na segunda que Trump condenou a violência causada por "criminosos" em nome do racismo em Charlottesville, na Virgínia, no último sábado, e disse que o KKK (Ku Klux Klan), os neonazistas e os supremacistas brancos são "repugnantes".
Violência
Um dos participantes da marcha, James Fields, 20, avançou com um carro sobre um grupo que protestava contra os extremistas, matando a jovem Heather Heyer, 32, e ferindo 19. Outras 15 pessoas já tinham ficado feridas em um confronto entre os dois grupos de manifestantes.
"O racismo é maligno. E aqueles que causam a violência em seu nome são criminosos e bandidos, incluindo o KKK, os neonazistas e os supremacistas brancos, e outros grupos de ódio que são repugnantes a tudo o que apreciamos como americanos", afirmou, após se reunir com o secretário de Justiça, Jeff Sessions, e o novo diretor do FBI (polícia federal americana), Christopher Wray.
Richard Spencer disse não ver a declaração feita por Trump como uma crítica à marcha da qual fez parte no fim de semana. "Eu não acho que ele nos condenou. Ele disse 'nacionalista branco' [como Spencer se identifica]? 'Racista' significa quem tem um ódio irracional das pessoas. Não acho que ele estava falando de nenhum de nós."
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