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Violência

Suriname prende 35 por atacar brasileiros

Brasileiros e chineses descansam em local improvisado pelo exército surinamês: relatos de violência sexual e roubos | Hugo Den Boer/Reuters
Brasileiros e chineses descansam em local improvisado pelo exército surinamês: relatos de violência sexual e roubos (Foto: Hugo Den Boer/Reuters)
Veja onde fica o Suriname |

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Veja onde fica o Suriname

Foram presos ontem mais 13 suspeitos de terem participado do ataque contra garimpeiros brasileiros em Albina, no norte do Suriname, elevando para 35 o número de maroons detidos até agora, segundo o chefe de polícia surinamês Krishna Mathoera-Hussainali.

Ainda ontem, a chanceler do país, Lygia Kraag-Keteldijk, fez um relato do caso ao secretário-geral e ministro interino do Itamaraty, Antonio Patriota, sobre as medidas que o governo do país tem tomado para ajudar os garimpeiros brasileiros vítimas do ataque do último dia 25.

Após o telefonema, Patriota comentou com assessores que os surinameses têm sido "muito cooperativos" no caso.

Duas garantias foram especialmente bem recebidas pelo Brasil: o governo do Suriname está bancando as despesas médicas dos feridos e deu garantias de que não haverá retaliações ou discriminações contra brasileiros envolvidos, pelo fato de estarem no país ilegalmente.

A ministra também pediu formalmente desculpas pelo ocorrido e manifestou "constrangimento" – na versão da assessoria do Ita­ma­­raty –, dizendo a Patriota que a comunidade brasileira no país é razoavelmente grande, tem a simpatia dos locais e é bem recebida pe­­lo governo. O episódio foi considerado inesperado e um caso à parte.

O Itamaraty nega que tenha havido mortes e confirma que há quatro feridos em estado preocupante, mas nenhum deles correndo risco de morte.

"Focos isolados"

Para a antropóloga holandesa Mar­jo de Theije, o ataque aos garimpeiros brasileiros no Suriname expôs um foco de tensão com os maroons – descendentes locais de quilombolas –, mas foi um episódio isolado que não representa uma indisposição étnica generalizada entre os grupos.

Theije, que há inco anos estuda a atividade de garimpeiros brasileiros no Suriname, visitou ontem o entreposto em Albina, na fronteira com a Guiana Francesa.

"Há um certo desagrado de al­­guns maroons com o sucesso econômico dos brasileiros no garimpo, mas o que se fala é que os agressores são um grupo pequeno deles. Não creio que o interior do país vá se ‘incendiar’ a partir de agora", disse.

Até porque, afirma Theije, a tendência desde 1992 – ano que marcou o fim de uma guerra civil de sete anos e o início do boom do ouro no país – sempre foi a de integração entre brasileiros e maroons na economia informal da mineração.

Descendentes de escravos fugidos, os maroons representam 15% da multiétnica sociedade do Suriname. O nome vem do inglês "marronage’’ – processo de fuga da escravidão- e do espanhol "cimarrón" – escravos que se refugiavam em morros. Na versão aportuguesada, virou "marrom". Brasileiros também falam em "morenos" e "pretos da terra".

Embora haja maroons na costa, a região mais urbanizada, onde fica Paramaribo, o grupo historicamente ocupou o interior de selva do país, diferentemente dos crioulos, o segundo grupo étnico, de descendentes de escravos que ficaram nessa condição – e na costa- até a abolição do sistema, em 1863.

Criminalidade

Com isso, os maroons em geral estiveram alheios ao governo central, tradicionalmente ocupado pela elite crioula – os partidos no país têm forte componente étnico. Isso explica, grosso modo, a guerra civil que opôs insurgentes maroons ao governo de 1986 a 1992 e isolou ainda mais o grupo.

Nesse aspecto, afirma Theije, brasileiros e maroons têm um ponto em comum. "Os maroons também são alvo de preconceito na capital. São vistos como mais brutos, sem estudo, propensos ao crime", afirma.

Divididos em seis tribos, os maroons hoje participam, com três ministérios, do governo de Ronald Venetiaan, do partido crioulo NPS. Reeleito em 2005, Venetiaan perdeu maioria no Legislativo por insatisfação popular com a economia e fechou um acordo com a A-1, que une três siglas maroons.

Mas a política permanece distante das áreas de garimpo. Sem posse formal das terras, os maroons se consideram os donos por direito e costumam cobrar pelo uso dos garimpos.

Os arranjos na economia do garimpo ficam à margem da lei. Brasileiros não podem ter concessões de lavra, mas alocam sua mão-de-obra livremente. "O governo permite isso porque não tem recursos para regular essas áreas", diz Theije.

Para ela, os brasileiros levaram avanços ao garimpo surinamês, como bombas hidráulicas, mas também mais violência, com a disseminação do uso de álcool e drogas.

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